Pantanal: incêndios crescem mais de 900% e combate começa antes do previsto

Queimadas produzidas por ações humanas e período de seca dos rios da região contribuem para o agravamento dos focos de incêndio. O aumento de temperatura causado pelas mudanças climáticas também influencia

Em meio à seca, o Pantanal volta a sofrer com a ameaça dos incêndios florestais este ano. Apesar de serem esperados mais focos de incêndio em julho e agosto deste ano, os índices dos primeiros seis meses de 2024 deixaram autoridades e organizações em alerta.

De janeiro a junho, os focos de incêndio no Pantanal aumentaram 974% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do Programa de BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

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“É a seca que traz os incêndios”, afirma a doutora Cátia Nunes da Cunha, especialista em Ecologia e Vegetação das Áreas Úmidas da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

A profissional indica que o bioma passa por ciclos úmidos e secos, influenciado pelos regimes de chuvas e, mais recentemente, pelas ações humanas. Mas outros aspectos também podem ter influência.

“O cientista tenta explicar citando o aumento da temperatura do Oceano Atlântico, ou um sinal do El Niño, mas o Pantanal está localizado atrás da Cordilheira dos Andes, então a gente não tem exatamente ainda o conhecimento do que efetivamente altera tanto essa questão climática”, explica.

Pantanal: bioma passa por ciclos alternados de cheias e secas

Cátia explica que o Pantanal que conhecemos - e inclusive foi tema de novelas - nem sempre existiu desta maneira. Entre 1960 e 1973, a seca que assolou a região exigiu que os fazendeiros perfurassem poços e construíssem bebedouros para os animais e a população.

Mas no ano seguinte, uma grande inundação surpreendeu a todos. “A mídia só registrou a história recente do Pantanal. Naquela época, não tínhamos mídia para registrar, não tínhamos cientistas trabalhando no Pantanal… Então era um lugar bastante isolado no Brasil”, afirma a pesquisadora.

No entanto, o aumento dos incêndios desde 2020 não são somente relacionados com causas naturais.

A interferência crescente do ser humano na região e o aumento de temperatura como consequência das mudanças climáticas têm contribuído para a emergência na região.

“Sabemos que as cidades hoje são super populosas. Naquela época poucas pessoas acessavam o Pantanal, agora temos um turismo, uma curiosidade e vem todo um excesso de pessoal. Outras situações desfavoráveis em sinergia com as mudanças climáticas. A situação é altamente preocupante”.

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Pantanal: incêndios prejudicam a rotina da população

A população já começou a sentir, mais uma vez, o impacto dos incêndios. No início deste mês, crianças tiveram que ser evacuadas de uma escola em Corumbá, a 413 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

As aulas foram suspensas por 10 dias devido à aproximação do fogo e a forte nuvem de fumaça que cercava o local, de acordo com informações do G1 Mato Grosso do Sul.

E os responsáveis por conter o fogo são os próprios moradores de Corumbá, que fazem parte da equipe de brigadistas. Durante seis meses do ano, eles fazem palestras nas escolas da região, realizam seus outros trabalhos, e nos meses seguintes, combatem as queimadas.

Pantanal: maioria dos focos de incêndios é causada por humanos

A área do Pantanal também está sujeita a incêndios causados por raios durante as tempestades. O próprio bioma é adaptado ao fogo e se recupera em ciclos. No entanto, as ações humanas prejudicam essa recuperação.

As queimadas causadas por humanos correspondem a 84% dos registros, segundo pesquisa realizada por Renata Libonati, pesquisadora do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

E conforme o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atualmente, o Pantanal registra uma seca ainda mais severa do que a de 2020, quando foi registrado o pior incêndio no bioma.

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Pantanal: bacia do Rio Paraguai registra seca recorde

Enquanto os focos de incêndio aumentam, as bacias hidrográficas do Pantanal também registram recordes de seca. O rio Paraguai, o principal da região, está mais de 2 metros abaixo da média.

No último dia 13 de maio, a Agência Nacional de Águas declarou situação crítica de escassez hídrica na região hidrográfica do Paraguai, que inclui o Pantanal.

A especialista em vegetação de áreas úmidas, Cátia da Cunha, afirma que a situação de seca no Pantanal agrava os incêndios.

“Em 2019, a gente já viu na rede hidrológica lá em Ladário, na região de Corumbá, já observaram a diminuição do nível da régua de água e daí já começou um monitoramento mais acessível. Em 2020, houve “o grande incêndio””, comenta.

Verificou-se que mesmo as fazendas que não tiveram incêndios, tiveram que lidar com a seca e com a vegetação morrendo. E a vegetação seca atua como um combustível natural que propaga o fogo.

Pantanal: o que fazer para remediar os danos?

No último dia 5 de junho, o governo federal instalou uma sala de crise para tratar sobre o combate aos incêndios florestais no País, especialmente no Pantanal e na Amazônia. Os governadores do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul aderiram à iniciativa.

O acordo prevê a definição de áreas prioritárias para a prevenção, combate e o manejo integrado do fogo, além da disponibilização de recursos para as ações.

A especialista, no entanto, chama atenção para o combate à seca na região do Pantanal, já que a água é necessária também para apagar os focos de incêndio: “Nós precisamos criar a água na paisagem, fazendo tanques e poços artesianos Categoria de poço tubular, cujas águas subterrâneas fluem espontaneamente para a superfície
”.

"Temos que cuidar antes de precisar restaurar. Em qualquer parte do Brasil "

Cátia Nunes da Cunha

Segundo ela, a preocupação com o fogo deve vir acompanhada da preocupação com a seca, pois o fornecimento de água para os animais depois do resgate, e para a população, foi um problema sério em 2020.

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