Aumento da acidez do oceano Atlântico gera riscos aos ecossistemas marinhos do Brasil, aponta estudo

O pH das águas diminuiu em aproximadamente 0,001 unidade por ano, o que representa uma queda de cerca de 0,4%. Quanto menor o pH, maior a acidez

As águas da Amazônia Azul, área marítima sob jurisdição brasileira no oceano Atlântico tropical, tornaram-se mais ácidas nos últimos 20 anos, de acordo com uma pesquisa publicada pela Frontiers in Marine Science nesta segunda-feira, 1º. O pH das águas diminuiu em aproximadamente 0,001 unidade por ano, o que representa uma queda de cerca de 0,4%. Quanto menor o pH, maior a acidez. A situação pode colocar os ecossistemas marinhos do Brasil em risco.

“A diminuição [do pH] causa muitas mudanças químicas nas águas do mar. Atrapalha o crescimento de criaturas com estruturas de carbonato de cálcio, como corais, ostras, mariscos, mexilhões, além dos organismos pequenininhos que a gente não vê [como os plânctons]”, destaca Letícia Cotrim, professora da Faculdade de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Faoc/Uerj).

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Carlos Musetti, coautor do artigo e pesquisador do instituto alemão Geomar Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel, destaca que o pH da água pode ser alterado por diversos fatores, inclusive naturais. O processo, no entanto, é intensificado pelas emissões de gás carbônico (CO2).

Em maio de 2024, 426,90 Partes Por Milhão (ppm) de CO2 foram emitidos, segundo registros do Observatório de Mauna Loa, da agência estadunidense National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), localizado no Havaí. O número marca um recorde de emissões na era humana. No mesmo período do ano passado, 424,00 ppm foram emitidos.

Segundo Letícia, a acidificação ainda não é tão perceptível para a população. O cenário, no entanto, pode mudar no médio e longo prazo. “Como o pH mais baixo atrapalha o crescimento e a reprodução de vários organismos que têm um papel importante na cadeia alimentar do oceano — especialmente os pequenininhos, como o plâncton — projeções mostram que isso pode vir a ter um impacto na disponibilidade de pescados, que se alimentam do plâncton.”

Carlos ressalta que a situação também gera uma série de impactos socioeconômicos. “[A acidificação] acaba impactando os povos pesqueiros, o que pode impactar a alimentação dos seres humanos, na economia. Existem lugares que dependem do turismo e também são prejudicados. Então, é um fenômeno que, além [de afetar a] natureza, impacta a vida dos humanos em diversos fatores.”

O estudo analisou dados medidos entre 1998 e 2018 sobre a temperatura e a salinidade da superfície do mar. Os números foram registrados por uma boia do projeto Prediction and Moored Array in the Tropical Atlantic (Pirata), vinculada a um programa colaborativo entre Brasil, França e Estados Unidos.

A análise foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do instituto de pesquisa alemão Geomar Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel.

Fonte: Agência Bori

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