Jornalistas negros nordestinos visitam EUA como convidados em programa de intercâmbio

Iniciativa reúne representantes de oito estados brasileiros, que se destacam na atuação antirracista na mídia. Do Ceará, a participante é Larissa Carvalho, do site Negrê

Doze jornalistas negros do Brasil foram selecionados para uma imersão cultural nos Estados Unidos. A iniciativa faz parte do programa International Visitor Leadership (IVLP), um intercâmbio profissional que busca conectar líderes globais, atuais e emergentes, com colegas profissionais dos EUA. Com duas semanas de intensa programação, este ano a iniciativa adota o tema "Promovendo a Diversidade e a Inclusão no Jornalismo”. Entre os profissionais selecionados para as experiências culturais estão a cearense Larissa Carvalho e o maranhense Raimundo Leite.

Fundado em 1940, o IVLP é um programa de intercâmbio profissional de prestígio patrocinado pelo governo dos Estados Unidos. Cada ano, líderes de várias áreas são selecionados para visitar o país e se reunir com outros profissionais e líderes para compartilhar ideias e criar pontes. Nesta edição do programa, em particular, jornalistas negros e negras do Brasil foram convidados para a iniciativa. O programa teve início no dia 11 e se estende até o dia 25 de junho.

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Não há aplicação para IVLP. Os participantes são indicados e selecionados anualmente pela equipe das Embaixadas dos EUA em todo o mundo. A jornalista cearense Larissa Carvalho, ex-repórter do O POVO, foi selecionada pelo consulado americano por seu papel atuante na mídia alternativa, participação em programas de capacitação, experiências profissionais e produções científicas. 

Carvalho é criadora e gestora de mídia no Site Negrê, um portal de mídia negra nordestina criado em 2020. No mesmo ano, ela também vivenciou um programa de estágio internacional na África do Sul. A jornalista também é autora de um livro-reportagem sobre racismo em Fortaleza e acumula experiência como coordenadora de jornalismo da TV Unifor, da Universidade de Fortaleza. 

Larissa Carvalho é cearense e uma das fundadoras do site Negrê
Larissa Carvalho é cearense e uma das fundadoras do site Negrê (Foto: Redes Sociais/Reprodução)

Segundo Larissa, a programação realizada pelos representantes brasileiros é bem corrida. Ela explica que, por dia, o grupo pode ter até três encontros com outros profissionais da área da comunicação. "As reuniões são ministradas por um palestrante, seja um jornalista, um membro de alguma organização ou um professor universitário. Houve rodas de conversa também. Não é uma programação fixa, cada dia é um pouquinho diferente", descreve a jornalista.

Os representantes brasileiros realizaram, ainda, visitas a universidades de prestígio. Segundo Larissa Carvalho, a experiência na Universidade da Carolina do Norte em Greensboro foi, até o momento, uma das mais significativas. A instituição é predominantemente composta por um corpo docente e discente negro. "Me deu muita esperança. Foi um momento que me deu muita vontade de voltar aqui para estudar", conta. O grupo também realizou visitas a pontos turísticos, como o Memorial de Martin Luther King e o Museu de História Afro-americana.

Além do Ceará, a iniciativa também reuniu jornalistas de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Amazonas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e do Maranhão, sendo este estado representado por Raimundo José Leite, quilombola e um dos criadores da TV Quilombo. Raimundo é morador do Quilombo Rampa, situado a 27 km de Vargem Grande, no interior maranhense. Fundada em 2017, ele explica que a TV Quilombo é uma iniciativa que surgiu com a proposta de ser diferente da mídia tradicional, evidenciando a luta por direitos e contra o preconceito.

Grupo de comunicadores visitol pontos culturais e universidades importantes para a história afro-americana
Grupo de comunicadores visitol pontos culturais e universidades importantes para a história afro-americana (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

"Essa mídia começa a partir de uma câmera de papelão. A gente botou na mente que ia criar essa TV como uma ferramenta de manter a nossa história quilombola viva", detalha Raimundo. Segundo ele, conectar-se com outros jornalistas pretos do Brasil é uma experiência enriquecedora. "[Conhecer] pessoas pretas que lutam pelo ideal preto a partir das suas realidades, em cidades diferentes, em meios de comunicação diferentes, que no final lutam pelas mesmas causas. Trocar experiências e, a partir daí, somar forças para cada dia mais defender nosso povo", celebra Raimundo.

Representatividade na mídia

Conforme Jeffrey Lodermeier, oficial de relações públicas do Consulado Geral dos EUA no Brasil, situado em Recife, a iniciativa mostra a importância de ter pessoas de todas as origens reportando notícias. "Nós acreditamos que fazer conexões pessoais e profissionais entre indivíduos é a melhor maneira de melhorar o entendimento entre nações e pessoas", aponta o oficial. "Reunir jornalistas negros dos dois países permite que eles compartilhem ideias e desafios e busquem uma maior inclusão de ideias e perspectivas na mídia, o que é bom para todos nós", diz Lodermeier.

A jornalista cearense declara ser grata por fazer parte da iniciativa, além de "ter tido conhecimento sobre muitas questões dos EUA, que envolvem essa temática [antirracista] e ver o quanto o Brasil está atrasado nesse assunto", diz Larissa Carvalho. "Não é querer valorizar o estrangeiro, é olhar para nossa realidade. Aqui nos Estados Unidos há diversas associações de jornalistas negros, criadas há muito tempo. Enquanto a gente está engatinhando em certas questões, eles já estão caminhando há mais tempo", explica.

Para Raimundo Leite, iniciativas como essa são importantes para a luta antirracista. "No momento que você ensina, você está aprendendo muitas coisas, ainda mais quando se trata da luta racial, que é um problema mundial", aponta o maranhense. "Iniciativas como essa fazem a gente se conectar, faz somar forças, montar estratégias, e refletir no que a gente tá fazendo ou deixando de fazer em favor do fim do preconceito", conclui. Ele aponta que a experiência de aprendizado do exterior vai contribuir para a melhoria da sua iniciativa jornalística.

Atualizada em 26/6/2022 às 14h51

 

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