Aprovado em 5 concursos de cartório usou ChatGPT para estudar

O concurseiro começou a usar a inteligência artificial em 2023

Aprovado aos 23 anos em cinco concursos públicos de cartório, o tabelião Victor Volpe Fogolin usou o ChatGPT, modelo de inteligência artificial (IA), para estudar para as provas.

Victor explica que a principal estratégia usada com a IA não era de fazer perguntas diretas ao robô, mas ensinar a partir de resumos que ele mesmo escreveu.

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O tabelião começou a usar a ferramenta em janeiro de 2023 como um complemento para os estudos focados nos concursos de cartório, que mantinha há quatro anos.

Desde 2019, ele e a namorada, Luiza Dias Seghese, viajaram para vários estados para fazer as provas.

Veja como Victor usou o ChatGPT

1. Treino para a prova oral

A preparação de Victor para os exames incluía aprender os conteúdos, fazer resumos e usar a criatividade para criar possíveis perguntas de prova oral.

O tabelião detalha que compartilhava os resumos com a ferramenta para que ela aprendesse sobre o assunto e elaborasse possíveis questões.

Outra estratégia que ampliou a eficácia do ChatGPT foi pesquisar o currículo dos membros da banca que iriam participar da prova oral, segundo ele.

"Aí eu jogava as informações para o ChatGPT e pedia: 'Com base nesse currículo, quais temas você acha que são mais relevantes para esse examinador?'".

Os nomes dos examinadores são divulgados junto com o edital do concurso.

Segundo o concurseiro, muitas das questões que caíram nas provas orais dele e da namorada foram previstas pela inteligência artificial.

Além das perguntas, a técnica utilizada serviu para ajudar o estudante a montar as respostas baseadas em pontos de vista de diferentes autores.

2. Questões objetivas

Além das provas orais, o ChatGPT foi utilizado para as provas objetivas dos concursos, de múltipla escolha.

Victor também utilizava a mesma técnica de enviar resumos e artigos de lei para que o robô criasse questões de teste.

"ChatGPT, você será um membro examinador da banca do concurso público de cartório. Com base nas minhas anotações e em tais artigos do Código Civil, formule questões de testes com quatro alternativas".

3. Sugestões de artigos

Outro meio adotado por Victor era que a IA encontrasse artigos e temas específicos voltados para o assunto.

O tabelião destaca que este foi um dos poucos casos em que o repertório do próprio robô foi utilizado.

Victor também pontua que o Bard, a IA do Google, foi uma alternativa para encontrar artigos acadêmicos, já que há integração com o Google Scholar, plataforma de pesquisa acadêmica.

4. Facilitação na linguagem dos conteúdos

Outro caminho seguido por Victor foi para que a ferramenta simplificasse os assuntos complexos em termos mais simples.

"No direito, tem termos que ninguém entende, nem mesmo quem estuda há anos. Então, eu jogava a frase para o ChatGPT e pedia: 'Explique isso em palavras simples, para um leigo'".

5. Resumo de casos grandes

O concurseiro relembra que, durante os estudos para concurso, era necessário ler grandes casos jurídicos, alguns com até 200 páginas. Nesta questão, a IA contribuiu para a simplificação da tarefa, mas na versão paga.

"Dá para subir o PDF na versão paga, de várias páginas. Então, eu mandava o caso no ChatGPT e pedia: 'Resuma esse texto com os principais pontos, ou com o foco em argumentos para prova oral', por exemplo".

6. Auxílio para a redação

Para a prova de redação, Victor utilizou a IA para ideias de introduções e conclusões criativas.

Nesse caso, o concurseiro também enviava os próprios resumos antes, mas pedia para que o ChatGPT buscasse informações em sua base.

"Se a gente começar a redação, de um jeito muito impactante, com um primeiro parágrafo muito bom, já vai brilhar o olho e atrair a atenção do examinador. Por isso, eu pedia: 'ChatGPT, desenvolva uma introdução que chame muita atenção sobre a história dos cartórios, sobre a regularização fundiária, etc".

Atenção

O "ensino" para o ChatGPT, por meio do envio de resumos, é uma forma de correr menos risco de a ferramenta se basear em fontes não confiáveis na internet para respondê-lo, explica Victor.

O especialista em tecnologia Rodrigo Calado, cofundador da Gran Cursos Online ressalta que a base de conhecimento da plataforma é atualizada até um certo período de tempo .

Mesmo com a versão paga, a IA pode fornecer informações imprecisas sobre questões mais recentes, afirma o especialista em entrevista ao portal G1.

"Também existe uma limitação e possibilidade de interpretação equivocada dependendo da pergunta que você fizer. E as bancas não fazem questões óbvias. Elas misturam conteúdos, exigem pensamento crítico", alerta.

Rodrigo Calado destaca o uso da IA para a criação de planos de estudos personalizados, baseados nos objetivos do concurseiro, prazos e o volume de material a ser estudado.

Outra dica do especialista é pedir para o robô gerar flashcards a partir do resumos. O método são cartões com uma pergunta ou um termo de um lado e a resposta ou definição do outro, para ajudar o candidato a memorizar os conteúdos.

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