Monkeypox: Brasil registra 11 mortes e se torna país com mais óbitos pela doença
Surto mundial da doença teve início em maio. Até o momento, o Brasil registra 9.312 casos confirmados e 11 mortes. Em todo o mundo, 41 pessoas morreram pela doença neste ano
11:55 | Nov. 08, 2022
O Brasil atingiu o total de 11 óbitos por monkeypox e se estabeleceu como o país com mais mortes pela doença. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, 41 pessoas morreram por monkeypox entre janeiro e 7 de novembro deste ano. Com isso, o Brasil concentra 26,8% dos óbitos, contabilizados até o dia 3 de novembro.
Apenas 13 países registram mortes devido a complicações trazidas pela monkeypox. São eles, por ordem decrescente de óbitos: Brasil, Estados Unidos, Nigéria, Gana, Camarões, Espanha, Bélgica, Cuba, República Tcheca, Equador, Índia, Moçambique e Sudão. Os sete últimos têm apenas uma morte.
Camarões e Espanha contam duas mortes cada, enquanto em Gana foram quatro pacientes fatais e na Nigéria, sete.
A situação é mais complicada nas Américas: os Estados Unidos têm oito mortes por monkeypox e o Brasil, 11 pacientes fatais. No entanto, os EUA têm praticamente o triplo do casos do Brasil: são 28.753 diagnósticos e 9.312 diagnósticos, respectivamente.
Para a virologista Giliane Trindade, "um conjunto de fatores" pode estar por trás do cenário epidemiológico no Brasil. A professora da Universidade Federal de Minas Gerais destaca o atraso na comunicação efetiva sobre a doença, principalmente em relação ao grupo mais vulnerável, e o atraso na distribuição de vacinas.
"É difícil elencar todos os fatores que podem estar envolvidos, mas a falta de uma vacinação abrangente das populações de maior risco aliada à falta de uma maior conscientização sobre os riscos da doença em campanhas ligadas ao governo pode acabar deixando as pessoas mais vulneráveis à exposição", completa a biomédica Mellanie Fontes-Dutra. "Também não temos tratamento amplamente disponível no SUS, o que torna a situação ainda mais complexa."
Segundo Trindade, mesmo sendo uma doença com menor potencial de transmissão e menor letalidade que a Covid-19, é necessária atenção individual e coletiva. "Do ponto de vista individual é uma doença que causa um mal estar grande. Nos casos de indivíduos portadores de HIV ou com questões outras de imunocomprometimento ou comorbidades sempre existe uma maior preocupação", aponta.
A pesquisadora julga ainda ser "bem relevante" uma outra preocupação: a do risco de o vírus Monkeypox se estabelecer de forma endêmica em novas áreas geográficas do planeta, sendo capaz de permanecer infectando as faunas locais. "Isso seria desastroso em qualquer região fora da região endêmica", afirma.
Vacina
O Ministério da Saúde aponta que o Brasil recebeu o primeiro lote de vacinas contra a monkeypox em outubro. Foram adquiridas cerca de 50 mil doses via fundo rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Os próximos lotes estão previstos para serem entregues até o fim de 2022.
Os imunizantes estão sendo utilizados em estudos para avaliar a efetividade da vacina Jynneos/MVA-BN® na população brasileira, ou seja, se a vacina reduz a incidência da doença e a progressão à doença grave. A população-alvo do estudo são as pessoas que tiveram contato prolongado com caso confirmado e pessoas que fazem uso de profilaxia pré-exposição (PrEP) ou em tratamento com antirretroviral para HIV.
Em agosto, o Ministério recebeu doações do antiviral Tecovirimat, indicado para casos graves de monkeypox. "Além desses 12 tratamentos recebidos, a pasta segue em tratativas com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), para aquisição de novos tratamentos e vacinas contra a doença. Além disso, medidas de aquisição de medicamentos diretamente com o fabricante também estão ocorrendo", afirma a pasta em notícia institucional.
Casos de monkeypox se concentram nas Américas
Em relação aos casos, a OMS contabiliza 78.628 diagnósticos da doença. Ao todo, 110 países notificaram casos de monkeypox. O número de novos casos relatados semanalmente em todo o mundo aumentou 2,4% na semana epidemiológica 44 (de 31 de outubro a 06 de novembro) em comparação com a semana 43 (24 de outubro a 30 de outubro).
A maioria dos casos notificados nas últimas 4 semanas foram notificados da região das Américas (91%). Em seguida, está a região europeia (6,1%).
Os 10 países mais afetados globalmente são: Estados Unidos da América (28.753 casos), Brasil (9.312), Espanha (7.336), França (4.097), Reino Unido (3.701), Alemanha (3.668), Colômbia (3.523), Peru (3.204), México (2.901) e Canadá (1.446). Juntos, esses países respondem por 86,4% dos casos notificados globalmente.
Entenda o surto de monkeypox
No surto de 2022, o primeiro caso de monkeypox identificado fora da África foi em Londres, em 5 de maio. O paciente tinha viajado para a Nigéria.
No dia 23 de julho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que o atual surto de monkeypox constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional.
Seis dias depois, o Ministério da Saúde confirmou a morte de um homem de 41 anos, com imunidade baixa e comorbidades, incluindo câncer (linfoma). A causa de óbito foi choque séptico, agravada pelo monkeypox — a primeira morte pela doença fora do continente africano. Nos dias seguintes, outras duas mortes foram confirmadas na Espanha e uma na Índia.
Monkeypox: principais dúvidas sobre a doença
A pessoa deve ter quais sintomas para desconfiar que está com monkeypox?
Segundo a secretária executiva de vigilância em saúde do Ceará,Sarah Mendes, o sintoma mais frequente é a erupção na pele. Ela começa como uma vermelhidão que pode fazer uma bolha, ficar com pus e só então criar uma crosta.
Muitos pacientes também relatam febre, dor de cabeça, adinamia (fraqueza muscular), dor no corpo e indisposição.
Quando procurar atendimento?
O momento ideal para buscar um médico, hospital ou postos de saúde é no início dos sintomas, especialmente o surgimento de erupção cutânea.
Se teve contato com alguém que teve esses sintomas, a pessoa deve ficar atenta ao aparecimento de algum dos sintomas também. Pode começar pela febre, pela dor de cabeça, pela adinamia e depois surgirem as lesões na pele.
Só se considera a doença se tiver contato próximo com alguém já diagnosticado?
O contato é um alerta. É o que acende o sinal amarelo. E o contato da transmissão é o contato pele a pele ou por objetos, seja uma toalha, um lençol, um copo, um talher... Mas só vai buscar uma unidade de saúde quem teve contato? Não.
O indivíduo deve buscar sempre que aparecer uma erupção cutânea ou no aparecimento de outros sintomas.
Tendo a confirmação ou mesmo a suspeita da doença, é importante ficar isolado? Como fazer esse isolamento?
A Sesa orienta o isolamento para o caso confirmado. Os sintomas podem persistir por um período de cinco a 21 dias, com uma média de 16 dias. E a pessoa com sintoma precisa se isolar, ou seja, não compartilhar cama, separar uma toalha específica para uso do paciente, separar os talheres, copo, utensílios domésticos no geral. Só depois que as lesões secam e caem é que o paciente pode sair do isolamento.