"Uma despedida honesta e, absolutamente, grata,", diz vítima de câncer em carta póstuma

A carta foi lida durante o velório da empresária paraense que morreu no último sábado, dia 4 de março

21:11 | Mar. 09, 2023

Por: Bia Freitas
A carta de Juliana foi enviada às suas irmãs por email (foto: Reprodução)

A empresária paranaense Juliana Carvalho, de 45 anos, que morreu no último sábado, dia 4 de março, em decorrência de um câncer de intestino, deixou uma carta a amigos e familiares que foi lida durante o seu velório. “Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata,” escreveu.

Casada há 32 anos e mãe de dois filhos, na carta ela afirma que, desde o diagnóstico de câncer de intestino, há cerca de 4 anos, teve como objetivo desmistificar a doença. Juliana conta que viveu os últimos anos com dignidade e alegria, apesar da doença.

Com um quadro irreversível, Juliana já tinha realizado uma festa de despedida para 150 pessoas, no último dia 20 de fevereiro. Em sua carta, enviada por e-mail às suas irmãs, ela explica que sua hora chegou e que teve “a oportunidade e o privilégio” de se preparar para ela.

“Felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês,” conta a mensagem deixada por ela.

Juliana conheceu o esposo Márcio Antunes quando ambos eram adolescentes. Eles tinha 14 e 16 anos, respectivamente.

A carta: "Minha despedida"

 

"A minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das pessoas. Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata. A despedida de uma vida linda, cheia de sentido, de amor e das pessoas mais especiais que eu poderia ter tido o privilégio de conviver. Minha família, minhas amigas e amigos e tanta gente, que apesar da pouca intimidade, se fez tão presente, com gestos, palavras, orações, força.

Durante o tratamento, passei por muitas fases aqui dentro de mim. E, felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira. E passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva, racional, mas também, empática, o que sente o outro. Pra mim, funcionou, espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas.

Aliás, se eu puder deixar um pedido, desmistifiquem o câncer ou outra doença grave. Desmistifiquem a morte, afinal, ela é o maior clichê da nossa vida. Meu objetivo, desde o meu diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida. Acho que funcionou, vocês entenderam e eu vivi os últimos anos com dignidade e alegria apesar do câncer. E como eu sempre repetia - com todo respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues - é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui.

Um recadinho para quem me acompanhou no trecho: Sei humildemente que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou... Mas, espero que se apeguem as nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas. Construam nossas memórias. Espero ter deixado material pra isso. Para carregarem um pouquinho de mim em cada um de vocês (só a parte boa!), mas com alegria, sem drama. Vocês sabem que drama nunca foi meu forte.

Li, certa vez, que "o luto é o preço do amor”. Eu, só posso agradecer o tanto de amor que vocês me dedicaram. E desejar que vocês, meus amados e amadas, vivam esse luto, do jeito mais leve e alegre que vocês puderem, assim como eu levei a vida.

Sabe qual é a maior homenagem que vocês podem fazer a mim? É honrar as suas próprias vidas, com honestidade nas relações, alegria, integridade, empatia, amor e muita diversão, claro! Aliás, depois da minha despedida, se juntem e vão tomar um chopp, ouvindo um samba e falando bem de mim. O da minha mãe é escuro.

Eu deixo chorarem a minha partida, faz parte. Mas, acima de tudo, celebrem a minha vida. Estou em paz. Fiquem também."