Procissão do Fogaréu é associada a movimento racista nas redes sociais; organização contesta
Diversas postagens apontam semelhanças entre procissão tradicional em Goiás e os atos da Ku Klux Klan; saiba por que
20:45 | Abr. 07, 2023
Tradicional há quase 300 anos e parte do patrimônio cultural do estado de Goiás devido à sua importância religiosa e cultural, a Procissão do Fogaréu está sendo confundida nas redes sociais com um movimento racista surgido nos Estados Unidos e que teve o auge nas décadas de 20 e 30: a Ku Klux Klan. O motivo seria as vestimentas (túnicas e chapéus pontudos que cobrem todo o rosto) e o fato de um grande grupo de homens andar pelas ruas carregando tochas à noite.
Nas redes, a polêmica surgiu há alguns dias, com uma postagem que viralizou e que dizia: “Cá prá nós, mas essa ‘procissão do fogaréu’ em Goiás é meio estranha, não!?”. “Isso não é associação, é fato. A referência é nítida”, retrucou outro internauta.
Na verdade, o ritual da Procissão do Fogaréu é tradicional na Semana Santa e simboliza a procura por Cristo para prendê-lo, por isso que os homens (chamados na celebração de “farricocos”) se cobrem de capuzes para representar os soldados romanos, enquanto carregam tochas e cantam em latim. As roupas remetem à dos executores da época da Idade Média.
A tradição veio da Europa medieval, e ainda se mantém não só em Goiás — a cidade de Goiás, distante 140 km da capital, é considerada o berço da tradição no Brasil — mas também em outras cidades, como Recife, Porto Alegre e Petrópolis, dentre outras.
Já a Ku Klux Klan, movimento racista de extrema-direita, surgido no final do século 19 no Tennessee, Estados Unidos, celebrava o supremacismo branco fazendo ataques terroristas contra pessoas negras e militantes e as espancando até a morte.
As roupas dos membros da Klan eram um lençol branco, como se fosse uma túnica, e um capuz branco pontudo. O objetivo da vestimenta era amedrontar mas também esconder os rostos das pessoas que faziam parte da organização.
Para o presidente da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat), Rodrigo Pássaros, quem compara a procissão com rituais do KKK "são pessoas sem conhecimento". Ele explica que uma coisa é totalmente diferente da outra e que não deveriam ser associadas. "Não tem nada a ver com a nossa conotação histórica e religiosa", declara.
Rodrigo explica, ainda, que a tradição do ritual católico é inteiramente voltado ao texto bíblico onde Jesus Cristo é preso. "A nossa procissão é a releitura da transcrição bíblica que fala da prisão de Jesus, ela representa a busca de Jesus antes da prisão. Os farricocos são homens encapuzados que representam os soldados do templo, eles saem às ruas no mesmo sentido bíblico de serem os algozes de Jesus e o apresentam ao rei de Roma, que dá a sentença final", conclui. (Colaborou Cristina Brito)