Mãe de santo de 81 anos defende tese de doutorado na UFPR
Iyagunã Dalzira defendeu a tese de doutorado com o tema "Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública"
13:36 | Set. 24, 2022
Aos 81 anos, a mineira Dalzira Maria Aparecida, conhecida no Candomblé como Iyagunã Dalzira ou Yá, defendeu sua tese do doutorado.
A pesquisa, que teve como tema “Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública”, foi apresentada na manhã dessa sexta-feira, 23, na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Ela iniciou os estudos aos 47 anos, no programa de Educação de Jovens e Ad ultos (EJA), e aos 63 começou o curso de Relações Internacionais.
Aos 72, Yá defendeu seu mestrado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, com uma dissertação sobre os saberes do Candomblé na contemporaneidade.
Hoje, aos 81, ela realizou sua defesa de doutorado, conforme informações do portal Carta Capital.
Yá faz parte da sétima geração de africanos que chegou ao Brasil e representa um dos principais símbolos do Paraná na luta pela defesa da tradição africana, da religiosidade e contra o racismo.
Segundo a página no Instagram "Empretecendo Curitiba", ela considera o título de doutora em Educação muito além do que uma conquista pessoal, mas um "divisor de águas para o conhecimento".
Luta contra o racismo
A luta contra o racismo de Yá começou após um episódio traumático vivenciado na adolescência. Antes disso, ainda não infância, ela relata não ter passado por nenhum tipo de situação parecida.
Segundo o portal Carta Capital, ainda adolescente, Iyagunã procurou, junto com uma amiga branca, um convento para saber se ambas poderiam se tornar freiras.
A freira do local, na época, afirmou que a amiga poderia, mas o mesmo não seria possível para Yá por ela ser "escurinha demais".
O episódio, então, a marcou profundamente, levando Iyagunã a carregar aquela dor por muitos anos sozinha.
Ela chegou, inclusive, a se revoltar contra Deus, fazendo questionamentos sobre o motivo da distinção entre pretos e brancos quando foram criados.
Aos 27 anos, na era de chumbo da ditadura, Yá se mudou para Curtiba com a família. Logo ela foi convidada para fazer parte de um movimento ligado à igreja católica, em defesa da população negra.
A partir de então, ela se tornou militante do núcleo que resultaria no Grupo União e Consciência Negra, responsável por fazê-la entender a importância da luta pela causa.
No decorrer da vida, ela nunca se casou, mas adotou sete crianças, sendo duas meninas e cinco meninos. Educar os filhos, para ela, foi a parte mais desafiadora da adoção, uma vez que alguns educadores não conseguiam lidar com crianças pobres, pretas e marginalizadas.
Com o doutorado, ela espera contribuir para a reconstrução de um mundo melhor.