Faculdade em Campinas importa cabeças congeladas dos EUA para aulas de harmonização facial
Remoção das partes é previamente autorizada em vida pelos donos dos corpos; uso de cabeças reais auxilia no melhor treinamento dos estudantes
20:46 | Set. 28, 2024
Uma faculdade no interior do estado de São Paulo tem importado cabeças congeladas para aulas de harmonização facial. Localizada na cidade de Campinas, o Centro de Treinamento Acadêmico utiliza peças vindas dos Estados Unidos para simular crânios de pacientes reais durante as lições.
Conhecida como “fresh frozen”, a técnica garante uma experiência mais realista para o estudante, a partir do uso de uma cabeça real. Entre os benefícios destacados por quem utiliza o procedimento, está a ausência de produtos químicos como o formol na conserva das cabeças, que podem danificar a estrutura do cadáver. As informações são do portal G1 Campinas e Região.
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Apesar de gerar espanto inicial, a prática é totalmente legalizada no Brasil, já que a doação de corpos para a ciência está prevista no artigo 14 do Código Civil. Entretanto, em casos onde as doações sejam em quantidade insuficiente, as instituições de ensino e pesquisa podem realizar a importação de cadáveres, mediante autorização do governo federal.
Para a cirurgiã-dentista e professora da CTA Campinas, Erika Bueno Camargo, a técnica é adotada para preparar melhor o aluno que está se preparando para realizar o procedimento em pessoas vivas. Com peças em bom estado de conservação, é possível aprimorar também a parte sensorial dos estudantes no trato com as estruturas de um crânio humano.
“A cabeça é perfeita, então o aluno tem essa sensação de conseguir passar o fio de PDO, o ácido hialurônico, e o subcutâneo do 'fresh frozen' e sentir como seria no paciente de verdade”, explica Erika, em entrevista ao G1.
Procedimento exige uma série de cuidados
Graças à efetividade da técnica de congelamento, uma cabeça pode ser utilizada mais de uma vez para o ensino da harmonização facial. Os procedimentos feitos por cada aluno são facilmente removíveis do cadáver, não prejudicando assim a experiência do próximo estudante.
Entretanto, existe um limite de usos para cada cabeça. Quando este número é atingido, geralmente após alguns meses, o crânio passa por um protocolo de devolução para os Estados Unidos.
“Com o passar do tempo o cadáver não tem um cheiro agradável, aí a gente avalia que deve descartar [...] quando a epiderme sai do cadáver, ele fica desprotegido e tem um cheiro mais forte”, conta a professora ao G1.
Apesar de ser autorizado ainda em vida pelo dono da cabeça, o procedimento exige respeito ao material que está sendo utilizado. Por isso, os alunos são proibidos de entrar no laboratório com celulares ou qualquer outro dispositivo de filmagem, para evitar que o material seja exposto fora do local de ensino.
Também é previsto o estranhamento dos alunos quanto ao trabalho com a cabeça de uma pessoa morta, e por isso, eles são psicologicamente preparados antes de as aulas começarem. Em respeito ao cadáver, também é feita uma oração, anterior a cada lição.