HIV/ Aids: antirretroviral tem baixo estoque no SUS; demanda de produção aumentou 166%

Baixo estoque de Lamivudina 150 mg fez distribuição ser fracionada. MS solicitou duas novas remessas emergenciais à Fiocruz

“Sempre fiz meu tratamento em dia, bem certinho. Na farmácia do Hospital São José, e recebo a remessa de medicamentos de três em três meses. Neste mês, recebi uma remessa para só 30 dias”, relata Rhamon Matarazzo, que vive com HIV há 13 anos e cinco meses e mora em Fortaleza. “Isso impacta diretamente na minha vida. Se o remédio acabar, como vou viver?”

O Ministério da Saúde (MS) aponta, em documentos oficiais, o baixo estoque de Lamivudina 150 mg desde o início de setembro. No Ofício Circular nº 42/2022, publicado em 4 de outubro, o Ministério informa que a redução é temporária e se deve a uma série de fatores.

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Rhamon conta que o medo aumenta ao pensar nos cortes de verbas para a Saúde. “Esse dinheiro poderia estar revigorando nossos corpos”, lamenta. Talita de Lemos, assistente social e atuante na Associação de Voluntários do Hospital São José, conta que a apreensão é cada vez mais generalizada.

“Temos acolhido pessoas que têm crises de ansiedade depois que vão na farmácia para pegar a medicação e recebem a incerteza”, diz. “Há um medo real de voltar para o cenário dos anos 1980, com pessoas morrendo por Aids todos os dias.”

“Hoje existe um tratamento eficaz e uma série de dispositivos que garantem a vida com bem-estar. Ver isso sendo ameaçado é muito desesperador. Inclusive para a gente que trabalha no cuidado dessas pessoas”, completa a profissional.

Dentre os principais motivos para o baixo estoque, o MS cita o início da recomendação no Brasil, desde o setembro de 2021, de simplificar os tratamentos antirretrovirais, mudando para esquemas com apenas dois medicamentos, sendo sempre um deles a Lamivudina 150 mg.

Ao longo do último ano, portanto, o número de usuários do medicamento aumentou rapidamente e excedeu a previsão feita pelos técnicos do Ministério.

Somado a isso, a capacidade das indústrias farmacêuticas de produzir comprimidos para repor o estoque não acompanhou a demanda. A solução proposta pela pasta foi fracionar a quantidade de comprimidos entregues para cada pessoa, até que a quantidade normalize.

Em 2022, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), entregou ao MS “todo o quantitativo de Lamivudina 150 mg solicitado para este ano: 10.500 mil unidades farmacêuticas”.

Diante do aumento da demanda, o Ministério solicitou duas novas remessas emergenciais que, somadas, totalizam 17.385.000, representando 166% a mais do que a demanda inicial. “Dada a sua capacidade produtiva, Farmanguinhos assumiu o compromisso e antecipará a produção a fim de garantir o tratamento dos pacientes que necessitam do medicamento”, garante a Fiocruz.

A primeira parcela, com 4.899.960 unidades farmacêuticas, foi entregue no último dia 10. “Até 30 de outubro, a unidade entregará 4.475.040 comprimidos deste antirretroviral, conseguindo antecipar em 30 dias o fornecimento desta demanda”, aponta a Fundação. “As demais parcelas serão entregues ao longo de novembro e dezembro, conforme cronograma informado ao Ministério da Saúde.”

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