Proclamação da República: conheça a história por trás da queda da Coroa

Aprendemos nos livros de história que em 15 de novembro o Brasil se tornou uma república, mas você sabe os bastidores do golpe que instaurou o novo regime de governo?

10:16 | Nov. 15, 2023

Por: Gabriela Monteiro
Proclamação da República, 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927). (foto: Reprodução)

Em uma sexta-feira, 15 de novembro de 1889, movimentações militares levaram à proclamação da República por José do Patrocínio na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A partir daí, o Brasil se tornara uma república, e a oração do Marechal Deodoro da Fonseca, “Digam ao povo que a República está feita”, entraria para a história. É o que costumamos aprender pelos livros de história.

Inclusive, em Fortaleza, existem duas ruas com o nome dos dois primeiros presidentes do Brasil. A rua Marechal Deodoro, onde se localiza a faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), e a rua Floriano Peixoto, que vai até a Praça dos Mártires – o famoso Passeio Público.

Mas pouco se sabe os motivos por trás do golpe que acabou com o regime monárquico e ascendeu o presidencialismo no País — que é o regime em que vivemos até hoje. O POVO reuniu alguns fatos para que você entenda, de maneira simples, a história da nossa história.

O regime político instaurado no Brasil em 1822 com a proclamação da Independência começou a caminhar para o seu fim por três questões importantes: militar (no contexto da guerra do Paraguai), religiosa e abolicionista.

O professor John Nicolau, do Colégio Provecto, conta que cada questão tem uma motivação. Os militares, por exemplo, ao ganharem a guerra do Paraguai e retornarem ao País, começaram a exigir participação na política e começaram a enxergar que a democracia era a melhor forma de governo.

“A questão religiosa teve como estopim a proibição da Maçonaria pelo Vaticano, quando o Papa Pio IX enviou uma bula que dizia que os católicos ligados à prática da maçonaria fossem imediatamente excomungados da igreja, e Dom Pedro II, por ter ligação direta com a maçonaria, foi diretamente afetado”, conta Nicolau.

Por fim, a questão abolicionista se deu pelo fato de os escravos terem sido libertados sem que o Estado pagasse aos escravistas pelo “prejuízo” deles causado pela perda de seus subordinados – pois antes da abolição da escravidão no Brasil, havia um acordo entre o império e os escravocratas sobre o pagamento dessa indenização.


Um manifesto deu indícios da chegada da república

Em 1870, foi publicado no jornal “A República” um documento intitulado Manifesto Republicano, considerado um dos primeiros indícios da chegada de uma possível república. O professor e historiador André Rosa explica que o texto foi redigido por algumas lideranças civis e militares —principalmente civis — que tinham o desejo de que o novo modelo de governo fosse instaurado no Brasil.

“Como alguns devem saber, a República nasce de um golpe militar. O exército — que volta vitorioso da Guerra do Paraguai — tem uma intenção de entrar na política, mas todo o procedimento já estava sendo articulado na metade do século XIX. Por isso surgiu o manifesto republicano”, pontua o historiador.

“Diga ao povo que a república está feita” — mesmo que no improviso


Para a república nascer, a monarquia deveria sair dos holofotes. O professor e apresentador do canal "Vogalizando História", Vitor Vogel, pontua que a monarquia só se mantinha de pé por causa do apoio dos fazendeiros escravistas, pois o império — mesmo criticando — era a favor da escravidão.

“Para antecipar esse fim, alguns militares resolveram arrumar um golpe para exilar Dom Pedro e colocar outra pessoa no lugar, e o nome escolhido foi o do Marechal Deodoro da Fonseca, o problema é que ele era amigo pessoal do imperador”, conta Vitor.

Quem convenceu Deodoro a aderir ao levante para a derrubada do império foram o jornalista Quintino Bocaiúva e o militar Benjamin Constant —  a princípio, o marechal era a favor da queda do presidente do conselho de ministros, o Visconde de Ouro Preto.

Com a destituição de Visconde, quem entraria no lugar dele seria Gaspar Silveira Martins, o que não agradou muito Deodoro, porque existia um certo desafeto entre os dois por causa de uma mulher. A partir daí, o marechal aderiu de vez e seguiu com o plano.

Com a queda do imperador, o marechal triunfa e assume o cargo de presidente do Brasil. Vogel finaliza dizendo que “não houve comemorações pelas ruas, não houve clamor popular pela mudança". "Foi mais uma coisa que alguns poucos líderes ali de uma camada Militar se organizaram, fizeram acontecer, e não houve oposição.”


O regime que vivemos até hoje

Nesta quarta-feira, 15, o Brasil completou 134 anos de República. Muitas coisas aconteceram desde que o presidencialismo se tornou o modelo de governo no País.

O professor Jucieldo Ferreira, da Universidade Federal do Cariri (UFCA), pontua que o presidencialismo é um marco importante da experiência nacional nos últimos anos. “Diversos nomes vêm à tona quando pensamos na sucessão dos que portam a faixa presidencial. Desde os que ficam entre o cômico e o trágico — como Jânio Quadros e Jair Bolsonaro — até os que marcaram fortemente a memória nacional — como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. O carisma, ou sua ausência, foi determinante para o sucesso, ou fracasso, de algumas trajetórias”, reflete o professor.

“O equilíbrio entre democracia e autoritarismo sempre foi feito no fio da navalha, variando de acordo com o pendão do presidente em exercício ou com as ânsias de civis e militares. O período contínuo de democracia mais longo destes 134 anos é o que começou com nossa Constituição de 1988”, conta.

Segundo Ferreira, apesar dos defeitos, o princípio de que o conjunto da população escolhe o seu presidente ainda parece melhor se comparado aos momentos em que a democracia foi ameaçada.