Mulher é internada em UTI com edema cerebral após cheirar vidro de pimenta; entenda reação
Jovem ficou internada por mais de 20 dias e pode ter sequelas motoras. Alergologista explica as reações alérgicas
11:54 | Mar. 13, 2023
Uma mulher, identificada como Thaís Medeiros de Oliveira, de 25 anos, foi internada em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) após cheirar um vidro de pimenta-bode (Capsicum chinense), em Anápolis (GO).
O namorado de Thaís, Matheus Lopes de Oliveira, relatou ao UOL que, após o almoço, a jovem estava na cozinha conversando com a família dele sobre pimentas, quando levou o tempero ao nariz para cheirar e começou a passar mal, ficando sem ar.
Segundo Matheus, Thaís chegou a desmaiar no caminho do Hospital Evangélico de Anápolis e ficou sem pulsação. Os médicos realizaram o trabalho de reanimação por cerca de oito minutos, tempo em que a jovem ficou sem oxigenação no cérebro, resultando em um edema cerebral.
O caso ocorreu no dia 17 de fevereiro, e a jovem foi transferida e internada em estado grave na Santa Casa de Anápolis.
Jovem internada após cheirar pimenta: o que causou reação?
De acordo com a alergologista Fabiane Pomiecinski Frota, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia do Ceará (ASBAI-CE), a jovem teria sofrido anafilaxia, a reação mais grave de uma alergia. A anafilaxia acomete órgãos e sistemas, sendo potencialmente fatal depois que o paciente entra em contato com alguma substância a qual é alérgico.
A especialista afirma que é necessário uma atenção redobrada quando os sintomas da reação afetam os sistemas respiratório e cardiocirculatório.
“Os sintomas de anafilaxia podem ser manchas na pele, inchaços, vômito, tosse, falta de ar, sensação de sufocamento e dificuldade para respirar. O paciente também pode ter os sintomas que devem ter mais atenção, que são os sintomas cardiocirculatórios, quando o paciente fica com tontura, visão turva, e pode desmaiar e perder a consciência. Sintomas respiratórios e cardiocirculatórios costumam ser mais graves do que quando o paciente só tem sintomas de pele ou gastrointestinais”, pontuou.
A reação alérgica pela ingestão é comum, porém há a possibilidade de ocorrer pelo contato ou inalação. A médica apontou que qualquer alimento pode causar alergia, mas destacou que os mais comuns são leite, ovo, soja, trigo, peixes, crustáceos e castanha.
A alergologista também explicou que os cofatores — que podem desencadear a alergia — podem potencializar a reação. No caso específico de Thaís, ela tinha um quadro de asma crônica e estava com pneumonia no dia do ocorrido.
“Essa paciente tinha dois fatores de risco para complicar a reação. Se ela tivesse cheirado a pimenta em um dia em que ela não tivesse com um quadro infeccioso e com a asma controlada, por exemplo, ela teria uma chance menor de uma reação tão ruim.”
Reações alérgicas graves: cofatores aumentam riscos
São chamados cofatores as condições que podem potencializar as reações alérgicas. Além da asma, que aumenta em até sete vezes o risco de uma anafilaxia grave e até fatal, outros cofatores são viagens, jejum, período pré-menstrual e o uso de anti-inflamatório não hormonais.
Com relação ao tratamento, a alergologista Fabiana Pomiecinski afirma que, em caso de pacientes asmáticos, usar antialérgico e bombinha de ar é o correto a ser feito, porém a médica cita que a caneta de adrenalina autoinjetável é fundamental.
“O que mata o paciente com alergia alimentar é o retardo na aplicação da adrenalina autoinjetável. Não está disponível no Brasil, pois a caneta é importada e isso complica muito a vida dos alérgicos. Todos os pacientes que têm alergia alimentar, ou de outro tipo, e já tiveram reações graves devem andar com a caneta de adrenalina”, completa.
Nesta semana, Thaís recebeu alta da UTI e foi transferida para um quarto. A família da jovem criou uma vaquinha on-line para cobrir os gastos do hospital particular onde Thaís foi internada inicialmente, além de gastos com medicamentos e reabilitação.