IBGE: Quase 3 milhões de brasileiros se identificam como homossexuais ou bissexuais

Questionário aplicado em 2019 perguntou sobre a orientação sexual de pessoas com 18 anos ou mais. É a primeira vez que o IBGE investiga a sexualidade da população em suas pesquisas domiciliares

11:10 | Mai. 25, 2022

Por: Marcela Tosi
Levantamento inédito no Brasil considera a autodeclaração das pessoas com 18 anos ou mais. IBGE aponta limitações da pesquisa e necessidade de continuar estudos. (foto: Fabio Lima/ O POVO)

A população de homossexuais ou bissexuais no Brasil é de pelo menos 2,9 milhões de pessoas. É o que indicam resultados da Pesquisa Nacional de Saúde em 2019 e divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 25. O número abrange apenas as pessoas com 18 anos ou mais e representa, aproximadamente, 1,8% desse contingente.

Esse percentual foi maior entre os mais jovens (18 a 29 anos de idade), alcançando 4,8% de pessoas que se afirmaram homossexuais ou bissexuais. As proporções são menores conforme as faixas etárias aumentam, chegando a apenas 0,2% entre aqueles com mais de 60 anos.

“É a primeira vez que o IBGE investiga a orientação sexual autodeclarada da população adulta. Então, a PNS dá uma primeira visibilidade estatística para as pessoas que se autodeclaram homossexual ou bissexual, em âmbito nacional”, aponta Maria Lúcia Vieira, coordenadora da pesquisa. Até então, a estatística disponível sobre essa temática no Instituto era somente a de casais do mesmo sexo.

Os pesquisadores explicam ainda que a pergunta “Qual é sua orientação sexual?” foi incluída ao final do Módulo de Atividade Sexual, destinado a pessoas maiores de idade. As opções de resposta foram: heterossexual; homossexual; bissexual; outra orientação sexual; não sabe; e recusou-se a responder.

Outro ponto que chama a atenção é que 3,6 milhões de pessoas não quiseram responder, número maior que o total das que se declararam homossexuais e bissexuais. “O número pode estar relacionado ao receio do entrevistado de se autoidentificar como homossexual ou bissexual. Diversos fatores podem interferir na verbalização da orientação sexual, como o contexto cultural, morar em cidades pequenas, o contexto familiar, se sentir inseguro para falar sobre o tema com uma pessoa estranha, a desconfiança com o uso da informação, a indefinição quanto a sua orientação sexual, a não compreensão dos termos homossexual e bissexual, entre outros”, analisa Maria Lucia.

Escolaridade, raça e renda

 

Considerando a escolaridade, 3,2% das pessoas com nível superior completo identificaram-se como homossexuais ou bissexuais. Já entre aquelas sem instrução escolar ou com nível fundamental incompleto, apenas 0,5% se declararam dessa forma. A proporção de pessoas que afirmaram não saber ou não responderam à pergunta foi maior entre os brasileiros com baixa escolaridade.

Ao avaliar os resultados por raça, não foi verificada diferença estatisticamente significativa: os percentuais de homossexuais ou bissexuais foram de 1,8% entre as pessoas brancas e 1,9% quando se consideram as pessoas pretas e pardas.

Quanto ao rendimento domiciliar, os maiores percentuais de pessoas autodeclaradas homossexuais ou bissexuais foram observados nas duas classes de rendimento mais elevadas. Na área urbana, 2% das pessoas informaram ser homossexuais ou bissexuais; já na área rural, esse percentual ficou em 0,8%.

O Instituto ressalta que as estatísticas apresentadas ainda são experimentais uma vez que os “dados referentes à orientação sexual encontram-se ainda sob avaliação por não terem atingido um grau completo de maturidade em termos de harmonização, cobertura ou metodologia”. Os dados têm um intervalo de confiança de 95%.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é um inquérito de base domiciliar e âmbito nacional, elaborado pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE. A primeira edição foi executada em 2013. Na segunda edição, em 2019, os pesquisadores visitaram 108.525 domicílios e fizeram 94.114 entrevistas.

Comparação com outros países

 

A publicação do IBGE traz ainda uma comparação dos resultados da pesquisa com levantamentos feitos na Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Reino Unido. Foram considerados inquéritos domiciliares de base populacional que utilizaram o conceito da orientação sexual com base na autoidentificação da população adulta.

População LGBTQIA+ fora do Censo

 

Um levantamento de informações sobre a população LGBTQIA+ nunca foi realizado no Brasil e é uma reivindicação antiga de movimentos sociais e pesquisadores no País. Em março, o Ministério Público Federal ingressou com uma ação civil pública na Justiça Federal do Acre questionando o IBGE sobre a ausência de perguntas sobre a população LGBTQIA+ no Censo Demográfico que será realizado em 2022.

Em resposta, o Instituto informou que o Censo “não é a pesquisa adequada para sondagem ou investigação de identidade de gênero e orientação sexual”.

"A metodologia de captação das informações do Censo permite que um morador possa responder por ele e pelos demais residentes do domicílio. Pelo caráter sensível e privado da informação, as perguntas sobre a orientação sexual de um determinado morador só podem ser respondidas por ele mesmo", acrescentou o órgão.