Confederação do Equador: quem foram os insurgentes do Nordeste?

Conheça quatro revolucionários que fizeram parte da Confederação do Equador e o que aconteceu com os envolvidos no Nordeste

Sob o anúncio de um “grito festivo”, a Confederação do Equador foi apresentada em um manifesto assinado por Manoel de Carvalho Paes de Andrade, presidente da província de Pernambuco, em 2 de julho de 1824.

O movimento, que recebeu destaque nas províncias de Pernambuco e do Ceará, defendia a construção de um governo federativo e constitucional, mas foi recebido com a repressão massiva de Dom Pedro I e execuções aos seus principais líderes.

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Entenda o período histórico que influenciou a Confederação do Equador e confira a atuação dos insurgentes mais conhecidos.

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Confederação do Equador: o que foi?

Um dos motivos que levaram à Confederação do Equador é contextualizado aos brasileiros do século XIX no próprio manifesto desenvolvido por Manoel de Carvalho. Nele, o autor critica a decisão do imperador Dom Pedro I, em 1823, de fechar a Assembleia Constituinte, responsável por redigir a primeira Constituição no Brasil independente.

“Antes que se verificassem nossos votos e desejos, fomos surpreendidos com a extemporânea aclamação do imperador”, indica Carvalho sobre o evento, que ficou conhecido como Noite da Agonia.

O soberano não aceitava as proposições para um sistema de governo monárquico representativo, o que reduziria o seu poder. Como resposta, outorgou em março de 1824 uma Constituição que manteria a sua concentração de autoridade.

“Os pernambucanos, já acostumados a vencer os vândalos, não temem suas bravatas”, alertou o presidente da província.

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O que aconteceu na Confederação do Equador?

Para Johny Santana, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a historiografia brasileira tem mostrado ao longo dos anos que diferentes condicionantes sempre determinaram as dificuldades na construção do Estado Imperial Brasileiro.

“Certamente as mais significativas se relacionam à política de centralização inerente ao Estado Português, da qual o imperador Pedro I havia herdado”, considera.

A dinâmica proposta pelo monarca não poderia ser aceita pelas províncias, que buscavam autonomia em relação ao poder central e tinham uma ideia clara dos conceitos indicados pelo federalismo, forma de governo em que os estados partilhavam a autoridade.

Confederação do Equador: conheça 4 insurgentes do Nordeste

Veja o que aconteceu com quatro revolucionários que atuaram na Confederação do Equador.

Frei Caneca

Em 11 de outubro de 2007, o nome de Joaquim da Silva Rabelo foi incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria (Livro de Aço), por meio da Lei nº 11.528. O insurgente, conhecido como Frei Caneca, foi uma das figuras históricas que movimentaram a Confederação do Equador.

Aos 22 anos, ordenou-se e passou a se chamar Frei Joaquim do Amor Divino. O apelido, “Frei Caneca”, referenciava o ofício do pai, um tanoeiro (fabricante de tonéis, vasilhames) português.

No movimento da insurgência, atuou na fundação do jornal Typhis Pernambucano, que manteve circulação entre dezembro de 1823 e agosto de 1824.

Com a repressão dos insurgentes, Frei Caneca foi condenado pelo tribunal militar ao patíbulo (também chamado de cadafalso; estrutura usada para execução pública). A execução acabou alterada e o revolucionário morreu fuzilado por tiros de arcabuz (arma antiga).

Tristão Gonçalves

O local da morte do presidente da Confederação do Equador no Ceará se encontra atualmente inundado pelo açude Castanhão. Era 31 de outubro de 1824 quando Tristão Gonçalves de Alencar Araripe foi atingido por um dos membros do grupo armado de José Leão da Cunha Pereira na região de Santa Rosa, futuramente conhecida como Jaguaribara.

De acordo com artigo de J.C. Alencar Araripe, publicado em 2005 pelo Instituto do Ceará, José Leão, proprietário de terras, participou de uma expedição ao Maranhão com Tristão Gonçalves, mas já durante a morte do revolucionário o considerava um inimigo.

Antes de ser considerado um mártir da Confederação do Equador, o revolucionário “aceita, de pronto, a rebelião desencadeada em Quixeramobim”, e é escolhido para substituir o presidente da Província nomeado pelo imperador, o tenente-coronel Pedro José da Costa Barros, que fora deposto.

Era filho do português José Gonçalves Santos e de Bárbara Pereira de Alencar, uma das insurgentes que participou da Revolução Pernambucana em 1817. A matriarca seria reconhecida ainda como a avó do famoso romancista cearense José de Alencar.

Padre Mororó

Nascido Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo, o insurgente da Confederação do Equador foi fuzilado em praça pública de Fortaleza. Séculos depois, sob uma alcunha mais popular, virou nome de rua na mesma cidade que o fez mártir: rua Padre Mororó.

Mororó foi ainda redator e diretor do primeiro jornal publicado no Ceará, o “Diário do Governo do Ceará”, mas além do trabalho jornalístico, uniu forças a Tristão Gonçalves, o presidente da Confederação na então província.

Em relato de 1925 por Viriato Corrêa, compartilhado pelo Instituto do Ceará, a condenação do padre Mororó pela justiça militar, 100 anos antes da publicação de Corrêa, foi realizada com uma “presteza de espantar”.

“Instalando-se o tribunal a 22 de abril, três dias depois condenava à forca o coronel João Andrade Pessoa e o Padre Mororó”, descreve. A execução foi marcada, então, para o dia 30 do mês, mas ninguém queria ser o carrasco, o que motivou a alteração da sentença para fuzilamento.

Corrêa apresenta ainda aos leitores os últimos momentos de Mororó, ao ser posicionado na “coluna da morte”:

“Na praça em que se vai dar a execução, a multidão é tanta que a custo as tropas conseguem abrir passagem. Mororó é colocado na coluna da morte.

“Um soldado traz a venda para lhe pôr nos olhos.

“— Não, responde ele, eu quero ver como isso é.

“Vem outro soldado para colocar-lhe sobre o coração a pequena roda de papel vermelho que vai servir de alvo. Ele detém a mão do soldado:

“— Não é necessário. Eu farei o alvo.

“E cruzando as duas mãos sobre o peito, grita arrogantemente para as praças:

“— Camaradas, o alvo é este!

“E num tom de riso, como se aquilo fosse uma brincadeira:

“— E vejam lá! Tiro certeiro, que não me deixe sofrer muito!

“Houve na multidão um instante cruel de ansiedade. Tinha sido ordenada a pontaria. Todo o vago rumor do povo cessou completamente.

“— Fogo!

“A descarga estrondou”.

Manoel de Carvalho Paes de Andrade

O revolucionário pernambucano Manoel de Carvalho Paes de Andrade foi o responsável pelo manifesto de proclamação da Confederação do Equador. Na época de publicação do documento, 2 de julho de 1824, o político ainda era presidente da província de Pernambuco.

De acordo com informações da cartilha de práticas pedagógicas sobre a Confederação do Equador, desenvolvida por Bruno Augusto Dornelas Câmara, professor adjunto do curso de licenciatura em História da Universidade de Pernambuco (UPE), Paes de Andrade não conseguiu resistir aos avanços das tropas imperiais.

O revolucionário se refugiou na fragata inglesa Tweed e permaneceu exilado em Londres até a abdicação de Dom Pedro I, em 1831.

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