Dia da Mulher: entenda como surgiu o 8 de março
O Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 8 de março, é uma data em alusão à luta das mulheres por igualdade e equidade em todo o mundoAnualmente, no dia 8 de março, comemora-se o Dia Internacional das Mulheres, uma data criada para celebrar e relembrar as conquistas e os sacrifícios feitos por gerações de mulheres. O dia marca as lutas pela igualdade e pela equidade entre os sexos, destacando o reconhecimento feminino na sociedade.
Oficialmente, o Dia Internacional das Mulheres só “nasceu” em 1975, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a reconhecer o dia 8 de março como um feriado dedicado à causa. No entanto, historicamente, as raízes da data são mais antigas.
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Dia da Mulher: qual a origem do 8 de março?
A primeira celebração de que se há registro de um dia dedicado às mulheres foi há mais de 100 anos, em 1908, quando 15 mil mulheres nova-iorquinas marcharam pelas ruas da cidade exigindo melhores condições de trabalho, como a redução da jornada e o aumento dos salários, além do direito ao sufrágio, ou voto.
A escolha do dia 8 de março, ou “8M”, como se tornou conhecido nos últimos anos, não tem um motivo fixo por trás, mas a data acabou sendo adotada após eventos históricos na Rússia, que efervescia em meio a uma revolução.
Em 1917, a guerra resultou em uma greve por parte das mulheres, que exigiam comida e a paz, parando de trabalhar por quatro dias.
Após esse período, o czar — ou imperador — russo abdicou do posto, e o governo que o substituiu permitiu que as mulheres participassem das eleições.
Assim, o dia de início da greve das mulheres, no dia 23 de fevereiro no calendário juliano, foi escolhido como o Dia Internacional das Mulheres. No nosso calendário, o gregoriano, utilizado na maior parte do mundo, a data equivalente é mais reconhecida: dia 8 de março.
Em diversos países, a data é também um feriado, resultando na diminuição da jornada de trabalho ou em eventos especiais direcionados para as mulheres.
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Dia da Mulher: a data é feriado?
No Brasil, a data não é um feriado nacional, mas está no calendário oficial, sendo reconhecida pelas lideranças de governo.
Em 2021, a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 6215/16 visando transformar o Dia das Mulheres em um feriado nacional. A proposição permanece sujeita à apreciação do Plenário.
Dia da Mulher: interpretação ao longo dos anos
“Hoje, olhando o Dia Internacional da Mulher ao longo dos séculos XX e XXI, percebemos muitas mudanças”, começa a professora Nazaré Soares, membro do Núcleo de Estudos em Gênero, Idade e Família (Negif) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
De acordo com Nazaré, as primeiras demandas do século XX envolviam questões econômicas e materiais, fruto da desigualdade de gênero. Entre elas, salários e direitos trabalhistas, condições de trabalho, acesso a serviços e oportunidades educacionais.
A luta foi ampliando suas demandas e passou a abordar, durante o século XXI, questões relacionadas à saúde reprodutiva, às violências contra as mulheres e à representação político-social feminina.
Dia da Mulher: o feminismo inclui todas as mulheres?
O feminismo, conhecido como um movimento que objetiva a equidade social para as mulheres, também é motivo de debate sobre a extensão de sua representatividade.
"Todos os momentos históricos dos feminismos contribuíram para as reflexões que temos hoje sobre o papel das mulheres na sociedade. Contudo, os feminismos negro, indígena, subalternos, são os que vão questionar a noção de mulher a partir do Sul global"
Nazaré Soares, coordenadora do Negif
A professora destaca a percepção da socióloga argentina María Lugones, que aponta aspectos marcados pela colonialidade de gênero.
“Nosso país foi formado e tem sido formado em uma consciência de um mito de democracia racial, que não existe na vida real de pessoas negras, especialmente de mulheres negras, que não têm o seu trabalho reconhecido e valorizado”, diz Soares.
“Precisamos urgentemente de deslocamentos na forma de pensar as mulheres e seus direitos, e isso passa pelo letramento de gênero e letramento racial”, completa.
Dia da Mulher: uma visão ocidental?
Questionada sobre a percepção do Dia da Mulher além de uma consciência Ocidental, a professora Nazaré Soares afirma que, no campo de políticas públicas, as demandas precisam ser pensadas a partir da experiência das mulheres, e não de forma neutra ou homogênea.
“Como sociedade, precisamos avançar, compreendendo que essas discussões não podem ser realizadas em bolhas, em recortes, mas que afetam toda uma estrutura social, para além do gênero”, aponta Soares.
“Os feminismos muçulmanos, assim como os subalternos, há muito questionam alguns pressupostos do feminismo branco, que se advoga universal e salvador. Até onde vai a solidariedade se não reconhecemos as diferenças?”, questiona.
A professora conclui: "um feminismo voltado para a individualidade e na hierarquização dos indivíduos não é um feminismo que queremos construir”.
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