Avô de "tiktoker da capivara" é um dos responsáveis por queimadas
Fazendeiro Elmar Cavalcante Tupinambá, responsável por mais de 40% das queimadas em Autazes (AM) desde 2023, é avô de Agenor Tupinambá, da "capivara Filó"Uma reportagem do site The Intercept publicada nessa segunda-feira, 6, revelou responsáveis por queimadas que estão causando a onda de poluição que ocorre desde outubro em Manaus (AM). Entre os nomes, um é relacionado a outra discussão ambiental recente: o fazendeiro Elmar Cavalcante Tupinambá, do município de Autazes, na Região Metropolitana de Manaus.
Elmar é avô de Agenor Tupinambá, que ficou famoso no começo deste ano ao publicar no TikTok vídeos da "capivara Filó". O influencer travou uma batalha judicial contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) por tratar o animal silvestre como bicho de estimação.
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Ele também foi autuado por maus-tratos contra um papagaio e pela morte de um filhote de preguiça-real. O caso acabou com a capivara sendo devolvida a Agenor, sob a condição de que ele não poderia mais publicar fotos e vídeos do animal.
O Intercept apresentou, na reportagem, documentos de domínio público: do Ibama, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Os relatórios mostram que Autazes é um município frequentemente relacionado a desmatamento e queimadas.
Pólo da indústria agropecuária amazonense, Autazes é conhecida como "a cidade do leite". O rebanho do município, com 96 mil bovinos, tem densidade demográfica 13 vezes maior que a média do estado. Bois, vacas e búfalos se alimentam do pasto que é aberto em áreas originalmente da floresta amazônica.
Entre 2005 e 2023, somente em Autazes, 580 hectares de vegetação nativa sofreram queimadas ou derrubada de árvores. Elmar Cavalcante Tupinambá foi responsável por 240 hectares, 42% da área total, na mata ciliar do rio Paraná Madeirinha e do lago Imbaúba. Pela prática, ele foi multado pelo Ipaam em mais de R$ 1,2 milhão, em fevereiro de 2022.
No sistema de monitoramento de queimadas do Inpe, Autazes aparece como a quarta cidade do Amazonas com mais focos de incêndio desde o começo de outubro e a única na Região Metropolitana de Manaus. Durante esse período, a qualidade do ar na capital do estado não foi classificada como "boa" nenhuma vez por sistemas que medem poluição atmosférica.
Fazendeiro e mineradora usam terras reivindicadas por indígenas
Após a publicação da reportagem, Agenor divulgou vídeos em suas redes sociais dizendo não ter relação com os crimes ambientais cometidos pelo avô. Não é o que indicam, no entanto, os registros públicos.
Em maio, ainda durante a briga judicial pelo destino da capivara Filó, o influenciador realizou ação publicitária para a mineradora Potássio do Brasil. A empresa pretende extrair o mineral, usado em fertilizantes, em uma área de Autazes. A região, na terra indígena Lago do Soares-Urucurituba, é reclamada pela etnia Mura, e o processo de demarcação se arrasta há mais de 20 anos.
E como esperado, o querido do momento fazendo publi pra mineração de potássio que destrói território dos indígenas Mura em Autazes/AM. É fácil ter animal silvestre de pet quando se destrói a floresta e água deles né pic.twitter.com/7KWkJFN7JX
— Jé Hãmãgãy- Mundinho Olrox(@jehamagay) May 2, 2023
Em 2022, a agência de notícias Amazônia Real produziu uma reportagem sobre o caso. No material, moradores da região relatam terem sofrido pressão da empresa para vender seus terrenos. A Brasil Potássio teria, ainda, feito perfurações não-autorizadas dentro do território dos Mura.
Desde 1985, Elmar e os Mura também disputam judicialmente uma zona de Autazes. Durante o processo, a Fundação Nacional dos Povos Índigenas (Funai) entrou em acordo com outros fazendeiros da região, indenizando os proprietários pela área desapropriada. O avô de Agenor, no entanto, não aceitou a proposta e seguiu criando gado nos terrenos.
O terreno de Agenor não está diretamente relacionado aos conflitos entre o avô e os indígenas. No entanto, a fazenda Niterói, que pertence ao influencer, fica a menos de dez quilômetros do lago Imbaúba e do rio Paraná, onde estão as áreas de vegetação nativa queimadas a mando de Elmar.