Metade das espécies de peixes do Brasil pode ser prejudicada caso perda de recifes chegue a 25%

Estima-se que a presença dos corais tenha sido reduzida pela metade desde 1950 em todo o planeta. A situação acontece principalmente pelas emissões de gás carbônico

Metade das espécies de peixe presentes na costa do Brasil pode ser prejudicada de alguma forma, caso a perda dos recifes de corais chegue a 25%, de acordo com um estudo publicado nesse sábado, 28, na revista científica Global Change Biology. A pesquisa, que foi conduzida por universidades brasileiras e estrangeiras, indica que atividades humanas e as mudanças climáticas são os principais fatores responsáveis pela perda.

O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade de Évora, em Portugal.

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O coral, de modo simples, é a árvore do mar. Ele é um organismo bio-construtor, funciona como se fosse um engenheiro do ecossistema, que torna a vida de outros organismos, como peixes, lagostas, caranguejos e lulas possível. O coral, além disso, também é capaz de imobilizar carbono e purificar águas.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), uma a cada quatro espécies de animais marinhos vive em recifes de corais. Entre elas, estão 65% das espécies de peixe. "As espécies [de peixe] tendem a preferir ambientes que trazem mais alimentos, trazem refúgio e locais para reprodução. E os corais têm o papel de agregar esse habitat e atrair essas espécies, porque eles fornecem vários desses recursos", explica André Luís Luza, autor correspondente do artigo.

Estima-se que a presença dos corais tenha sido reduzida pela metade desde 1950 em todo o planeta. A situação, segundo Luza, acontece principalmente pelas emissões de gás carbônico (CO2) que agravam o efeito estufa e, consequentemente, o aquecimento do oceano, o branqueamento dos corais e a perda desses organismos. "Essas ondas que a gente sofre na terra também são muito evidentes no oceano."

Os pesquisadores, então, simularam três cenários, com oito espécies de corais e 63 espécies de peixes, para saber quais seriam os impactos da perda dos recifes no ecossistema marinho. "A gente fez o que a gente chama de estudo in silico, um Estudo de Simulação de Computador, [em busca de entender] o que acontece com um sistema se a gente tirar uma espécie dela", contextualiza Luza.

O primeiro cenário focou na perda dos corais com os quais os peixes mais se associam. Neste, os impactos foram mais severos. O segundo analisou os corais que são mais vulneráveis ao branqueamento, fenômeno que pode causar a mortalidade desses indivíduos. Já o terceiro funcionou como controle, avaliando a perda aleatória dos corais.

Luza ainda ressalta que a perda de corais e, consequentemente, dos peixes também pode gerar uma série de impactos socioambientais. "Se você está perdendo espécies que têm um potencial estético, algum atrativo, você vai ter um prejuízo direto no turismo."

"E também na pesca. Se você tem espécies com mais ocorrência em locais com maior cobertura de corais, pode acontecer um declínio populacional se você perder essa cobertura. Então, a gente poderia perder populações de peixe disponíveis para pesca", acrescenta.

No futuro, os pesquisadores pretendem formular experimentos de campo para tentar detectar mais diretamente os efeitos apontados pelo estudo. Também há a intenção de aprofundar as pesquisas sobre como processos ecossistêmicos são influenciados por impactos locais e regionais, como a poluição e outras situações, nos recifes.

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