Força Nacional é convocada após ataque a indígenas no Paraná; ofensivas já duram uma semana

Seis pessoas ficaram feridas em um ataque registrado no último domingo de 2024, 29; mais quatro pessoas foram baleadas em outra ofensiva, na sexta-feira, 3

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) convocou a Força Nacional e solicitou o aumento do efetivo para atuar no combate aos ataques promovidos contra o povo Avá Guarani, na na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira, no estado do Paraná.

As ofensivas contra a comunidade se estendem desde o final de dezembro de 2024, tendo deixado ao menos 6 pessoas feridas por disparos de arma de fogo em um ataque registrado no último domingo do ano, 29.

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Em nota divulgada nesse sábado, 4, o MPI enfatiza que a convocação do apoio da Força Nacional ao território, baseada na Portaria do Ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP) nº 812, de 21 de novembro de 2024, tem vigência até 20 de fevereiro.

De acordo com o texto, a presença da Força Nacional no território é resultado da articulação com os órgãos de segurança pública do Paraná e “atende ao pedido do MPI ao MJSP para evitar atos de violência contra os indígenas, mobilizados pela garantia de seus direitos territoriais”.

Ataque ao povo Avá-Guarani: suspeitos seriam pistoleiros ligados ao agronegócio

Ainda no sábado, 4, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), a Articulação dos Povos Indígenas do Sul do Brasil (Arpin Sul), a Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (Arpin Sudeste) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgaram uma nota denunciando e repudiando os ataques sofridos pelos Avá-Guarani, incluindo queimadas em casas e vegetações do território.

“Neste período, todas as noites, homens armados invadiram a comunidade Yvy Okaju (antigo Y’Hovy), na Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, queimaram barracos, dispararam com pistolas, espingardas e rifles e lançaram bombas contra os indígenas, que estão aguardando pela conclusão da demarcação de suas terras. Várias pessoas ficaram feridas, inclusive crianças, vítimas do tiroteio”, diz um trecho da nota

O texto revela ainda que, após a busca por socorro em unidades de saúde, as vítimas teriam sido mal atendidas. “Aqueles que foram feridos por armas de fogo continuam com as balas nos corpos”, destaca outro trecho.

A principal suspeita, segundo a Apib, é de que pistoleiros "mascarados e armados", ligados ao agronegócio, estejam por trás dos ataques.

De acordo com o último relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, publicado em julho de 2024, o cenário de violência violências e violações contra os povos originários e seus territórios persiste.

Os dados de 2023 revelam um total de mais de 411 registros de “Violência contra a Pessoa” no país, vinculadas aos povos indígenas. Os números incluem casos de abuso de poder (15); ameaça de morte (17); ameaças várias (40); assassinatos (208); homicídio culposo (17); lesões corporais (18); racismo e discriminação étnico-cultural (38); tentativa de assassinato (35); e violência sexual (23).

Ataque ao povo Avá-Guarani: sequência de ataques já dura uma semana

Em um ataque mais recente, denunciado pela Cimi na sexta-feira, 3, quatro Avá-Guarani foram atingidos por tiros. De acordo com as denúncias, na ocasião, uma criança de 4 anos foi atingida na perna, um jovem foi alvejado nas costas, outro indígena também foi ferido na perna e um quarto Avá-Guarani foi atingido no maxilar por um disparo efetuado com munição de grosso calibre.

Na terça-feira, 31, por volta da meia-noite, criminosos atearam fogo e dispararam rojões em direção a terra indígena. Um indígena foi atingido no braço e precisou ser encaminhado ao hospital. Na noite anterior, 30, uma pessoa teve queimaduras no pescoço após um ataque parecido no mesmo local

Ainda na segunda-feira, 30, peritos recolheram cápsulas de bala calibre 38 na comunidade. Após a retirada da equipe da Polícia Federal, as ofensivas recomeçaram

Em nota, o MPI informou que, em dezembro de 2024, foi realizada uma agenda interministerial junto aos Avá-Guarani, no âmbito da Sala de Situação para Acompanhamento de Conflitos Fundiários Indígenas. De acordo com o texto, a ação tinha como objetivo coletar informações sobre as condições de vida das comunidade para “identificar suas necessidades em contexto de contínua luta pelo território e pela manutenção de sua cultura”.

Ataque ao povo Avá-Guarani: denúncias são antigas

Em novembro de 2024, a comunidade do povo Avá Guarani havia denunciado, durante uma reunião com o próprio MPI, a possibilidade dos ataques serem realizados durante o final do ano passado. Em 2023, os moradores do território já tinham sido alvos de ataques a tiros no mesmo período do ano. Além disso, o povo teve seus animais torturados por integrantes de milícias armadas.

De acordo com a nota divulgada pelas entidades, os grupos responsáveis pelos ataques formam “verdadeiras milícias paramilitares a serviço dos interesses do agronegócio da região”, atuando com “absoluta impunidade, ameaçando e anunciando morte aos Avá-Guarani em áudios que circulam em redes sociais”.

 

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