Pela primeira vez, um dinossauro brasileiro aparece em uma produção audiovisual
O titanossauro ‘Austroposeidon magnificus’ é um dos maiores dinossauros do Brasil e apareceu no documentário Planeta Pré-Histórico, da Apple TVQuando se pensa em dinossauros, os primeiros nomes que surgem sempre são o Tiranossauro rex ou o Velociraptor, com aquele jeitão dos filmes de Jurassic Park. Poucas pessoas, entretanto, sabem citar o nome de algum dino brasileiro. Não é totalmente culpa da audiência: até então, filmes e séries só representavam espécies norte-americanas ou europeias.
Mas isso mudou nessa sexta-feira, 27, quando a série documental Planeta Pré-Histórico veiculou pela primeira vez um dinossauro brasileiro. Trata-se do titanossauro Austroposeidon magnificus, um saurópodeGrupo dos dinossauros pescoçudos com aproximadamente 25 metros de comprimento e, até agora, um dos maiores dinossauros do Brasil.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Quer conhecer mais dinossauros brasileiros? Acesse o site Mundo dos Fósseis, no O POVO+
“Eu tô incrédula até agora! Foi um choque!”, comemora a paleontóloga Kamila Bandeira, doutoranda no Museu Nacional do Rio de Janeiro e líder da pesquisa que descreveu o Austroposeidon. Descrita em 2016, a espécie é relativamente nova em comparação a tantas outras já apresentadas no País. Por isso, nunca passou na cabeça de Kamila que logo ele seria escolhido para estrear a presença brasileira no imaginário audiovisual global dos dinossauros.
Houve até um burburinho de que o Austroposeidon aparecia na produção da Apple TV e da BBC, mas a paleontóloga não deu muita bola. A cada dia que um novo episódio era lançado, a ausência do titanossauro reforçava que não seria dessa vez.
No último episódio, no qual o documentário apresenta as rotinas de animais do Cretáceo que viviam em florestas, o gigante aparece nos primeiros minutos. “Deve ser um saurópode qualquer”, tentou convencer-se. Mas quando o narrador sir David Attenborough pronuncia com todas as letras o nome Austroposeidon, a negação virou uma alegria sem fim.
“A primeira importância é se sentir representado. Porque quando tem esses documentários, são sempre os mesmos dinossauros, do T. rex, o Velociraptor… Então, quando começam esses documentários desse porte, que logo uma TV pode comprar e dublar, ver que tem um dinossauro brasileiro é importante”, explica.
Para ela, iniciativas do tipo permitem ao público conhecer e valorizar os patrimônios brasileiros. “Na maioria das vezes, as pessoas nem sabem o que a gente tem de patrimônio. E é por causa disso, porque não tem [filmes, séries]. A produção nacional [audiovisual] é muito pequena, até por falta de incentivo”, reforça.
Austroposeidon: aquele que faz terremotos no sul
Apesar de a produção do Planeta Pré-Histórico ter criado um Austroposeidon hiper-realista, boa parte da constituição do dinossauro é especulativa. Na realidade, os paleontólogos encontraram apenas duas vértebras do final do pescoço e uma vértebra dorsal pertencentes à espécie, além de outros fragmentos. Isso porque o fóssil foi, provavelmente, implodido durante a construção de uma rodovia na cidade de Presidente Prudente, São Paulo, na década de 50.
Por isso, a equipe do documentário usou fósseis de outros titanossauros próximos para especular a aparência do Austroposeidon. A reconstrução da cabeça, exemplifica Kamila, baseou-se no crânio do Tapuiassauro, um titanossauro brasileiro encontrado em Minas Gerais. “Apesar de não ser uma espécie muito próxima do Austroposeidon, dentro de todos os titanossauros quem tem o crânio melhor conservado é o Tapuia”, diz.
Mas além disso, os movimentos, os comportamentos e a forma que a produção interpretou que o saurópode brasileiro se relacionaria com o ambiente foram muito assertivos, considerando o que há de mais atualizado nas produções científicas.
Quer outra curiosidade? O nome Austroposeidon foi criado ao juntar as palavras Austro, que quer dizer Sul, e Poseidon, o deus grego dos mares e dos terremotos. Ou seja, Austroposeidon magnificus significa “aquele que faz terremotos no sul”. Um nome bem apropriado para um grandalhão de 25 metros ― ou mais, já que pesquisas mais recentes identificaram que o espécime estudado pela equipe de Kamila ainda não tinha alcançado sua altura total.
A espécie foi descrita por Kamila Bandeira e seu orientador Alexander Kellner, ambos do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN-UFRJ); Diogenes de Almeida Campos, coordenador do Museu de Ciências da Terra; Felipe Simbras, do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes, Petrobras); Gustavo Oliveiro, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); e Elaine Machado, da Universidade Estácio de Sá.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente