Confederação do Equador: o que foi e o que queria?

Entenda o período histórico brasileiro e as consequências do movimento revolucionário que ficou conhecido por Confederação do Equador

No dia 2 de julho de 1824, um manifesto assinado por Manoel de Carvalho Paes de Andrade, presidente da província de Pernambuco, conclamava os brasileiros à defesa dos “imprescritíveis e inalienáveis direitos de soberania”.

O estado, que já protagonizara a Revolução Pernambucana de 1817, agora se tornava mais uma vez um centro da resistência no País, com o próprio manuscrito de Carvalho a anunciar, em “grito festivo”, um viva à Confederação do Equador.

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O objetivo, a fundação de um governo federativo e constitucional embasado na união com outras províncias do Norte-Nordeste, foi recebido com a repressão massiva de Dom Pedro I e execuções aos seus principais líderes.

Entenda o período histórico e o que aconteceu na Confederação do Equador.

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Confederação do Equador: o que foi?

Um dos motivos que levaram à Confederação do Equador são contextualizados aos brasileiros do século XIX no próprio manifesto desenvolvido por Manoel de Carvalho. Nele, o autor critica a decisão do imperador Dom Pedro I, em 1823, de fechar a Assembleia Constituinte, responsável por redigir a primeira Constituição no Brasil independente.

“Antes que se verificassem nossos votos e desejos, fomos surpreendidos com a extemporânea aclamação do imperador”, indica Carvalho sobre o evento, que ficou conhecido como Noite da Agonia.

O soberano não aceitava as proposições para um sistema de governo monárquico representativo, o que reduziria o seu poder. Como resposta, outorgou em março de 1824 uma Constituição que manteria a sua concentração de autoridade.

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“Os pernambucanos, já acostumados a vencer os vândalos, não temem suas bravatas”, alertou o presidente da província.

Sete anos antes, em 1817, Pernambuco não apenas havia defendido o seu rompimento efetivo (Revolução Pernambucana), mas conseguiu mantê-lo por 75 dias. O movimento acabou reprimido com violência por D. João VI, que ordenou punições rigorosas aos revolucionários.

E o que aconteceu na Confederação do Equador?

 

Para Johny Santana, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a historiografia brasileira tem mostrado ao longo dos anos que diferentes condicionantes sempre determinaram as dificuldades na construção do Estado Imperial Brasileiro.

“Certamente as mais significativas se relacionam à política de centralização inerente ao Estado Português, da qual o imperador Pedro I havia herdado”, considera.

A dinâmica proposta pelo monarca não poderia ser aceita pelas províncias, que buscavam autonomia em relação ao poder central e tinham uma ideia clara dos conceitos indicados pelo federalismo, forma de governo em que os estados partilhavam a autoridade.

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Confederação do Equador: o que queria?

“Uma discussão muito pertinente ainda hoje é sobre as reais intenções da Confederação do Equador”, inicia Santana.

De acordo com o professor de História, o movimento se insurgiu contra os ditames do Imperador, mas há uma compreensão de que o gesto também poderia ser uma inspiração para que as demais províncias se revoltassem sob uma bandeira de maior autonomia e descentralização.

“Por outro lado, também há uma visão historiográfica que aponta para a compreensão de que, uma vez existindo os desmandos do Imperador, a ideia de separação dessas províncias talvez fosse uma opção, levando a uma ruptura institucional e ao surgimento de uma República confederada”, explica.

Outras discussões ainda consideram se as lideranças de fato tinham uma ideia do que seria uma confederação de estados, como avalia o historiador. “Nesse caso, a busca não seria por maior autonomia (federalização), seria por separação mesmo, a implantação de um Republicanismo”, diz.

Confederação do Equador: quais estados participaram?

O epicentro da revolução estava em Pernambuco, mas outras províncias se aliaram ao movimento, como o Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba.

“Os líderes mais importantes da Confederação são pernambucanos e cearenses, mas há toda uma plêiade de líderes pela região que ajudaram na construção do movimento”, destaca Santana.

O profissional ainda indica que, no Piauí, o movimento também adquiriu força e levou a uma ruptura entre as figuras que anteriormente haviam se unido contra os portugueses. Além disso, diversas vilas do norte da província se insurgiram contra o poder central.

Confederação do Equador: reação de Dom Pedro I

Como o seu pai fizera anos antes, ao punir os líderes da Revolução Pernambucana, a conclusão de Dom Pedro I foi reagir à Confederação do Equador com brutalidade.

Inicialmente, o imperador despachou forças rumo à província de Pernambuco, que era o epicentro do movimento, com o objetivo de conter as manifestações. Em seguida, chegaram também ao Ceará.

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“As figuras centrais nesse processo eram as mesmas que haviam tomado parte na Guerra de Independência, ocorrida onde hoje é o Nordeste”, explica o professor. Entre elas, o comando das tropas imperiais estava sob a figura do brigadeiro Francisco de Lima e Silva.

O comandante das forças navais do Império, lorde Thomas Cochrane, também foi enviado, em 1824, para debelar a Confederação.

Confederação do Equador: como acabou?

Após repressão violenta das forças imperiais, a Confederação do Equador foi desmantelada, e os seus revolucionários sentenciados a prisões e execuções públicas.

Segundo descrições contidas em cartilha pedagógica sobre o movimento, desenvolvida em 2024 por Bruno Augusto Dornelas Câmara, professor adjunto do curso de licenciatura em História da Universidade de Pernambuco (UPE)/Campus Garanhuns, o Recife foi tomado pelas tropas em 12 de setembro, após algumas horas de combate.

"Em 20 de dezembro de 1824, foi instalada uma Comissão Militar, um tribunal temporário, para julgar todos os implicados. A comissão era presidida pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva e tinha o objetivo de processar e julgar sumariamente os prisioneiros considerados cabeças da revolução", destaca o conteúdo.

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