Bicho-de-pé: entenda o que é a infecção, quais os sintomas e como tratar

Infecção causa dor, coceira no pé e desconforto. Contaminação também pode acontecer várias vezes no decorrer da vida. Entenda mais sobre o bicho-de-pé

10:18 | Jul. 16, 2024

Por: Odara Creston/ especial para O POVO
Infecção é propícia em terrenos arenosos, principalmente em áreas de criação de animais, muito comum em sítios e regiões interioranas (foto: OPAS/OMS/Sonia Mey-Schmidt)

A tungíase, popularmente conhecida como bicho-de-pé, é um problema de saúde causado pela pulga Tunga Penetrans pertencente à classificação biológica (taxonomia): família dos tungídeos. Originário da América Central e América do Sul, pode causar coceira e desconforto.

Tem esse nome por ser mais comum atingir o pé das pessoas, mas a infecção pode ocorrer em outras regiões do corpo e mais de um ponto ao mesmo tempo. A contaminação também pode acontecer várias vezes no decorrer da vida.

A dermatologista Melina Albuquerque explica que o contágio é propício quando a pessoa anda com o pé descalço em terrenos arenosos, principalmente em áreas de criação de animais, muito comum em sítios e regiões interioranas. O bicho-de-pé é causado pela penetração da fêmea da pulga Tunga Penetrans na pele.

Quando a fêmea realiza a penetração cutânea, na parte interior do corpo fica a cabeça e o tórax da fêmea, já para o exterior, formando a ferida, fica a região anal da pulga para o desenvolvimento dos ovos.

Melina Albuquerque comenta que apesar da pulga ser bem pequena, ela se alimenta de sangue e cresce bastante com o desenvolvimento dos ovos, podendo chegar ao tamanho de uma ervilha, “esse ciclo dura em média três semanas”.

 

Bicho-de-pé: quais são os sintomas e o tratamento?

A estudante Beatriz Moreira, 19, relata que já teve bicho-de-pé três vezes na infância, duas vezes no pé e uma na mão: “Não conseguia colocar o pé no chão nem calçar sapatos e sentia uma coceira anormal”. A dermatologista Melina Albuquerque informa que a infecção pode ocasionar prurido – coceira que pode surgir em diferentes pontos da pele – intensa e também evoluir com dor.

“No início predomina o prurido e com o passar dos dias o crescimento da lesão pode evoluir com fortes dores”, explica a dermatologista. O tratamento consiste em remover a pulga da pele, sempre com limpeza adequada e uso de material estéril.

Essa remoção pode ser realizada, por exemplo, por meio do uso de agulhas ou uso de um aparelho de eletrocautério – promove a descarga de energia elétrica controlada para remoção superficial na pele. Também podem ser feitos antiparasitários tópicos e orais, recomendados em casos de mais de uma lesão ao mesmo tempo.

A dermatologista Melina Albuquerque comenta sobre a importância de procurar um médico nessas situações para evitar infecções secundárias. “O paciente pode tentar remover a pulga em casa e terminar infeccionando o local e piorando o quadro." Para evitar a infecção de bicho-de-pé, é importante evitar caminhar com os pés descalços em terrenos arenosos.

Se a infecção for causada por mais de uma pulga, é necessário que haja ivermectina, uma droga utilizada em animais, mas que no ser humano tem sua aplicabilidade em algumas dermatozoonoses.

“Como droga isolada, a ivermectina age muito bem tanto na tungíase como na larva migrans, que é o bicho geográfico. Geralmente tem um bom resultado, mas, às vezes, a tungíase pode se tornar grave, então alguns pacientes podem ter o membro amputado devido a infecções secundárias, pode ter quadros de tétano. Às vezes só a ivermectina não é suficiente”, complementa a dermatologista Genusia Matos.

A dermatologista ressalta que repelentes à base de óleo de coco são altamente eficazes na regressão da doença daqueles indivíduos que são acometidos pela infecção. O produto também é muito utilizado na prevenção de infestações.

Qual a diferença entre bicho-de-pé e bicho geográfico?

É habitual que as pessoas confundam essas duas infecções, pois ambas são transmitidas da mesma forma, causam coceira e costumam afetar os pés. No entanto, são causados por diferentes agentes.

O bicho-de-pé é uma lesão em forma de ponto ou nódulo com o centro preto, já o bicho geográfico é uma lesão avermelhada linear e sinuosa, que vai evoluindo, pois a Larva Migrans – agente causador – vai se deslocando na pele. A dermatologista Lara de Andrade explica que o nome popular da infecção tem origem pelo padrão visual das curvas, que formam mapas.

O bicho geográfico é causado pela penetração da larva de um verme que parasita em cães e gatos, por essa razão a contaminação é mais comum em terrenos arenosos que circulam animais. O calor e a umidade também contribuem para a penetração da larva, sendo bem comum ocorrer após passeios em praias e durante períodos chuvosos.

Bicho-de-pé pode levar à amputação?

Por afetar uma parcela da população que tem pouco acesso à saúde, existem casos de tungíase que resultaram na amputação do pé do hospedeiro. Isso pode ocorrer pela tentativa de retirar a pulga com uma agulha não esterilizada, ocasionando na contaminação do tétano ou infecções secundárias.

Conforme explica a dermatologista Genucia Matos, houve relatos de que muitos indígenas da comunidade Yanomami tiveram que amputar o pé em detrimento da degeneração da doença na pele.

“É uma doença que pode se tornar grave, essas infecções são mais comuns nas zonas pobres, mais remotas, nas zonas rurais, e também em comunidades das metrópoles, nas aldeias indígenas. É mais comum porque nesses locais as pessoas não utilizam sapatos”, esclarece. 

Cuidado com o solo

Para controlar a doença, preliminarmente, é necessário que haja o tratamento do solo e dos animais, não apenas o ser humano, pois se o solo no qual o indivíduo toca não é tratado, as chances das pessoas de adquirirem a infecção é maior. (Colaborou: Luíza Vieira/Especial para O POVO)