Bisfenol: presente em copos plásticos, saiba como o composto pode fazer mal a saúde

Especialistas apontam que substância pode ser prejudicial se ingerida em grande quantidade

08:00 | Mai. 30, 2024

Por: Gabriela Almeida
BPA está presente em copos plásticos (foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Uma lata de alimento ou aquele copo plástico usado para tomar café. Esses utensílios parecem inofensivos no dia a dia, mas podem liberar uma substância conhecida como Bisfenol A (BPA) que, se acumulada em grandes quantidades no organismo, tem potencial de desencadear doenças como cancêr.

Eveline Gadelha, endocrinologista que atua no Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que o bisfenol é um composto químico "bastante utilizado" industrialmente. Ele está presente em copos, vasilhames e garrafas plásticas, em filmes plásticos, PVC, tubos PVC, em resinas que revestem latas de alimentos e bebidas, em selantes dentários e até mesmo em cupons fiscais. 

Ainda segundo profissional, quando exposto a extremos de temperatura esse composto solta o Bisfenol A (BPA), que é um tipo da substância— podendo contaminar alimentos ou liquidos e ser facilmente ingerido.

O BPA é liberado em quantidades elevadas em comidas, por exemplo, quando o plástico é aquecido no microondas ou quando alimentos são acondicionados em alta temperatura, conforme aponta o nutricionista Fábio Félix. Essa liberação também pode ocorrer quando há um resfriamento do plástico. 

"O BPA pode contaminar alimentos para o consumo humano por ser uma substância que quando exposta a temperaturas muito elevadas ou baixas (frio intenso) pode se desprender do alimento e ser ingerida quando o alimento é consumido, sendo por sua vez absorvido pelo intestino", explica o profissional. 

A presença de grandes quantidades da substância no corpo humano pode ter consequências. "(O BPA) pode agir como um disruptor endócrino (interferindo) no nosso metabolismo e produção hormonal, além de dificultar a regulação de vias metabólicas fundamentais para a funcionalidade do nosso organismo, podendo ter correlação com várias comorbidades e patologias, que vão desde problemas a nível cardiovascular, alterações do eixo hormonal, carcinomas e alterações no estado emocional", pontua Fábio. 

Completando a fala do profissional, a endocrinologista Eveline Gadelha aponta que há diversas evidências de estudos feitos em células humanas e em animais expostos de que a substância tem impacto na saúde, além também de existirem pesquisas de associação em populações humanas expostas.

"Podemos dizer com base nas evidências científicas disponíveis que a presença de bisfenol já foi documentada em diversos líquidos humanos (leite humano, liquido aminiotico, cordão umbilical, sémen, urina) confirmando o quanto estamos absorvendo esse produto no nosso cotidiano. Seja através da pele, da respiração e da ingestão de alimentos e líquidos envazados em plásticos ou latas", diz. 

Ainda conforme especialista, a maior concentração de bisfenol tem sido associada a condições como obesidade, redução da contagem de esperma, puberdade precoce e a câncer de mama e de próstata. Ela explica que o bisfenol pode também interagir com o receptor de estrogênio (hormônio cuja ação está relacionada com o controle da ovulação) como se fosse o próprio hormônio, ou bloqueando a sua ação.

Proibição no Brasil

O efeito do BPA no organismo já fomentou discussões em diversos países. Segundo informações documentadas pelo Ministério da Saúde (MS), em 2010 a Organização Mundial de Saúde (OMS) reuniu especialistas de várias nações para discutir o assunto e o encontro resultou em um relatório que apontou que consequências foram observadas mediante ingestão de grandes doses da substância.  

No entanto, documento apontou que alguns estudos associaram desfechos como desenvolvimento neurológico específico ao sexo, ansiedade, mudanças pré-neoplásicas nas glândulas mamárias com doses mais baixas do Bisfenol A (BPA). Pesquisas levaram paises a adotarem medidas de precaução.

No Brasil, por exemplo, desde janeiro de 2012 está vigente a RDC n. 41/2011, resolução que proíbe a importação e a fabricação de mamadeiras que contenham Bisfenol A. Desde então a comercialização desses utensílios em policarbonato está proibida de ser realizada no País.

Já em novembro de 2023 a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei (PL) 3075/11, "que proíbe a comercialização e a oferta, mesmo que gratuita, de mamadeiras, bicos e chupetas que contenham" o BPA no Brasil.

Proposta é inserida na Lei nº 11.265, de 2006, que "regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos de puericultura correlatos", e segue atualmente aguardando parecer na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). 

Dicas de como evitar a exposição ao BPA

  1. Procure acondicionar alimentos e bebidas em vasilhames de vidro.
  2. Utilize louça ou vidro ao aquecer alimentos no micro-ondas.
  3. Prefira consumir bebidas em copos e garrafas de vidro.
  4. Reduza o contato manual com cupons fiscais em papel térmico. Opte pelo envio do comprovante de compra por e-mail.
  5. Prefira o consumo de agua filtrada.
  6. Realize o descarte apropriado de recicláveis para evitar que os plásticos sejam decompostos no meio ambiente contaminando o solo.
  7. Pelo principio da cautela, gestantes e lactentes especialmente devem evitar a exposição.
  8. Evitar brinquedos plásticos particularmente para bebês e crianças pequenas.

Fonte: Eveline Gadelha, endocrinologista