Vacina contra a dengue do Instituto Butantan protege até quase 80% dos imunizados
Estudo será publicado na principal revista médica do mundo e imunizante será apresentado para aprovação da Anvisa
23:06 | Jan. 31, 2024
Com apenas uma dose, vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan pode evitar o adoecimento em quase 80% dos vacinados. A informação consta em um estudo que será divulgado pelo The New England Journal of Medicine, nesta quinta-feira, 1º.
Intitulado Butantan-DV (clique aqui para conferir o estudo), o imunizante contém versões atenuadas dos quatro sorotipos do vírus, apresentando eficácia e segurança para uma ampla faixa etária estudada – de 2 a 59 anos. Participaram dos testes da vacina tanto voluntários com histórico de infecção prévia quanto pessoas que nunca foram anteriormente infectadas.
À Agência Fapesp, o infectologista, diretor do Instituto Butantan e primeiro autor do estudo, Esper Kallás, explicou que a publicação deste artigo na principal revista médica do mundo “atesta o rigor e a qualidade do trabalho desenvolvido por pesquisadores de 16 centros brasileiros, localizados nas cinco regiões do país, sob a coordenação do Instituto Butantan”.
Em entrevista, ele disse à agência que, em junho, os pesquisadores devem concluir os cinco anos de seguimento dos voluntários. “Quando esses dados estiverem consolidados, saberemos qual é a longevidade da proteção induzida pela vacina”, diz.
Ainda segundo o diretor do Instituto Butantan, a expectativa do grupo é apresentar um relatório à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no segundo semestre deste ano para pedir o registro do produto. Conforme o processo, a aprovação do imunizante está prevista para sair até 2025.
O estudo, a ser publicado no periódico médico, traz resultados dos primeiros dois anos do ensaio clínico de fase 3, que teve início em fevereiro de 2016 e envolveu 16.235 participantes de 13 estados brasileiros. Dados preliminares divulgados pelo Butantan em dezembro de 2022 já indicavam uma eficácia global de 79,6%. Agora, foram detalhados os resultados para cada subgrupo avaliado.
De acordo com os dados do estudo, foram observadas os seguintes percentuais de eficácia por faixa etária:
2 a 6 anos — 80,1% ;
7 a 17 anos — 77,8%;
Entre 18 e 59 anos — 90%.
A estratificação de acordo com o status sorológico mostra uma proteção de 73,6% entre os voluntários sem evidência de infecção prévia, enquanto entre os já expostos o número foi de 89,2%. Contra o sorotipo 1 da dengue (DENV-1) a eficácia foi de 89,5% e, contra o sorotipo 2 (DENV-2), de 69,6%.
Por não ter ocorrido a circulação do vírus durante a realização do estudo, não foi possível avaliar o desempenho do imunizante contra os sorotipos 3 e 4 da doença. Quanto às reações adversas, a maioria delas foi classificada como leve ou moderada, sendo as principais dor e vermelhidão no local da injeção, dor de cabeça e fadiga. Eventos adversos sérios relacionados à vacina foram registrados em menos de 0,1% dos vacinados e todos se recuperaram.
Até o momento, há duas vacinas contra a dengue já aprovadas pela Anvisa. A Dengvaxia, da farmacêutica Sanofi Pasteur, requer três aplicações e é indicada para pessoas de 9 a 45 anos que já tiveram dengue. E a Qdenga, do laboratório Takeda, cuja aplicação no Brasil deve começar agora em fevereiro para pessoas entre 4 e 60 anos (independentemente do status sorológico). Neste caso, serão necessárias duas doses para completar a imunização.
O esquema de dose única da Butantan-DV traz vantagens logísticas e econômicas, afirmam os autores no artigo. Eles apontam ainda que o imunizante confere também proteção rápida para a população em caso de surto epidêmico ou para pessoas sem imunidade que precisam viajar a locais onde a doença é endêmica.