Mesmo com pandemia, festas de Carnaval acontecem em estados brasileiros; veja fotos

Pólos tradicionais das festividades no Brasil — Rio de Janeiro, Bahia, e Pernambuco — lidaram com as restrições impostas pelas medidas sanitárias para continuar com os festejos. Eventos clandestinos e sem respeito às regras definidas, contudo, também foram realizados

21:47 | Mar. 01, 2022

Por: Leonardo Maia
Milhares se reuniram em eventos clandestinos nas ruas do Centro do Rio (foto: CARL DE SOUZA / AFP)

O Carnaval de 2022 é mais um para ser lembrado por sua ausência. Diante das consequências da pandemia da Covid-19, a tradicional euforia em observar as imensas festas de rua se transformou em preocupação com a propagação do vírus, que ainda segue causando mortes e casos graves da doença. Nas últimas 24 horas, por exemplo, foram computados 297 óbitos e 23,5 mil novos casos, de acordo com atualização do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Mesmo diante das proibições por parte de governos estaduais, algumas festividades aconteceram de forma legal, obedecendo às restrições impostas pelas administrações. Houve, porém, aqueles que não respeitaram as normas e participaram de blocos clandestinos. No Rio de Janeiro, o Carnaval foi oficialmente adiado pela prefeitura para abril deste ano, devido ao avanço da variante Ômicron e da retomada de casos e mortes. Apesar disso, foi autorizada a realização de eventos privados, com apresentação do passaporte vacinal e protocolos sanitários.

A Liga das Escolas de Samba (Liesa) organizou, na noite do sábado, um evento na Cidade do Samba em que escolas se apresentaram. Imperatriz Leopoldinense, São Clemente, Vila Isabel, Salgueiro e Beija-Flor fizeram apresentações no palco, com cerca de 150 integrantes cada. Eram passistas, ritmistas, baianas, mestre-sala e porta-bandeiras e Velhas Guardas. Eles cantaram seus antigos sucessos, mas também apresentaram os sambas compostos para este ano. Foi uma prévia do que será o desfile oficial de 2022, transferido para o feriado de Tiradentes.

Além disso, as agremiações fizeram pequenos desfiles na pista que circunda a praça central do espaço, voltado à produção de alegorias e fantasias. A pista ganhou um tratamento similar ao recebido pelo sambódromo, com pintura e iluminação cênicas. Houve até queima de fogos abrindo apresentações, como na Marquês de Sapucaí. Segundo os organizadores, o evento reuniu cinco mil pessoas. Houve ainda eventos fechados nas quadras de escola de samba. O CarnaPortela, por exemplo, contou com a apresentação da cantora Alcione.

Para os blocos que não puderam se apresentar na rua, foi permitida a realização de bailes fechados, também com apresentação do passaporte vacinal. A alternativa foi utilizada pelo bloco Cordão da Bola Preta, um dos mais tradicionais do Carnaval carioca. Durante os quatro dias, estavam previstas 13 apresentações, sendo uma delas na quadra da Portela, em Madureira, bairro da Zona Norte da cidade.

No entanto, pelo menos oito blocos de carnaval clandestinos foram desmobilizados pelo poder municipal durante o feriado, especialmente na região do Centro do Rio. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria de Ordem Pública (Seop) informou que monitora, por meio do setor de inteligência, eventos irregulares. A Guarda Municipal atua na desmobilização desses eventos. Os órgãos pedem "a conscientização e a colaboração da população para evitar participar de eventos do tipo". 

 

As festas no Rio repercutiram na imprensa internacional. O portal britânico Daily Mail disse que milhares de brasileiros estão comemorando o Carnaval, enquanto “o resto do mundo está preocupado com a invasão da Rússia contra a Ucrânia”. “Enquanto o Brasil continua a festejar, outras nações estão mostrando solidariedade", criticou o portal. O New York Times, contudo, ressaltou que foliões que foram ao Rio de Janeiro levaram às ruas placas com mensagens contra o conflito.

Em São Paulo, que também teve o Carnaval oficialmente adiado para abril, as festividades não não deixaram de acontecer, assumindo forma diferente da tradicional. Na Vila Madalena, os blocos oficiais não puderam sair. Apesar disso, muitos bares fizeram do Carnaval o tema deste feriado. Não era difícil encontrar lugares decorados com confete, serpentina ou máscaras de Pierrot. Sambas e marchinhas foram a trilha sonora do feriado na região.

A ideia de chegar ao fim do mês de fevereiro sem vestir uma fantasia foi considerada inadmissível para algumas pessoas da capital paulista. "Acordei pensando na injustiça que é passar outro ano sem brincar o carnaval. Decidi, pelo menos, usar um adereço para não esquecer que o carnaval é agora", falou o empresário Rodrigo Benedecto, de 41 anos, fantasiado de marinheiro. O casal Ketlly e Rodrigo Dourado também foi para a rua. "O espírito do carnaval não depende de aglomeração. A gente ama Carnaval e decidiu sair para mostrar o Carnaval que está dentro da gente", afirmou Ketlly.

Na Praça Olavo Bilac, na Barra Funda, teve carnaval como se não houvesse amanhã ou restrições. Às 16 horas, a praça estava cheia, com direito a banda de instrumentos de sopro e muita gente fantasiada. Ao menos 250 pessoas ocuparam a praça no fim da tarde do domingo. No litoral norte paulista, a ocupação hoteleira (94%) foi a maior dos últimos cinco anos, segundo cálculos feitos por integrantes do setor.

 

Em Salvador, a tradicional festa com trio elétrico, vai e vem de foliões, bloquinhos e fanfarra no circuito Barra-Ondina não aconteceu pelo segundo ano seguido, por conta da pandemia. Ainda assim, os baianos e turistas lotaram as praias do local durante o feriado. Na tarde desta segunda-feira, era difícil encontrar espaço para outro guarda-sol na areia da Praia do Farol.

Nos estabelecimentos, algumas fanfarras tocavam as músicas clássicas do carnaval e as pessoas aproveitavam para dançar e pular, tentando aproveitar ao máximo as comemorações que tentavam substituir as festas de rua. Vários bairros da capital baiana, no entanto, tiveram denúncias por aglomeração e eventos irregulares.

A suspensão da folia organizada pela prefeitura de Salvador também fez com que os turistas migrassem da capital para cidades mais ao sul, como Porto Seguro, Trancoso e Ilhéus. "Perdemos, por enquanto, o turista folião, principalmente em Salvador, para onde ele vem mais focado no Carnaval de rua, mas vemos forte movimentação turística nos demais destinos do Estado. Estamos contando com outro público, mais familiar", afirma o secretário de Turismo da Bahia, Maurício Bacelar.

No meio do Carnaval, os baianos foram pegos de surpresa quando o som do tambor, do repique e da voz de grandes artistas ecoou, em frente a Praça Castro Alves. Carlinhos Brown, Gaby Amarantos, Xanddy do Harmonia do Samba e outros cantores participaram do evento ‘Paredão Tropical’, em que os protagonistas ficaram nas janelas do Edifício Sulacap, que está localizado na curva que conecta as avenidas mais famosas do Carnaval em Salvador. O evento foi transmitido pelo canal por assinatura Multishow e pelo Youtube da marca de cerveja Devassa.

Já em Pernambuco, centenas de pessoas aglomeraram nas ruas e ladeiras da cidade de Olinda, famosa pela tradicional festa nos Quatro Cantos com os bonecos gigantes. Bares lotados, pessoas sem máscara e sem respeito ao distanciamento social foram observadas durante o feriado, em desrespeito às leis sanitárias no combate à pandemia. Algumas pessoas que chegaram a improvisar blocos carnavalescos foram abordados, tiveram seus instrumentos musicais apreendidos e foram conduzidas pela delegacia, sendo autuadas em flagrante.

O município conta com um decreto que proíbe a realização de apresentações de música ao vivo e a utilização de equipamentos de som mecânico e eletrônico até às 6 horas da quinta-feira, 3. A fiscalização de Olinda foi organizada por um comitê formado por órgãos da administração municipal. No restante do estado, a praia do Pina, na Zona Sul do Recife, e o Buraco da Velha, em Brasília Teimosa, foram alguns dos locais que também registraram movimentação durante a folga.

(Com Agência Estado, Correio 24 horas e Jornal do Commercio, via Rede Nordeste)