Cultura do cacau em Ilhéus atrai turismo histórico dos tempos de auge
14:35 | Nov. 05, 2022
Do cacau vem o chocolate - mas para Ilhéus, o fruto trouxe também desenvolvimento, fama e turismo. De achados históricos da cidade aos cenários de livros de Jorge Amado, das fazendas centenárias ao uso do chocolate fora da gastronomia, a cidade oferece ao visitante várias opções para mergulhar no universo que essa planta trouxe para a humanidade.
A partir do século 18, o interesse da aristocracia européia pelo chocolate fez a demanda aumentar e o produto se popularizar. Já em 1904, segundo o historiador André Luiz Rosa Ribeiro, o cacau era o principal produto da Bahia, substituindo o fumo do Recôncavo Baiano. Ilhéus, a principal cidade da região produtora, logo começou a se modernizar. “Com a construção de palacetes, ruas, calçamentos, praças, a principal referência era Paris”, conta o historiador.
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O palacete onde o escritor passou parte da infância e da adolescência é hoje a Casa de Cultura Jorge Amado. Entrar no local é reviver um pouco desse passado do apogeu de Ilhéus. O pai dele, um fazendeiro de cacau, construiu o palacete nos anos 1920. Hoje, além de expor fotos, roupas, histórias da família e livros de Jorge Amado, o prédio também tem o poder de levar os visitantes para outra época. Das janelas é possível ver um outro lugar importante para a cidade, o bar Vesúvio, que foi imortalizado no livro Gabriela, Cravo e Canela, de 1958.
Da vida real para os livros
No livro, um dos personagens, Nacib, era o dono do bar e se casa com Gabriela, que era a cozinheira do estabelecimento. Ambos são inspirados em pessoas reais que tinham outros nomes. Do outro lado do quarteirão, funcionava o cabaré e cassino Bataclan, aberto em 1920. Segundo o guia do local e ator Bruno Belém, o adolescente Jorge Amado também se aventurava por ali e teria sido ele que revelou um segredo guardado a sete chaves pelos coronéis: uma passagem oculta entre o bar e o cabaré, para que os coronéis não fossem flagrados ali.
O guia conta as histórias que correm pela cidade: que na hora da missa, os maridos aproveitavam as esposas ocupadas com a fé para ir até o Bataclan, na época comandado pela cafetina Maria Machadão. Uma passagem da cozinha do Vesúvio saía nos quintais de algumas casas até chegar ao bordel e era a rota de fuga dos coronéis.
Bruno Belém diz que até o bispo foi envolvido na história. “A missa era curta demais e os coronéis, revoltados, foram até a igreja e falaram ‘prolongue a missa’... e o bispo teve que falar ‘seja feita a vossa vontade’. A missa que durava uma hora e meia passou a ser de seis horas”, conta, sob os olhares arregalados dos turistas.
Hoje, essas histórias são narradas durante um tour feito pelo guia no Bataclan, onde os turistas podem conhecer os quartos de quem ali trabalhava e vivia. Um dos principais atrativos é a possibilidade de se vestir como se estivesse no cabaré daqueles tempos para tirar foto e se imaginar na pele daqueles personagens.
Também é possível se deliciar com o produto mais presente na cidade. À frente da cozinha do Bataclan, o chef Dill Guimarães selecionou pratos que remetem à fama da cidade: queijo coalho com melaço de cacau e petit gateau com sorvete de creme e nibs de cacau são alguns que ele destaca no cardápio. “A gente está em Ilhéus, sul da Bahia, onde o nome cacau é muito forte, por isso temos essa preocupação de fazer a combinação dos pratos para quando o cliente chegar aqui, ter o sabor da região”, explica.