Teste em pesquisas: sofrimento animal é comprovado cientificamente

Com resolução do Concea, a testagem em animais vertebrados é proibida em cosméticos, mas sofrimento animal ainda é pouco reprimido no Brasil

O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) publicou, no último dia 1º de março, uma resolução que proíbe o uso de animais vertebrados na testagem de cosméticos e em pesquisas científicas. Aprovada em dezembro de 2022, a resolução abriu ainda mais espaço para o debate sobre o sofrimento animal nestes ambientes.

Para a comunidade científica, a existência de dor e sofrimento em animais é um fato provado. Dessa forma, pesquisadores entendem que animais têm um grau de senciência, ou seja, capacidade de sentir dor e de passar por algum tipo de trauma.

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“Obviamente, esses traumas vão ser diferentes conforme o tipo de animal e conforme o tipo de produção, mas isso já é cientificamente provado,” afirma José Antonio Delfino, coordenador do Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal (Neambe) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

No entanto, os pesquisadores ainda não encontraram instrumentos eficientes para quantificar esse sofrimento. “Existem pesquisas que até tentam fazer escaneamento dos cérebros de animais para ver algum ponto que é ativado ou não com dor ou com medo, mas isso é ainda muito incipiente, não se tem ainda uma resposta conclusiva. Basicamente, a discussão fica no campo da fisiologia mesmo, do que a gente consegue medir,” explica o professor.

Entre os critérios usados para medir o bem-estar animal estão a produtividade, condições fisiológicas e comportamentais, como fadiga, indisposição e interação. Mesmo assim, para o professor, os critérios utilizados não são definitivos para estabelecer se o animal está ou não sofrendo.

Pecuária no Ceará

 

Segundo o coordenador do Neambe, o Ceará tem sérios problemas tanto na criação quanto no abate de animais na pecuária. Ele conta que, no Estado, assim como no Nordeste, um fator que pode causar desconforto e sofrimento aos animais em cativeiro é o excesso de calor e exposição ao sol, que causa maior estresse. “ Uma coisa que seria simples é, por exemplo, prover sombra para os animais. E às vezes não tem.”

Além disso, as feiras clandestinas, onde animais são abatidos “a sangue quente”, apresentam um problema não só para o bem-estar animal, mas também sanitário e de saúde pública para a população, podendo afetar o mercado da agropecuária local e de exportação.

Para o professor, apesar da fiscalização e legislação brasileira ainda ser pouco restritiva quanto a práticas que ocasionam o sofrimento animal, especialmente na produção agropecuária, existem formas de combater estes comportamentos, principalmente códigos e guias de boas práticas.

A pressão do mercado consumidor também é uma forma de coibir as práticas que causam sofrimento. Uma das sugestões do especialista é estabelecer “um selo de bem-estar na carne que você vai consumir, no produto de origem animal, a exemplo do que a gente tem em produtos orgânicos, no vegetal, a gente poderia também ter um selo para o produto animal, onde obviamente existiria uma auditoria na fazenda, certificação para ver as conformidades”.

No entanto, para isso é necessário que o público consumidor tenha a consciência e condições aquisitivas para consumir estes produtos, o que muitas vezes não se concretiza. “O consumidor brasileiro só presta atenção no preço. Infelizmente, pela nossa questão financeira, que é um problema sério, a gente geralmente tende a ir num mais barato, e no mais barato você não vê rótulo,” relata.

Ele cita o exemplo de países europeus e dos Estados Unidos, onde a população, que tem um maior poder aquisitivo, costuma pagar por produtos cuja produção não gera sofrimento aos animais. “Eu acho que talvez a medida seja uma medida de consciência,” reflete.

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