Unicef aponta que 33 milhões de crianças enfrentam o dobro de dias extremamente quentes no Brasil

Os dados divulgados nesta segunda-feira, 23, fazem um comparativo entre a média de dias quentes nos anos 1970 e nos anos 2020/2024

19:52 | Set. 23, 2024

Por: Gabriela Monteiro
Imagem de apoio ilustrativo (foto: Reprodução/ Freepik)

Um levantamento feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apontou que 33 milhões de crianças enfrentam pelo menos o dobro de dias extremamente quentes em comparação ao que seus avós passaram. O dado, divulgado nesta segunda-feira, 23, faz um comparativo entre a média nos anos 1970 e a média dos anos 2020/2024.

A análise mostra a velocidade e a escala com que os dias extremamente quentes – aqueles com registro de temperatura acima dos 35ºC – estão crescendo. No Brasil, esta média passou de 4,9 dias na década de 70 para a média de 26,6 dias dos anos 2020, o que aponta que 33 milhões de crianças enfrentam o dobro de dias mais quentes do que seus avós.

O levantamento aponta ainda o aumento de ondas de calor. Neste caso, consta o período de três dias ou mais com a temperatura máxima sendo 10% maior que a média da temperatura local, o que corresponde a 31,5 milhões de crianças enfrentando duas vezes mais ondas de calor que seus avós.

Conforme o especialista em Mudanças Climáticas do Unicef no Brasil, Daniel Moura, a análise foi feita para o mundo inteiro com o exercício de tentar encontrar uma nova maneira de olhar para os dados de aumento de temperatura.

“Nós sabemos que a temperatura do planeta aumentou nas últimas décadas, mas o que queríamos mostrar são os pontos mais extremos do aumento de temperatura, olhando para as zonas de calor e olhando para os dias extremamente quentes. Então o levantamento veio para tentar encontrar outras formas de mostrar os impactos das mudanças climáticas e mostrar como elas estão mudando o clima do planeta”, diz.

O especialista conta também que crianças e adolescentes são afetados por mais tempo e com maior intensidade com os impactos de ondas de calor, enchentes, secas, fumaças e outros eventos climáticos extremos.

“Os perigos relacionados ao clima para a saúde infantil são multiplicados pela maneira como afetam a segurança alimentar e hídrica, a exposição à contaminação do ar, do solo, e da água, e a infraestrutura, pois interrompem os serviços para crianças, incluindo educação, e impulsionam deslocamentos. Além disso, esses impactos são mais graves a depender das vulnerabilidades e desigualdades enfrentadas pelas crianças, de acordo com sua situação socioeconômica, gênero, raça, estado de saúde e local em que vive”, alinha o especialista Daniel Moura.

Moura explica também que o estresse térmico no corpo, causado pela exposição ao calor extremo, ameaça a saúde e o bem-estar de crianças e mulheres grávidas. Níveis excessivos de estresse térmico também contribuem para a desnutrição infantil, doenças não transmissíveis, como doenças relacionadas ao calor, e tornam as crianças mais vulneráveis a doenças infecciosas que se espalham em altas temperaturas, como malária e dengue.

“O excesso de calor torna a transmissão transmitidas por mosquitos como malária e dengue e etc, mais fáceis, o excesso de calor está associado a uma série de dificuldade de desenvolvimento, já que se tem evidências, por exemplo, de que a partir do momento que a temperatura ultrapassa a marca do 30ºC, a nossa capacidade de raciocinar, de aprender, começa a diminuir, ou seja, coloca a saúde e o desenvolvimento de crianças em risco”, complementa.