Chuvas intensas no Recife: há risco de algo parecido com a cheia de 1975? Relembre o que ocorreu

Choveu 145,53 mm em apenas um dia. A enchente de 1975 provocou a morte de 104 pessoas

Nos últimos três dias, as fortes chuvas vêm deixando suas marcas na Região Metropolitana do Recife. Alagamentos, deslizamentos de barreiras, queda de parte do teto de hospital, falta de energia em vários bairros, veículos enguiçados por conta de ruas e avenidas cheias de água, motoqueiro desaparecido após transbordamento de um canal em Olinda... Destruição que pode se agravar, já que nos próximos dias a previsão de continuidade das pancadas de chuvas.

Na cidade, a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) aponta o maior acúmulo de chuvas registrado da estação meteorológica do bairro de Dois Unidos, na Zona Norte, com 145,53 mm ao longo das últimas 24h (até 22h10).

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Durante o dia não foram registrados sinistros de trânsito com vítimas no Recife e, nesse período, 15 semáforos apresentaram problemas de funcionamento e foram reparados pelas equipes técnicas da CTTU. Agentes e orientadores também estiveram nas ruas para auxiliar na fluidez do trânsito.

Chuva deixou ruas alagadas em Olinda
Chuva deixou ruas alagadas em Olinda (Foto: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM)

Já a Emlurb registrou 20 ocorrências com árvores e queda de galhos durante o dia de hoje. Dezoito delas já foram concluídas pelas equipes do órgão e as outras duas estão com o serviço em andamento.

A Defesa Civil, que fechou seu balanço às 18h, diz que o Recife registrou 265 pessoas desabrigadas e 23 estão desalojadas, em Olinda 150 pessoas estão desabrigadas, no município de Camaragibe houve registro de 02 pessoas desalojadas, no município de Xexéu 12 pessoas estão desalojadas. E na cidade de Jaboatão dos Guararapes um deslizamento deixou uma criança ferida na comunidade de Sapucaia.

 

Tragédia de 1975

 

Devastação causada pelo transbordamento do Rio Capibaribe, nos dias 17 e 18 de julho de 1975
Devastação causada pelo transbordamento do Rio Capibaribe, nos dias 17 e 18 de julho de 1975 (Foto: Sérgio Bernardo/ Acervo JC Imagem)


É inevitável, porém, que nesses dias caóticos provocados pela grande quantidade de água que cai no Recife e nas cidades vizinhas, não nos recordemos da tragédia de 1975. Naquele ano, mais precisamente na madrugada do dia 17 e o início da tarde do dia 18 de julho - prestes a completar 47 anos -, a capital pernambucana sofreu a maior catástrofe natural de sua história, quando houve uma devastação causada pelo transbordamento do Rio Capibaribe.


A enchente de 1975 provocou a morte de 104 pessoas e deixou cerca de 350 mil desalojados, cobrindo 80% do território da cidade. Segundo laudos do Instituto de Medicina Legal (IML), a temível cheia matou as centenas de vítimas de várias formas... Foram identificados: 32 afogamento, 13 casos de morte súbita – a maioria por ataque cardíaco –, 28 mortes naturais (muitas por doenças gastro-intestinais, causadas pelo consumo de água contaminada) e até mesmo quatro suicídios, possivelmente motivados pelo pânico de ver a cidade sob as águas.



Recife ficou de joelhos perante a força da natureza. Foram 31 bairros e 370 ruas atingidas pelo transbordamento do Rio Capibaribe, por conta das fortes chuvas. Não à toa, os bairros que ficam na bacia do curso-d’água – Caxangá, Iputinga, Cordeiro, Casa Forte, Afogados, Madalena entre outros – foram os mais atingidos. Ruas inteiras ficaram embaixo d’água, houve desabamentos, milhares de flagelados, e o pior: vidas, de todas as classes sociais, foram interrompidas.

Se passaram quase 47 anos dessa tragédia, mas o cenário nos dias de chuva no Recife e na sua Região Metropolitana, infelizmente, segue bem contemporâneo. A cada vez que um alerta meteorológico é emitido, o medo toma conta da população pernambucana. A cidade, que em sua maioria foi construída após aterramento de manguezais, ainda carece de um investimento significativo para tais tragédias naturais, como uma melhor rede de drenagem pluvial, além de saneamento básico adequado.

Através das redes sociais, o prefeito do Recife, João Campos, deixou um alerta para a população: "A gente também pede que as pessoas evitem deslocamento na cidade. Vamos priorizar os serviços e as atividades essenciais. Nosso foco deve ser agora sobretudo com a segurança e a vida das pessoas", afirmou.

 

Do Jornal do Commercio para a Rede Nordeste

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