Morte de empresário delator do PCC: veja o que se sabe e o que falta saber
Entenda tudo que se sabe e o que ainda está sob investigação sobre o caso de Antônio Gritzbach, assassinado em aeroporto após delatar crime do PCC
O empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos de idade, foi morto a tiros na tarde da última sexta-feira, dia 8 de novembro, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Questões como o motivo exato do assassinato, envolvimento de policiais, problema mecânico no carro de escolta e lavagem de dinheiro no mercado imobiliário ainda estão sob investigação.
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Gritzbach, delator premiado em uma investigação de lavagem de dinheiro envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi alvo de ao menos 27 disparos efetuados por dois homens armados com fuzis, que o atingiram na cabeça, tórax e braços.
O ataque ocorreu no Terminal 2, destinado a voos domésticos, e teria sido motivado por uma recompensa de R$ 3 milhões oferecida pelo grupo criminoso.
Além de Gritzbach, outras três pessoas foram atingidas durante o ataque: Um homem e uma mulher foram feridos superficialmente, mas Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos, foi alvejado por um tiro de fuzil nas costas e morreu no sábado, 9. Celso era motorista de aplicativo e aguardava corrida no aeroporto.
A polícia chegou a deter dois suspeitos, mas depois foram liberados por não terem relação com a execução. Além disso, também foi localizado o veículo usado pelos atiradores, que foi abandonado no aeroporto. No carro, foram encontrados um colete à prova de balas e munição de fuzil.
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) assumiu a investigação, que busca identificar os envolvidos por meio de impressões digitais e outros vestígios encontrados no carro.
Morte de empresário delator do PCC: tudo o que se sabe sobre o caso
Sobre a execução do crime contra o empresário, o procurador de justiça Márcio Christino, um dos autores do livro "Laços de sangue: a história secreta do PCC", disse que a ação foi organizada para acontecer mesmo diante de um forte esquema de segurança e com a presença de câmeras.
"A execução ocorreu na frente do aeroporto, uma ação ousada, cronometrada, com planejamento militar, indivíduos usando balaclava. É uma circunstância que só uma organização criminosa teria recursos para fazer."
Empresário já tinha sofrido ataque
Em dezembro de 2023, Gritzbach foi alvo de um atentado em seu apartamento no Tatuapé, na zona leste de São Paulo, quando um tiro de fuzil foi disparado contra sua janela, mas não o atingiu.
Segundo o advogado do empresário, Ivelson Salotto, Gritzbach sabia dos riscos de delatar membros da facção e policiais supostamente envolvidos em corrupção. “Eu havia sido contra a delação porque sabia que não terminaria bem”, afirmou Salotto.
Conexões do empresário com o PCC
Gritzbach foi ex-diretor da Porte Engenharia e Urbanismo e firmou um acordo de delação em abril, no qual revelou detalhes do envolvimento do PCC com o mercado imobiliário e até com o futebol.
Ele mencionou ainda o assassinato de líderes da facção, como Cara Preta e Django, e afirmou ter conhecido membros do grupo criminoso durante sua atuação na empresa.
A Porte Engenharia, em nota, declarou não ter relações com Gritzbach desde 2018 e desconhecer a ligação do ex-funcionário com o crime organizado.
Lavagem de dinheiro e investigação da Porte Engenharia
Em sua delação, Gritzbach relatou que o PCC teria utilizado a compra de imóveis no Tatuapé para lavar dinheiro do tráfico de drogas.
O Ministério Público Estadual (MPE) apura as transações da Porte, que teria vendido propriedades a membros da facção com pagamento em espécie, mantendo ocultos os nomes dos verdadeiros proprietários.
Em agosto, quando a investigação foi revelada, a construtora afirmou que colaboraria com as autoridades, caso necessário, e desconhecia que alguns clientes estivessem associados ao crime organizado.
Negativa sobre mortes de traficantes
Gritzbach negou qualquer envolvimento nas mortes de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e de "Sem Sangue", segurança do chefe do PCC.
Cara Preta, que atuava no tráfico de drogas para a Europa e tinha envolvimento com a empresa de ônibus UPBus, foi assassinado em dezembro de 2021 em uma emboscada no Tatuapé.
Envolvimento em casos de homicídio e relações financeiras com o PCC
Gritzbach respondia judicialmente por suspeita de participação nos assassinatos de dois membros do PCC: Anselmo Bechelli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, e seu motorista Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”. Ambos foram mortos em dezembro de 2021 em uma emboscada no bairro Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
Cara Preta, que tinha forte influência na organização criminosa e atuava no tráfico internacional de drogas, teria entregue R$ 40 milhões a Gritzbach para investimentos em criptomoedas. Contudo, ao não receber retorno do investimento, o traficante teria começado a pressionar o empresário pela devolução do dinheiro.
Assassinatos ligados a dívida milionária
A disputa financeira entre Gritzbach e Cara Preta se tornou um ponto central da investigação. Segundo o Ministério Público, o narcotraficante exigia a devolução dos valores, o que possivelmente motivou tensões entre eles.
A situação se agravou com o assassinato de Noé Alves Schaum, apontado como executor da morte de Cara Preta e de Sem Sangue. Schaum foi encontrado morto em janeiro de 2022, também no Tatuapé, e teve sua cabeça decepada, em um possível acerto de contas dentro do grupo criminoso.
Morte de empresário delator do PCC: delação premiada
Gritzbach havia firmado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), fornecendo informações sobre a rede de lavagem de dinheiro da facção criminosa, mas recusou a entrada no programa de proteção, alegando que poderia garantir sua própria segurança.
Delação e pedido de proteção negado
Em depoimento ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Gritzbach relatou que líderes do PCC investiam em imóveis de luxo na zona leste de São Paulo e em Bertioga, utilizando dinheiro do tráfico para comprar propriedades milionárias.
Entre as revelações, ele mencionou que Anselmo Bechelli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, adquiriu uma cobertura de R$ 15 milhões no Tatuapé, paga em espécie e registrada em nome de um “laranja”. O empresário também afirmou que a facção estava envolvida no agenciamento de jogadores de futebol de times paulistas.
Durante uma reunião com o MP, Gritzbach externou preocupação com sua segurança, declarando: “Cada vez mais, eu preciso de segurança. Então, eu precisava de um amparo de vocês também. Se não, vocês estão falando com um morto-vivo aqui”. Mesmo diante do risco, ele rejeitou a proteção oferecida pelo MPSP.
Escolta particular e suspeitas sobre corrupção policial
Para garantir sua segurança, Gritzbach contratou uma escolta particular composta por quatro policiais militares. Os PMs, que agora estão afastados do serviço, acompanhavam o empresário no momento do ataque, mas são investigados por suposta negligência na proteção durante a emboscada.
Além disso, Gritzbach planejava realizar uma nova delação, implicando agentes da Polícia Civil de São Paulo em ligações com o PCC. Pouco antes de sua morte, ele registrou uma denúncia na Corregedoria da Polícia Civil, acusando policiais de se apropriarem de cinco relógios de luxo durante uma apreensão em sua casa.
Um dos relógios teria sido exibido em fotos nas redes sociais por um dos agentes, fotos que foram deletadas após a queixa.
Ministério Público acompanha investigação
Segundo Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do MPSP, o conhecimento de Gritzbach sobre as atividades criminosas do PCC era extenso: “Ele era uma pessoa que conviveu com líderes do PCC, ele sabia exatamente onde o crime organizado estava lavando dinheiro”.
A promotoria agora trabalha junto à Polícia Civil e à Polícia Federal para investigar o assassinato, considerando tanto a retaliação da facção criminosa quanto a possibilidade de queima de arquivo.
O Ministério Público reforçou seu compromisso em dar suporte à Corregedoria da Polícia Civil para esclarecer as acusações e avançar nas investigações que Gritzbach deixou em andamento.
Morte de empresário delator do PCC: questões ainda sob investigação
A Polícia Civil apura as circunstâncias da morte de Gritzbach. Além de identificar os autores dos disparos, os investigadores avaliam um suposto problema mecânico em um dos veículos da escolta do empresário, um Volkswagen Amarok.
O carro teria falhado e sido deixado em um posto de combustível próximo ao aeroporto, impedindo que os seguranças acessassem a área de desembarque com o veículo planejado.
Investigação da conduta dos policiais militares
A escolta do empresário era composta por quatro policiais militares contratados para sua segurança: Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima. No entanto, a Polícia Civil está investigando a atuação dos agentes, que estavam presentes no Terminal 2 no momento da emboscada.
A suspeita é de que os policiais poderiam ter falhado na proteção de Gritzbach, já que ele foi surpreendido por criminosos armados enquanto a escolta estava posicionada na área de desembarque. A Corregedoria da PM também instaurou um procedimento para avaliar a conduta dos policiais.
Depoimentos e apreensão de celulares
Os PMs, que usaram um veículo Trailblazer para chegar ao terminal após o problema com o Amarok, prestaram depoimento e tiveram seus celulares apreendidos para análise.
Além deles, o filho de Gritzbach, de 11 anos, e José Luiz Vilela Bittencourt, amigo do empresário que estava presente, também tiveram os celulares retidos pela polícia. Os investigadores pretendem avaliar as comunicações feitas antes do ataque, buscando indícios que possam auxiliar na identificação de eventuais cúmplices ou mandantes do crime.
Possíveis motivações para o crime
Além da hipótese de que o assassinato foi encomendado pelo PCC, a polícia considera outras possibilidades, incluindo uma possível queima de arquivo. Como delator em um acordo de colaboração premiada, Gritzbach havia prestado depoimentos que comprometiam figuras do crime organizado e agentes públicos, aos quais teria pago valores significativos em propinas.
A Polícia Federal também instaurou um inquérito para investigar o homicídio, conduzido em parceria com o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de São Paulo.
Próximos passos da investigação
As joias apreendidas e a conexão financeira entre Gritzbach e membros do PCC são aspectos críticos da investigação, que será conduzida de forma integrada pela Polícia Civil de São Paulo e pela Polícia Federal.
As autoridades buscam estabelecer se o assassinato de Gritzbach foi uma retaliação do PCC ou se houve outro motivo, como a queima de arquivo, considerando seu acordo de delação premiada e a exposição de informações sensíveis sobre o crime organizado e agentes públicos envolvidos.
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