Dinossauro cearense: Alemanha confirma investigação do caso Ubirajara e não descarta medidas legais

O caso Ubirajara, um fóssil cearense retirado por vias suspeitas do Brasil em 1995, completou um ano neste dezembro

22:18 | Dez. 17, 2021

Por: Catalina Leite
Ilustração do artista Artur Victor (@artur.vict no Instagram) para o movimento UbijaraBelongsToBR. (foto: Artur Victor)

O Ministério de Ciência, Pesquisa e Arte do estado de Baden-Wurttemberg, na Alemanha, respondeu pesquisadores sobre o caso do dinossauro cearense Ubirajara jubatus, envolvido em uma suspeita de tráfico de fósseis. Por meio de carta, o ministério afirmou estar investigando o caso e não descarta a possibilidade de tomar medidas legais.

O posicionamento veio após carta publicada na revista científica Nature Ecology & Evolution por paleontólogos do Brasil e da Alemanha, pedindo pela repatriação de fósseis. Segundo o paleontólogo Juan Cisneros (UFPI), um dos autores do artigo brasileiro, o estado alemão informou na carta-resposta que o pesquisador Eberhard Frey, envolvido no estudo do Ubirajara, confessou ter dito informações enganosas sobre a procedência do fóssil.

Desde 2020, Frey afirmava aos veículos brasileiros que ele tinha permissão para exportar o fóssil do Brasil para a Alemanha em 1995. Mostrou, inclusive, um documento que supostamente comprovaria a fala. No entanto, paleontólogos brasileiros e o próprio Ministério Público Federal do Ceará (MPF-CE) entendiam que as informações da declaração eram vagas e insuficientes para uma exportação internacional.

Depois, em outubro de 2021, o ministério alemão declarou à revista Science que o fóssil tinha sido exportado em 2006 por uma empresa privada e, somente em 2009, o material teria sido adquirido pelo Museu Estadual de História Natural Karlsruhe (SMNK). Agora, o posicionamento do órgão é outro.

“O mais importante é o reconhecimento, inédito por parte do governo alemão, de que existe um problema envolvendo a chegada irregular de um fóssil proveniente do Brasil”, destaca Cisneros.

“Em segundo lugar, o ministério reconhece que há responsabilidade por parte de um funcionário deles, o paleontólogo Eberhard Frey. Isto é inédito, nunca um órgão do governo desse país tinha admitido isso. E nós sabemos bem que este senhor está envolvido em numerosos casos de fósseis traficados que tiveram como destino o museu no qual ele é curador”, comemora o pesquisador.

A resposta da Alemanha vem exatamente um ano após o início do caso Ubirajara jubatus, ao qual O POVO acompanha o caso desde então, pela matéria Paleontólogos questionam procedência de fóssil cearense recém-descrito por estrangeiros. “A resposta do ministério chega num momento simbólico ao completar-se um ano da publicação dessa pesquisa vergonhosa por parte da equipe de Frey e dá um gás aos nossos esforços de repatriação, não apenas do dinossauro "Ubirajara" como de muitos outros fósseis que saíram ilegalmente do Brasil e se encontram na Alemanha”, afirma Cisneros.

A iniciativa de enviar a carta ao ministério alemão partiu dos paleontólogos Aline Ghilardi (UFRN), Juan Cisneros (UFPI), Nussaïbah Raja (Universidade de Erlangen-Nuremberga, da Alemanha) e do pesquisador de Direito Internacional, Paul Stewens (Alemanha).