O rei escravo de Ouro Preto: conheça a história de Chico Rei

O rei escravo de Ouro Preto: conheça a história de Chico Rei

De príncipe congolês na África Central a escravo em uma mina de Ouro Preto, conheça mais sobre a história de Chico Rei

Galanga, posteriormente rebatizado como Francisco, foi um rei congolês que foi traficado e escravizado junto de sua família por portugueses e trazidos ao Brasil, em 1740. No trajeto, sua esposa Djalô e sua filha Itulo não resistiram às condições da viagem e faleceram.

Junto de seu filho Muzinga, Galanga chegou na região de Cais do Valongo, no Rio de Janeiro e depois foram levados a Vila Rica — atual região de Ouro Preto, em Minas Gerais — para trabalhar na Mina da Encardideira, que viria a ser comprada por Chico tempos depois.

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O Cais do Valongo foi construído em 1811 pela Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio de Janeiro, que tinha como objetivo retirar da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, o desembarque e comércio de africanos escravizados que eram levados para as plantações de café, fumo e açúcar do interior do Estado e de outras regiões do Brasil.

A região portuária ficou conhecida como “Pequena África”, devido ao grande fluxo de escravos que passavam pelo local. Lá se formaram diversas tradições culturais como samba, capoeira, carnaval, entre outros, como conta a pedagoga e pesquisadora de africanidades Patrícia Adjokè. 

Segundo historiadores, depois de muito tempo trabalhando na mina, Chico e outros escravos começaram a esconder pedaços de ouro no cabelo, e lavavam após o fim do expediente. Foi assim que Chico conseguiu o dinheiro para comprar sua liberdade e a de seu filho.

O príncipe congolês que se tornou escravo no Brasil

Algumas histórias divergem entre os fatos contados, pois não há registros históricos que comprovem a existência de Galanga. Segundo a mestra em educação Patrícia Adjokè, 49, ele foi designado para trabalhar na Mina da Encardideira. “Um homem negro naquele período dos anos de 1700, não vivia mais do que 4 anos”.

Patrícia conta que pouco tempo depois ele foi reconhecido como um griô, o indivíduo que na África Ocidental tem por vocação preservar e transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo. Existem griôs músicos e griôs contadores de histórias.

“Chico foi trabalhar na Mina da Encardideira, mas teve um sonho com uma santa negra, Santa Efigênia, que é filha de um rei etíope. E a partir desse sonho ele começa a juntar o ouro que ele pegava da mina", conta Patrícia, que trabalha com ações pedagógicas e culturais envolvendo ancestralidade, pertencimento afro, cultura, história e memória.

Ao fim do dia, Chico lavava os cabelos na pia e retirava o ouro que ali ficava escondido, foi assim que conseguiu juntar dinheiro suficiente para comprar sua alforria e de seu filho.

Chico Rei e a origem da Congada

O multiartista carnavalesco Márcio Santos, 47, explica que a história de Chico influenciou na origem da Congada. Com a fundação da irmandade de Santa Edwiges do Alto do Cruz, junto dos padres, eles começaram a comprar a liberdade de outros escravizados.

As irmandades eram organizações de escravizados criadas pelos mesmos quando passavam pela catequese. "Eles se organizavam dentro da religião e sempre escolhiam um santo de devoção, que na maioria das vezes era Nossa Senhora do Rosário".

De acordo com Márcio, depois de um certo tempo a santa passou a ser conhecida como Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos. "Eles se organizavam para arrecadar fundos e libertar os escravos comprando sua alforria", explica.

“Ele [Galanga] passa a ser considerado como rei em Vila Rica — atual Ouro Preto. Então, é feito uma grande festividade e ele é coroado no patamar da igreja”.

Desde então, todos os anos uma festa de coroação é realizada. “Como ele era do Congo, foi chamada de festa de Congada”, finaliza. A celebração destaca a influência africana na cultura brasileira, relembrando a memória de libertação dos escravizados.

Em 2017, o grupo de maracatu “Vozes da África” apresentou um enredo sobre a trajetória de Galanga. “Eu vi que era uma história muito interessante, que assim como eu não conhecia, muita gente em Fortaleza também não”, explica Márcio.

O carnavalesco fala da importância de falar sobre histórias como essas: “Histórias como essas não são contadas nas salas de aula. Em 2017 eu tinha 40 anos e nunca tinha ouvido falar, né? Para mim, foi importante pois eu trouxe uma história que nos foi negada, que não está nos livros”.

“Trazer esse enredo à avenida é importante pois é uma história que a gente não vai ver nos livros, e sim no Carnaval, que é uma festa democrática, né? É uma festa aberta, acredito que seja a maior do mundo”, finaliza.

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