Novo tipo de hantavírus é identificado em morcegos da Mata Atlântica

Descoberta pode auxiliar na prevenção de novas hantaviroses no país; doença pode causar febre, alterações na respiração, pressão baixa, entre outros sintomas

14:04 | Nov. 06, 2024

Por: Kleber Carvalho
DOENÇA matou nove pessoas no Brasil em 2024 (foto: Reprodução/Via Agência Bori)

Um novo tipo de hantavírus foi identificado em morcegos da Reserva Biológica de Guaribas, na Paraíba, área pertencente à Mata Atlântica Brasileira. A descoberta foi publicada nesta quarta-feira, 6, na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, por meio de estudo realizado pelas universidades federais do Rio de Janeiro e da Paraíba.

A pesquisa analisou 100 amostras de tecido pulmonar e renal de morcegos da espécie cauda-curta de Seba capturados na reserva florestal. Os exemplares apresentaram diferenças genéticas significativas em relação a outros vírus detectados em roedores silvestres, configurando assim a possibilidade de ser uma nova linhagem de hantavírus. As informações foram divulgadas pela Agência Bori.

No Brasil, o vírus é responsável pela Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus, doença que matou 909 pessoas no Brasil desde o início dos anos 2000, conforme dados do Ministério da Saúde (MS). Transmitida através da inalação de aerossois formados pela urina, fezes e saliva de roedores infectados, a doença pode causar sintomas como febre, alterações na respiração e baixa pressão.

Descoberta alerta para necessidade de mais estudos

Para o autor do artigo, Patrick Jesus de Souza, a principal causa de transmissão dessa doença é o crescente contato de seres humanos com roedores, e agora morcegos, causado pelas mudanças climáticas, que causam a destruição dos habitats naturais desses seres vivos. De acordo com ele, a descoberta do vírus em espécies de morcegos é um alerta para a necessidade de estudos sobre a ameaça do avanço das hantaviroses.

“Embora as infecções humanas estejam associadas aos hantavírus transmitidos por roedores, as crescentes descobertas de novos hantavírus em morcegos, com imprevisíveis potenciais patogênicos, aumentam o risco de exposição humana ao vírus”, explica o também doutorando no programa de Medicina Tropical da Fiocruz.

Após a identificação do vírus no morcego-de-cauda-curta de Seba, a pesquisa se volta a investigar uma possível incidência do vírus em outras espécies da região, através de parceria firmada entre o Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses da Fiocruz, o Laboratório de Mamíferos da UFPB e o Laboratório de Diversidade e Doenças Virais da UFRJ.

O objetivo é criar um panorama sobre a prevalência do vírus e a possibilidade do sequenciamento genômico completo, bem como o nível de parentesco com outros hantavírus.

“A identificação genômica de um novo hantavírus possibilita o desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico e até mesmo de vacinas que confiram proteção contra estes agentes, além do conhecimento acerca da diversidade viral e de hospedeiros animais, que auxiliarão a vigilância em saúde na adoção de estratégias de prevenção e controle da doença”, pontua Patrick.