Pedalar pode otimizar tratamento de parkinson e alzheimer, indica estudo
Pesquisa analisou atividade cerebral de 24 adultos durante momentos de repouso e pedalada; possível auxílio no tratamento de doenças neurodegenerativas está relacionado à repetição de movimentos
15:00 | Out. 02, 2024
A prática do ciclismo, seja ao ar livre ou em bicicletas ergométricas, pode auxiliar no tratamento de parkinson e de alzheimer, conforme estudo realizado pelas universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Paraná (UFPR), em parceria com instituições do Reino Unido.
De acordo com a pesquisa, publicada nesta quarta-feria, 2, na revista Plos One, os benefícios no combate a doenças neurodegenerativas estariam ligados à repetição de movimentos exercida durante o pedalar.
Os primeiros indícios da ligação entre o ciclismo e a melhoria nas condições clínicas dos pacientes surgiram em meados de 2007, nos Países Baixos, quando uma pessoa com parkinson relatou para o seu médico que conseguia pedalar normalmente. O homem tinha uma condição chamada de "marcha congelada", que é quando o enfermo possui grandes dificuldades para se locomover.
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O caso despertou a curiosidade do médico, que realizou uma série de testes e exames para compreender por que aquilo estava acontecendo. Com os resultados, ele chegou à conclusão de que os movimentos repetitivos feitos ao pedalar são mais fáceis para o cérebro humano que o próprio caminhar.
"O pedal, ele articula as duas pernas. Isso gera uma sequência, que a gente chama de estimulação sensorial, e essa estimulação vem para o nosso cérebro como se fosse um processo de retorno, para o nosso cérebro entender o que a gente está fazendo. O pedalar faz com que esse movimento fique contínuo, e isso gera a ativação de um conjunto de neurônios que nós chamamos de dopaminéticos, e são esses neurônios que reduzem os sintomas da doença de parkinson", explica o neurocientista e líder do estudo, John Fontenele Araújo.
A partir deste caso, os pesquisadores da UFRN começaram a analisar, em 2018, os impulsos nervosos de 24 adultos saudáveis em momentos de repouso em cima de uma bicicleta ergométrica e enquanto eles pedalavam. Os indivíduos ficavam dois minutos em cada estado, e, conforme os dados obtidos, a atividade cerebral era menor e mais organizada durante a atividade física.
Araújo também explica que para o cérebro humano o processo de pedalada é parecido com o da aprendizagem. À medida que o tempo passa, o cérebro precisaria de cada vez menos esforço para produzir os movimentos necessários para o exercício, como a rotação dos membros inferiores, por exemplo.
Entretanto, este efeito é momentâneo, sendo as melhorias perceptíveis apenas durante algumas horas depois do exercício. Desse modo, o recomendável é que o paciente pedale duas vezes ao dia, logo pela manhã, para melhorar a atividade cerebral durante o início da rotina, e ao anoitecer, para renovar as melhorias.
As práticas independem se feitas para o lazer ou de forma esportiva, pois ambas têm o mesmo resultado. Uma atividade tranquila, que dure cerca de meia hora com intensidade entre 40 e 80 pedaladas por minuto já pode causar mudanças perceptíveis no paciente. Entretanto, a atividade pode ser benéfica para outros sistemas além do cerebral, potencializando o funcionamento de outros órgãos do corpo.
"O que ocorre é que ao pedalar você acaba melhorando o seu cardiovascular. Você melhora o seu coração, melhora a respiração, a sua circulação... E aí os outros problemas que você tinha, como hipertensão e respiratórios, melhoram. Melhora a qualidade de vida do paciente a médio e longo prazo", acrescenta Araújo.
O estudo também ressalta que a maior concentração na atividade cerebral é uma característica presente também em outras atividades repetitivas, como a meditação e ações cíclicas no local de trabalho. A pesquisa agora deve avançar para uma nova fase, onde serão analisadas as reações do cérebro em diferentes condições de pedalada.
O intuito é descobrir quais e quantos impulsos nervosos são liberados em modelos distintos de bicicleta e ambientes de realidade virtual. Desta vez, devem participar dos estudos atletas de alto desempenho e pacientes diagnosticados com condições neurodegenerativas.