Dramas humanos se acumulam em tragédia da Braskem, em Maceió
17:43 | Dez. 02, 2023
Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol. Esses são os bairros “fantasmas” no entorno da lagoa do Mundaú, em Maceió, que foram evacuados pelo risco de desabamento recorrente da exploração mineral de sal-gema pela empresa petroquímica Braskem.
Desde 2019, quase 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas pelo medo dos tremores de terra que criaram rachaduras nos imóveis da região. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a exploração de 35 minas de sal-gema pela Braskem foi a responsável por deixar milhares de pessoas desabrigadas e transformar bairros antes movimentados e populosos em lugares praticamente desertos.
Desde última quarta-feira (29), os moradores da parte dos bairros que não foram evacuados estão em alerta. Uma decisão judicial levou a retirada de 23 famílias que ainda resistiam ao despejo no bairro do Pinheiro. Segunda a Defesa Civil, a área da mina número 18 ameaça desabar a qualquer momento, com potencial de criar uma cratera maior que o estádio do Maracanã.
Mas em algumas ruas desses bairros o trânsito ainda é liberado. Seguranças particulares, contratados pela Braskem, vigiam os mais de 15 mil imóveis, hoje totalmente abandonados. Os locais passaram a ser propriedades da empresa após paga a indenização, que ainda é contestada por parte dos moradores.
Bairro “desapareceu”
Nessas ruas, casas, lojas e até prédios inteiros tiveram as portas e janelas substituídas por tijolo e cimento, criando muros que impedem a entrada de quem possa buscar algo de valor que os moradores tivessem deixado para trás. Em muitos casos, os imóveis foram cercados com placas de alumínio que cobrem as fachadas.
O mato cresce fora e dentro das casas, que apresentam sinais de desgaste e depredação. Os muros são marcados por uma série de números pintados em vermelho, que indicam os registros de desocupação. Em algumas fachadas, há também pichações; um protesto contra a Braskem e o poder público, ou mesmo desabafos, lamentos pela dor de quem teve que seguir a vida longe do lugar que amava.
A Rua Professor José da Silveira Camerino, que corta o bairro do Pinheiro e está na região da área da mina 18, é um retrato de desocupação e ao mesmo tempo de resistência. De um lado da rua, sem aviso de interdição, parte do comércio local ainda resiste, como um posto de gasolina e uma praça com ambulantes. Do outro do lado, o cenário é o inverso: tudo fechado. Nesta quinta-feira (30), até o Hospital do Sanatório, que fica também nessa rua, transferiu pacientes para outras unidades de saúde às pressas, diante da possibilidade de desabamento da mina 18.