Ministra diz que influenciadores "ganham muito dinheiro" para propagar ódio contra mulheres na internet
A ministra Cida Gonçalves defende a regulação das redes sociais para combater discursos nocivos às mulheres
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirma que um nicho de influenciadores homens tem ganhado “muito dinheiro para propagar o ódio contra as mulheres”. A declaração foi dada em entrevista ao O POVO após ser questionada quanto a opinião sobre falas polêmicas proferidas por frei Gilson, fenômeno católico nas redes sociais. A ministra aponta que o discurso conservador sobre mulheres está em alta na internet.
“Eu acho que tem que regular as redes sociais, não dá mais. Para nós mulheres, as redes sociais são um inferno. A violência política de gênero assusta. Você vai tirando o direito das mulheres do espaço político. E o espaço político não é só o parlamento”, diz.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Cida cita o relatório produzido pelo Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, parceria do NetLab-UFRJ com o Ministério das Mulheres.
O documento traz uma análise computacional de 76,3 mil vídeos e qualitativa de 601 canais que produzem conteúdos potencialmente nocivos às mulheres.
Os vídeos contêm mensagens de desprezo às mulheres e estímulo à insurgência masculina (42%), sedução e relacionamento (22%), conteúdo político (8%), antifeminismo (7%) e defesa dos papéis tradicionais de gênero (5%).
“Principalmente no YouTube, vai ter programas que incentivam o machismo, a violência, a submissão. Você começa a ter um processo de construção da misoginia, do ódio contra as mulheres. E as redes sociais são propícias para isso. Eles já descobriram que podem ganhar e eles ganham muito dinheiro para propagar o ódio contra as mulheres, porque os homens pagam. E pagam muito bem, diga-se de passagem”, explica.
Os criadores recebem patrocínios de marcas, renda de anúncios e vendem cursos com discursos misóginos. Ela defende a regulação das redes sociais para lidar com o compartilhamento de conteúdo da chamada “machosfera”.
As maneiras de monetização dos vídeos são diversas, mas as plataformas não são claras quanto aos valores pagos a cada criador. Entre os canais sinalizados como misóginos, mais da metade (52%) possui pelo menos um vídeo com anúncios.
O segundo recurso mais comum são assinaturas por meio do Programa de Membros do YouTube. Esta modalidade está presente em 28% dos canais misóginos.
Já por meio de doações da audiência durante conteúdos ao vivo, a pesquisa mapeou a arrecadação de R$ 68 mil em 257 transmissões feitas por oito canais monitorados.
Os criadores ainda lucram com a venda de e-books, que variam de R$ 17,90 a R$ 397, e com consultorias individuais mascaradas de “desenvolvimento pessoal masculino”. Esses cursos chegam a custar até R$ 2 mil.
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Frei Gilson falou que mulheres precisam ser “auxiliares” dos homens
Em fala de pregação que viralizou, frei Gilson falou que Deus “deu ao homem a liderança” e que a mulher teria nascido para auxiliar o homem.
“É claro ver que Deus deu ao homem a liderança. Isso está na Bíblia. A guerra dos sexos é ideologia pura. Para curar a solidão do homem, Deus fez você (mulher). Deus faz uma promessa para Adão: eu vou fazer alguém para ser sua auxiliar. Aqui você já começa a entender a missão de uma mulher. Ela nasceu para auxiliar o homem”, disse.
Na mesma pregação, ele discursou contra o empoderamento feminino.
“Essa é uma fraqueza da mulher: ela sempre quer ter mais. Eu não me contento só em ser, em ter qualidades normais de uma mulher. Eu quero mais. E isso é a ideologia dos mundos atuais. Uma mulher que quer mais, vou até usar uma palavra que vocês já escutaram muito: empoderamento”, afirmou.
Após polêmicas, ele removeu ou colocou em modo privado 2.022 vídeos no YouTube.