O que é "brain rot"? Brasil é o 2º país em que usuários passam mais tempo online

Conforme o Relatório Digital 2024: 5 billion social media users, o Brasil é o segundo país em que os usuário passam mais tempo online, com 9h13min por dia

Eleita a palavra do ano de 2024 pelo dicionário de Oxford, “brain rot” significa “apodrecimento do cérebro”. O termo é utilizado na cibercultura para designar qualquer conteúdo da Internet considerado de baixa qualidade ou valor. Estes materiais podem ser encontrados nas plataformas digitais, como Youtube, Tik Tok, Instagram e semelhantes. 

Para a especialista em Psicopedagogia e Saúde Mental, Eyla Cavalcante, o ano de 2024 foi marcado pela ampliação das redes sociais, o que resultou em uma busca incessante dos internautas por conteúdos “sem relevância", ou seja, aqueles que não somam ou contribuem para crescimento pessoal ou de conhecimento.

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“Existe uma paralisação, uma falta de engajamento social da própria pessoa devido ao vício, devido a essa compulsão pelo digital", cita Eyla. 

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Conforme o Relatório Digital 2024: 5 billion social media users, o Brasil é o segundo país em que os usuário passam mais tempo online, com 9h13min por dia, ficando atrás apenas da África do Sul, com 9h44min. A pesquisa resulta de uma parceria entre as empresas We Are Social e Meltwater.

“Esse apodrecimento é causado justamente pelo tempo que as pessoas passam rolando a tela e procurando conteúdos que atraiam, estimulem ou ativem o estado de alerta, que tem relação com o nível de dopamina no cérebro”, complementa Eyla.

De acordo com a psicopedagoga, a estimulação do nível de dopamina no cérebro ocorre, normalmente, pelo acesso a notícias trágicas. À medida que o usuário tem acesso a este tipo de informação, maior é o desejo dele de buscar conteúdos semelhantes.

“Essa compulsão por este tipo de conteúdo acaba paralisando habilidades cognitivas que faz com que a gente execute coisas, como as tarefas do dia a dia, chamadas de funções executivas, que é o planejamento, organização, autocontrole sob os meus desejos. O ‘brain rot’ deteriora essas funções”, destaca Eyla.

Questionada se esse “apodrecimento cerebral” pode ser revertido, a psicopedagoga menciona que é necessário que o usuário estabeleça um limite no tempo de tela ao qual está exposto.

“É preciso ter a noção do que está acontecendo. Às vezes ela tem noção, mas não consegue parar, quando isso ocorre, não basta só fazer essa prática ou se organizar para reverter isso, ela vai precisar de um apoio maior, suporte psicológico ou até psiquiátrico”, pontua.

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Consequências do brain rot

Os efeitos do excesso de tela já podem ser notados no dia a dia. De acordo com Eyla, alguns adolescentes optam por passar o tempo nas redes sociais do que socializar com a família.

“Uma das coisas que mais nos chama atenção é que essas plataformas digitais são criadas para ter um efeito viciante. É como uma substância, uma droga que você usa, dá prazer e a tendência é que você continue usando mais vezes”, destaca.

Em 2024, os brasileiros escolheram "ansiedade" como a palavra do ano. A apuração, realizada pelo Instituto de Pesquisa Ideia em parceria com a empresa Cause e o aplicativo PiniOn, mostrou que 22% dos participantes apontaram “ansiedade” como a palavra que definiu o ano. “Resiliência” e “inteligência artificial” complementaram o ranking, com 21% e 20% respectivamente.

Eyla aborda que a ansiedade é uma das consequências do excesso das telas.

“As pessoas não vão conseguir viver sem um remédio porque não conseguem mais controlar essa ansiedade através de uma qualidade de vida ou uma rotina adequada porque não conseguem se desprender desses vícios”, destaca.

Como evitar o “brain rot”

Questionada se esse “apodrecimento cerebral” pode ser revertido, a psicopedagoga Eyla Cavalcante menciona que a principal alternativa é estabelecer um limite no tempo de tela ao qual o usuário está exposto.

“É preciso ter a noção do que está acontecendo. Às vezes a pessoa tem noção, mas não consegue parar, quando isso ocorre, não basta só tentar reduzir o tempo, às vezes ela vai precisar de um apoio maior, suporte psicológico ou até psiquiátrico”, pontua.

Além disso, Eyla cita que pesquisas recentes apontam um aumento significativo nos casos de pessoas com depressão e desesperança causadas pelos estímulos negativos que causam estes sentimentos. Em algumas situações, conforme a psicopedagoga, o usuário substitui a leitura de um livro pela tela, o que resulta no agravamento de insônia e dificuldades para dormir. 

“É comum que a gente faça orientação parental para que as crianças, jovens e até mesmo adultos abandonem a tela pelo menos três horas antes de dormir, fazendo um detox. É durante o sono que nossas memórias se restauram”, cita.

Como evitar o apodrecimento cerebral

  • Definir ou diminuir o tempo passa nas redes sociais;
  • Excluir aplicativos de distração;
  • Deixar de seguir contas que geram mal estar, raiva e ansiedade
  • Preencher o ‘feed’ do Instagram com conteúdos positivos;
  • Buscar apoio psicológico;
  • Explorar os hobbies e atividades físicas que estimulem o cérebro;

Impactos do "apodrecimento cerebral" na educação

Permanecer 50 minutos em uma sala de aula atento ao conteúdo repassado pelo professor tornou-se tarefa praticamente impossível em 2025. Isso porque o caderno foi substituído por equipamentos digitais, como tablets, celulares e notebooks.

“No contexto educacional o ‘brain rot’ pode interferir na aprendizagem. O interesse fica sendo repetido e abordado de forma rasa, que não leva ao conhecimento e análise reflexiva e crítica dos conteúdos estudados”, explica a psicóloga clínica, Daniele Furlani.

As causas mais comuns do apodrecimento cerebral em alunos ocorre devido ao uso excessivo de tecnologias, que limita o desenvolvimento cognitivo emocional. Como consequência, o aluno se afasta das interações socioemocionais na escola.

Daniele menciona que os principais sinais de “brain rot” no âmbito educacional é o afastamento dos alunos das atividades diárias de sala de aula e tarefas escolares. Ela destaca que o uso de metodologias ativas na aprendizagem é uma alternativa para reverter o cenário.

“Os professores vão provocar, por meio de metodologias ativas, uma forma de construção do conhecimento de forma colaborativa no grupo, levando ao pensamento crítico dos alunos”, complementa a psicóloga clínica.

Questionada sobre como as tecnologias digitais podem ser utilizadas para prevenir o “brain rot” e melhorar o aprendizado dos alunos, Furlani compartilha que estas podem estar inseridas no processo de metodologias ativas.

“Como exemplo temos os professores que fazem quiz, kahoot e jogos envolvendo o conteúdo de aprendizagem e que trazem essas tecnologias digitais como forma de fazer jogos com os assuntos abordados”, cita.

Ainda no contexto educacional, Daniele explica que a retomada da leitura de clássicos brasileiros seguem sendo a principal estratégia para que os alunos evitem o apodrecimento cerebral. Isso porque o consumo desta literatura desperta o pensamento crítico dos estudantes.

“Há uma tentativa de trazer os clássicos de volta para a literatura dos jovens com uma certa resistência porque é um tipo de linguagem que os alunos, que usam muito as redes sociais, estão desacostumados, mas que se for resgatado de forma interativa, funcionará bastante”, complementa Daniele.

Os pais, conforme a psicóloga, podem auxiliar os filhos orientando e monitorando o uso das telas, visto que o limite imposto, especialmente, aos menores de idade, pode prevenir e curar os sintomas do "brain rot". 

Daniele reforça a importância do indivíduo dispor de educação socioemocional, visto que o apodrecimento cerebral é causado, muitas vezes, pela necessidade de fuga da realidade.

“O ‘brain rot’ distancia o indivíduo das questões associadas à fase que ele está vivendo, seja um conflito com a família ou conflito com a própria identidade. Com educação socioemocional, ao contrário de evitar, vamos levar uma consciência maior sobre essas questões”, compartilha.

 

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