Casal brasileiro perde guarda dos filhos em Portugal e pede ajuda

Casal brasileiro perde guarda dos filhos em Portugal e pede ajuda

Brasileiros apontam xenofobia, enquanto o Ministério Público português alega negligência após denúncia da escola onde as crianças estudam

O casal de brasileiros Carol Archangelo e Carlos Orleans vive em Portugal há cerca de cinco anos. Recentemente, tiveram a guarda dos dois filhos transferida para outra família por ordem da justiça da cidade de Viseu.

Em conversa com O POVO, o pai das crianças conta que a decisão judicial foi emitida em 17 de março com base em um pedido do Ministério Público português. Segundo ele, o processo foi aberto em 2023 após uma professora achar que seu filho caçula, de seis anos, estava cansado.

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“Viemos sendo acompanhados desde 2023 pela CPCJ (Comissões de Proteção de Crianças e Jovens), devido à denúncia da professora de que meu filho estava com cara de cansado na sala de aula e que era preciso aferir o domicílio dele para verificar as condições”, relata Carlos Orleans.

E, ainda conforme o pai, a família passou a ser entrevistada por uma profissional designada, mas nunca foi informada sobre a possibilidade da retirada da guarda dos filhos.

“Após isso, foi acionada uma assistente social da segurança social de Vise, e ela começou a agendar entrevistas com a gente. Sempre se colocando como parte administrativa. Nunca e em nenhum momento foi passado para gente que esse tipo de manobra seria possível”, relata.

Brasileiros são surpreendidos com perda de guarda dos filhos

Na última quinta-feira, 20, o casal foi surpreendido em casa por policiais informando que as crianças não iriam retornar, pois tinham sido levadas pela assistência social.

Ele conta que os agentes informaram um número de protocolo e orientaram que ele e a esposa “corressem atrás” da situação.

“Fomos surpreendidos na última quinta-feira na parte da manhã quando levamos nossos filhos para o colégio, voltamos para casa e iriamos buscar no almoço. Três policiais vieram à nossa residência informar basicamente que as crianças tinham sido levadas pela assistência social e não deixaram nenhum papel, não deixaram nada... Só um número de protocolo e pediram para que a gente corresse atrás”, afirma.

Abalado, o pai recorda que foram até a escola dos filhos, sendo informados pelo porteiro que as crianças haviam sido institucionalizadas. “Fomos desesperados e, quando chegamos, o porteiro (da escola) falou para gente que as crianças haviam sido institucionalizadas e que era para gente voltar para casa que eles entrariam em contato”, continua Orleans.

O casal lembra que a polícia foi acionada devido ao desespero deles, com os guardas orientando que se deslocassem até o Tribunal da cidade para resolver a questão.

“Após isso acionaram a polícia para gente, pois eu fiz um escândalo; e a polícia pediu para que a gente fosse no Tribunal de Viseu. Chegando no Tribunal de Viseu tivemos a mesma confirmação”, relata o pai.

Pais estão há quatro dias sem notícias dos filhos

Carlos diz que está há quatro dias sem ver ou ter notícias das crianças e lamenta não poder acalmá-las.

“Estamos há quatro dias sem ver nossos filhos, sem chance de conversar com eles, sem chance de acalmar eles. Ou seja, eles sequer sabem o que está acontecendo. Eles não tiveram chance de ver os pais para que a gente pudesse acalmar eles por um última vez antes desse tipo de intervenção absurda”, afirma comovido.

Questionador do processo, ele elenca os pontos levantados pela professora do filho, destacando que os elementos levantados por ela são comuns a crianças de seis anos. “Nos autos (do processo), para criar a intervenção, a professora coloca coisas do tipo ‘ele demonstra dificuldade de fala’ e‘ele demonstra dificuldade para escrever’. Mas ele é uma criança de seis anos, é óbvio que ele ainda vai ter dificuldade para escrever ou falar”, diz.

E completa: “E ela fica enfatizando isso como se fosse um problema gerado por nós. Como se fosse uma inadimplência nossa. Daí as coisas se exacerbaram e eles colocaram mais equipes de proteção social atrás da gente, sendo um total de quatro equipes”.

Carlos relata as várias reuniões desde o início do processo em 2023. “Era o tempo todo reunião em casa, reunião no colégio... E a professora também criou uma série de obrigações em termos de atestado médico. Por exemplo, ele não fez o dever de casa, ‘quero atestado médico’; ele não sabe falar direito, ‘quero atestado médico; ele não sabe escrever direito’, ‘quero atestado médico’”, desabafa.

Casal pede ajuda da comunidade brasileira em Portugal

O pai alega que está sendo acusado de não “amar” ou “cuidar” das crianças. “Todos os autos são mentira. Colocam como se não amássemos nossos filhos, como se não nos preocupássemos, como se não quiséssemos saber dos nossos filhos. Só tem eu e a mãe cuidando deles. A gente que compra roupa, que dá banho, que bota pra escola, que bota pra estudar... A gente que faz tudo.”

“A professora achou que tirando a guarda das crianças estaria ajudando eles, mas está criando um trauma gigante para as crianças. Entregaram meus filhos para uma ‘família’ de acolhimento, e em nenhum momento foi convocada uma reunião para informar pra gente”, lamenta Carlos.

O brasileiro afirma que está sendo vítima de xenofobia e do preconceito existente na sociedade portuguesa com sua profissão de tatuador.

“Estamos vivendo uma arbitrariedade absurda. Sofremos com xenofobia e temos que ouvir o tempo todo sobre tatuagens, sobre o quanto isso é mal visto. A gente já ouviu coisas aqui que acho que nem precisa falar...”

Carlos ainda reclama do tratamento dos órgãos portugueses. “Trataram a gente feito bicho, não dão informações sobre nossos filhos, não dão qualquer tipo de apoio psicológico. Simplesmente tiraram a guarda deles e pediram para a gente esperar”, alega.

Ele completa dizendo que precisa da ajuda da comunidade brasileira que vive em Portugal. “Precisamos juntar o máximo da comunidade brasileira para a gente ter força, recuperar nossos filhos e conseguir ter de novo ar nos nossos pulmões”,

Questionado pela reportagem se o casal procurou autoridades brasileiras em Portugal, Carlos disse que vai procurar o apoio do consulado brasileiro, já que tanto o casal quanto as crianças são cidadãos brasileiros. O POVO acompanhará o caso para trazer novas informações sobre a família.

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