Delegado Da Cunha: quem é o deputado acusado de agredir namorada

Parlamentar já chamou policiais civis com mais de 55 anos de "ratos" e "raposonas". Também chegou a ser indiciado pela Corregedoria da Polícia Civil de SP

19:39 | Out. 18, 2023

Por: Estela Félix
Da Cunha é delegado da Policia Civil do Estado de São Paulo (foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados)

O deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), mais conhecido como Delegado Da Cunha, é acusado de espancar e ameaçar sua namorada de 28 anos, a nutricionista Betina Grusiecki.

Ele ganhou fama atuando como um policial youtuber exibindo vídeos e fotos que mostram operações policiais e o dia a dia dos agentes, com prisões de suspeitos, ostentação de armas de fogo e flagrantes de ocorrências.

O seu canal no Youtube tem mais de 3 milhões de inscritos. Se candidatou a deputado federal por São Paulo em 2022 e conseguiu se eleger ao receber 181.568 votos pelo Progressistas. Sendo o 24ª mais votado.

ENTENDA o caso da cearense Maria da Penha, que originou lei de proteção a mulheres vítimas de violência no Brasil

Ele já se envolveu em diversas polêmicas, como acusações de xingar colegas e simular operações para se promover. 

Em sua atuação na Polícia Civil, Carlos Alberto passou por delegacias especializadas em investigar invasões de domicílio na capital paulista.

Na Grande São Paulo ele coordenou operações para prender acusados de integrar a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) na região. Também investigou tráfico de drogas em São Bernardo do Campo.

Delegado Da Cunha: polêmicas

Em julho de 2021, Da Cunha participou do podcast Flow junto com o vereador e ex-PM Gabriel Monteiro (PSD), e na ocasião, ele falou "que há grande corrupção no alto escalão da PM do Rio de Janeiro". Em seguida, ele chamou policiais civis com mais de 55 anos de “ratos” e “raposonas”.

A corporação alegou que ele havia usado “linguagem inadequada” e feito “comentários depreciativos à imagem institucional”. Ele foi afastado das ruas e o então delegado-geral Ruy Ferraz Fontes deu ordem para que o youtuber entregasse a arma, o distintivo e as algemas.

Carlos Alberto se envolveu em outra polêmica na mesma época ao publicar uma foto como se estivesse sozinho deflagrando uma operação na Cracolândia, área controlada pelo PCC e ocupada por dependentes químicos. Porém, a ação nunca aconteceu oficialmente. Essa situação causou incômodo na cúpula da Polícia Civil.

Ainda em 2021, ele pediu licença de dois anos da Polícia Civil e, em setembro, durante uma transmissão ao vivo em seu canal no YouTube, confessou que encenou o vídeo do flagrante uma ação de resgate em um cativeiro localizado na favela Nhocuné, zona leste de São Paulo, em julho de 2020. A vítima havia sido resgatada por outros policiais.

Delegado Da Cunha: Investigado

O delegado Da Cunha chegou a ser indiciado pela Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo por crime de peculato por supostamente usar a estrutura policial para se promover e gravar vídeos de operações oficiais que foram exibidos em suas redes sociais particulares, como no YouTube.

A investigação apontou que o delegado pagava até R$ 14 mil por mês para a equipe de filmagem. Apesar disso, a ação foi arquivada a pedido do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Também foi investigado por uma suposta lavagem de dinheiro. O processo administrativo tratava de uma possível tentativa de ocultar o recebimento, pagos a ele por um empresário do ramo de sucatas, no valor de quase R$ 500 mil. Ainda foi alvo de um inquérito do Ministério Público, que apurava possível enriquecimento ilícito.

O governador Tarcísio Freitas (Republicanos) resolveu devolver o distintivo e a arma ao deputado federal em julho de 2023. O youtuber publicou um vídeo agradecendo o governador de São Paulo, ao secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, e ao delegado-geral de São Paulo, Artur Dian. Ele, sem citar nomes, afirmou que era perseguido pela gestão anterior.

Delegado Da Cunha: Violência doméstica

A companheira do parlamentar acusa-o de espancá-la e bater a sua cabeça na parede até ela desmaiar. O crime aconteceu por volta das 21h20min de sábado, 14, em um condomínio na Rua Ricardo Pinto, no bairro Aparecida, em Santos, no litoral paulista.

A mulher relatou à Polícia Civil que tem união estável com o deputado há três anos e mora junto com ele. O policial também teria quebrado os óculos da nutricionista e atirado cloro em suas roupas. O deputado federal nega o crime.

Betina solicitou medida protetiva e registrou o boletim de ocorrência no último domingo, 15, na Delegacia de Defesa da Mulher, em Santos, localizado no litoral de São Paulo.

Foi registrado pelo delegado Otavio Augusto Carvalho e pelo escrivão Maurício Costa Ferreira. Ela declara que Da Cunha a agrediu batendo sua cabeça na parede e apertando seu pescoço, até ela desmaiar.

Ela afirma também que ele atacou sua honra, chamando-a de "putinha" e "lixo" após ingerir bebida alcoólica. Quando ela acordou, jogou um secador de cabelos na cabeça de Da Cunha. “Vou encher de tiros a sua cabeça, vou te matar e vou matar sua mãe”, teria dito o policial. Ela acusa o youtuber de lesão corporal, ameaça, injúria e violência doméstica.

Por meio de nota, o delegado “nega veementemente” as agressões. “Houve uma discussão, em meio a comemoração de seu aniversário, mas em nenhum momento ocorreu qualquer tipo de violência física de sua parte. Os fatos ficarão comprovados no decorrer do inquérito”, diz o comunicado. Um inquérito foi aberto para apurar o caso.

Delegado Da Cunha: Justiça expede medida protetiva

A Justiça deferiu uma medida protetiva contra o delegado e deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), após acusação de agressão contra a companheira.

A aplicação das medidas cautelares previstas na Lei Maria da Penha foram deferidas pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), após grande repercussão do caso, que tramita em segredo de Justiça.

Deste modo, Da Cunha está proibido de se aproximar do apartamento em que morava com Betina, devendo contatar uma pessoa para retirar os objetos pessoais dele do local.

Para além disso, o parlamentar deve manter-se afastado da nutricionista, sendo determinado um limite mínimo de distância entre ambos de 300 metros e não poderá manter contato com ela e com testemunhas por qualquer meio de comunicação e redes sociais. As determinações são válidas pelo prazo de 90 dias.