Pessoas até 50 anos com HIV podem desenvolver quadros graves de Covid uma década antes, diz estudo

Portadores do vírus HIV na faixa dos 50 anos infectados pela Covid-19 teriam os mesmos sintomas e gravidade que não-portadores na faixa dos 60; questões raciais e socioeconômicas também são agravantes

Pessoas na faixa dos 50 anos infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana, o vírus HIV, tendem a sofrer com casos mais graves de Covid-19, de acordo com estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), o Ministério da Saúde (MS) e a Fundação Oswaldo Cruz.

A pesquisa, publicada durante esta sexta-feira, 8, aponta que a gravidade nos quadros de infecção pelo novo coronavírus nesse público é similar a de não-portadores do HIV acima de 60 anos, ou seja, pelo menos dez anos mais velhos.

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Os resultados do levantamento foram publicados na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e indicam uma tendência maior de evolução para casos graves em coinfectados por HIV e Sars-CoV-2.

Essa propensão estaria relacionada com os prejuízos causados pela imunodeficiência ao corpo humano, que o torna mais suscetível a quadros significativos de diversas doenças.

“Este envelhecimento precoce ocorre devido à aceleração de danos imunológicos e metabólicos associada ao HIV e ao tratamento prolongado com antirretrovirais, fatores que predispõem esses pacientes a comorbidades e à fragilidade imunológica”, explica a epidemiologista e uma das autoras do artigo, Flávia Alvarenga.

O trabalho foi iniciado em 2020, com a análise de 36 mil casos de coinfecção pelos dois vírus no Brasil. Além do envelhecimento precoce, o estudo também aponta outras questões como agravantes para os duplamente infectados, como a escolaridade, etnia e poder aquisitivo.

Neste cenário, a chance de uma pessoa não-branca desenvolver um quadro grave de Covid-19 seria 1,68 vezes maior do que a de uma pessoa branca.

A prevalência está ligada com as relações raciais e socioeconômicas, já que o grupo de etnia mais clara, em maioria, teria maior acesso a serviços de saúde, condições de vida saudável, melhor nível educacional e maior acesso ao diagnóstico e tratamento do HIV.

Um último ponto apresentado também é a maior gravidade entre os pacientes que não fazem uso da Terapia Antirretroviral, série de medicamentos utilizados no combate à atuação do vírus imunossupressor. Responsáveis por reduzir a carga viral do HIV e restaurar, em parte, a função imunológica, a ausência desse tratamento pode abrir espaço para o avanço de diversas doenças, como a Covid-19.

Pesquisa buscará entender impacto de vacinas nesses pacientes

Após confirmar a interferência direta do HIV nos casos de Covid-19 em seus portadores, a pesquisa agora busca se aprofundar sobre o que acontece com esses pacientes coinfectados e quais as respostas dos organismos de membros desse grupo à vacina para o Sars-CoV-2.

Os resultados deste novo levantamento são considerados essenciais pelos condutores do estudo, já que poderão servir como embasamento para a elaboração de políticas públicas voltadas aos duplamente infectados.

“Nosso grupo de pesquisa está desenvolvendo uma nova investigação para comparar o curso da Covid-19 grave entre pessoas com e sem HIV. Estamos também verificando a viabilidade de avaliar os efeitos das vacinas contra Covid-19 nessa população. Esses dados podem ser valiosos para orientar novas políticas e protocolos clínicos para pessoas com HIV no futuro”, conclui Alvarenga, que também é pesquisadora da USP.

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