Caso Moïse: família vai administrar quiosque onde crime ocorreu, diz Paes
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, divulgou a notícia hoje, 5. Cada quiosque será transformado em memorial em homenagem à cultura congolesa e africanaA família Moïse Mugenyi Kabagambe deve se tornar a permissionária do quiosque Tropicália, onde o congolês foi brutalmente assassinado no dia 24 de janeiro. A notícia foi divulgada pelo prefeito Eduardo Paes em seu perfil no Twitter na manhã deste sábado, 5.
De acordo com o secretário municipal de Fazenda, Pedro Paulo, em entrevista ao jornal Extra, a intenção é encontrar a família ainda esta tarde para iniciar os trâmites da permissão. "Estamos dispostos, junto à Orla Rio (que opera os quiosques), a fazer a permissão oficial imediatamente", afirmou.
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Ainda segundo informações do jornal carioca, a Orla Rio se comprometeu a isentar a família de Moïse do pagamento de aluguel (que pode variar de R$ 1 mil a R$ 12 mil mensais, segundo a concessionária) e a arcar com a revitalização do quiosque em parceria com a prefeitura. Além disso, o quiosque Biruta será administrado por alguma entidade ligada ao movimento negro.
Conforme o jornalista Ancelmo Gois em sua coluna no O Globo, os quiosques Biruta e Tropicália serão transformados em um memorial em homenagem à cultura congolesa e africana.
A reformulação dos quiosques pretende "ser uma reparação à família, uma oportunidade de inserção socioeconômica de refugiados, além de um ponto de transmissão da cultura africana”, tuitou o secretário nesta manhã.
Caso Moïse: protesto
Neste sábado, milhares de manifestantes foram às ruas pedindo justiça a Moïse e denunciando a xenofobia e o racismo. No Rio de Janeiro, o ato por justiça à Moïse foi marcado pela presença de, pelo menos, 5 mil pessoas, na Barra da Tijuca. Em São Paulo, pelo menos duas mil pessoas foram à avenida Paulista.
Protestos também aconteceram em Salvador, São Luís, Belo Horizonte e Brasília. Segundo informações do G1, na capital baiana, os manifestantes foram ao Largo do Pelourinho, Centro Histórico da cidade. O grupo Olodum participou do ato e “rufou os tambores em sinal de luto”.
Caso Moïse: o que se sabe até hoje sobre o crime
Até hoje, 5, três homens foram presos envolvidos no espancamento e na morte do imigrante congolês Moïse Mugenyl Kabagambe, de 24 anos de idade. Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o “Dezenove”; Brendon Alexander Luz da Silva, o “Totta”; e Fábio Pirineus da Silva, o “Belo”, foram detidos sob a ordem expedida pela juíza do Plantão Judiciário, Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz.
Segundo o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), os acusados foram identificados após o depoimento de testemunhas que presenciaram o espancamento, feito com barras de madeira. Além das testemunhas, as imagens das câmeras de segurança do quiosque mostraram que três homens participaram da sessão de violência contra Moïse, que foi brutalmente agredido a pauladas, após o início de uma aparente discussão.
Caso Moïse: familiares do congolês afirmam ter sofrido intimidação por PMs
Familiares do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos de idade, espancado até a morte na semana passada em um quiosque no Rio de Janeiro, afirmam que foram intimidados por dois policiais militares do 31º BPM, responsáveis pela investigação do crime.
As supostas ameaças, segundo os parentes do refugiado, ocorreram duas vezes pelos mesmos agentes, que os abordaram no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, em momentos que buscavam respostas sobre a motivação do assassinato. A informação da intimidação foi revelada pela Folha S. Paulo.
Segundo a família de Moïse, a primeira vez que os dois policias foram vistos foi na mesma noite do crime, dia 24 de janeiro. Imagens das câmeras de segurança do quiosque teriam filmado a dupla de PMs no local, no entanto, os recortes do vídeo das agressões, disponibilizadas pela Polícia Civil à imprensa, não mostram esse momento.
Por meio das gravações, três homens envolvidos no homicídio foram identificados e presos, sendo eles Fábio Pirineus da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Alexander Luz da Silva.
Caso Moïse: a primeira intimidação por PMs, segundo família
Ainda de acordo com os parentes de congolês, a primeira intimidação ocorreu um dia após o assassinato. Em busca de informações sobre o caso, eles afirmam ter ido ao quiosque Tropicália conversar com o dono do estabelecimento e pedir para ele fosse à Delegacia de Homicídios (DH) prestar depoimento, o que até aquele momento ainda não havia acontecido.
No entanto, na ocasião, os dois policiais da noite anterior apareceram e começaram a pedir que os parentes de Moïse apresentassem seus documentos. Logo em seguida, os PMs pediram para que o dono do estabelecimento não desse nenhuma informação à família, já que a investigação seria realizada pela Polícia Civil. Após a inibição, os agentes exigiram que os parentes de Moïse fossem embora do local.
Caso Moïse: a segunda intimidação por PMs, segundo família
A segunda intimidação ocorreu no sábado da semana do assassinato, dia 29 de janeiro, durante um protesto em frente ao quiosque Tropicália. Na ocasião, cerca de 10 pessoas faziam o ato, quando foram surpreendidos novamente com a presença dos dois policiais, que voltaram a pedir documentos e a fazer perguntas sobre o motivo da manifestação. Os familiares de Moïse consideraram a abordagem e perguntas intimidatórias.
Caso Moïse: o que diz a Polícia?
Quando questionados sobre as supostas intimidações dos agentes, a Polícia Militar respondeu em nota que “todas as questões pertinentes ao caso estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital”.
Caso Moïse: PM é apontado como patrão do refugiado
O policial militar Alauir Mattos de Faria foi intimado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro em inquérito que apura a morte do congolês Moïse Kabagambe. O agente é apontado por dois dos agressores do homem de 24 anos como dono do quiosque Biruta onde Moïse trabalhava e de outro estabelecimento vizinho, a Barraca do Juninho, ambos vizinhos ao quiosque Tropicália.
Os funcionários não mencionam participação do PM durante o crime ou a presença dele no local na noite do dia 24. A irmã de Alauir, Viviane Faria, afirma que o policial já prestou depoimento e refuta que o irmão seja dono dos estabelecimentos. Segundo ela, o Biruta está no nome de um tio idoso, Alauir apareceria pouco no local e é ela quem cuida dos atendimentos. "Meu irmão nunca respondeu por nada, é uma pessoa íntegra, nunca respondeu por nada nem em briga", disse ao portal UOL.
Caso Moïse: jogadores da seleção brasileira homenageiam o refugiado
Jogadores da seleção brasileira Antony e Gabigol fizeram questão de dedicar a vitória de 4 a 0 contra o Paraguai, na 16ª rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo, ao congolês Moïse Mugenyi, assassinado brutalmente na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, no último dia 24 de janeiro.
Nas redes sociais, o atacante do Ajax escreveu: "Pra você, Moïse!! Nossos pensamentos com você e sua família". O jogador do Flamengo foi enfático e pediu justiça em relação ao caso. "Esse não é o Rio que aprendi a amar e que me recebeu de braços abertos!!! Queremos justiça, não podemos normalizar crimes como esse!! Que seja feita justiça a Moïse Mugenyi e toda sua família! Estamos juntos de vocês", disse.
Caso Moïse: famosos e políticos expuseram o crime em suas redes sociais
Após os familiares de Moise Kabagambe, de 24 anos, denunciarem o bárbaro assassinato do jovem congolês, o caso ganhou repercussão. Famosos e políticos vieram a público se manifestar sobre o crime e os fatores que levaram até o homicídio do rapaz. O advogado Thiago Amparo, a ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB-RS) e o deputado federal Alessandro Molon são algumas das personalidades que expuseram o caso em suas redes sociais.
Entenda o Caso Moïse
Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos de idade, nasceu na República Democrática do Congo, ex-colônia belga. Ainda criança, acompanhado dos irmãos, veio ao Brasil na condição de refugiado político. O jovem, em vida, era diarista em um quiosque na praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e de acordo com testemunhas, em uma segunda-feira, dia 24/1 último, ele cobrou o pagamento de três diárias, pelas quais ele não havia recebido nada.
À ocasião da cobrança, Moïse, que atuava como ajudante de cozinha, foi espancado por pelo menos dois homens e veio a óbito no país que lhe havia acolhido. Conforme contou Yannick Kamanda, primo do jovem assassinado, Moise foi agredido às costas com taco de beisebol e, em seguida, teve as mãos e pernas amarradas para trás com uma corda e, assim, não pôde se defender. A mesma corda foi passada pelo pescoço do jovem, que, imóvel, teve suas costelas punhaladas com taco de beisebol e pedaços de madeira.
Os parentes do jovem só souberam de sua morte na manhã do dia 25 de janeiro, uma terça-feira, quase 12 horas após o assassinato brutal. A vítima foi enterrada nesse domingo, 30, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. O sepultamento foi marcado por protestos.
A Perícia realizada sugere que a causa da morte foi traumatismo torácico com contusão pulmonar gerada por ação contundente. Conforme laudo do IML, os pulmões do jovem tinham áreas hemorrágicas de contusão, além de vestígios de broncoaspiração de sangue devido às pauladas frequentes que lhe mataram.
Ao ver o vídeo do crime, Yannick disse que Moïse, ao ser ameaçado de agressão por um homem, correu para se defender com uma cadeira. O tal homem desaparece, mas logo volta acompanhado de outras pessoas. Em seguida, um rapaz dá-lhe um mata-leão e os outros se revezam nas agressões que chegaram a durar 15 minutos e que foram continuadas mesmo após o rapaz já estar desacordado.
"Muita covardia. Para ser bem sincero, foi muita maldade. Aquele sangue-frio que tiveram, de revezar a tortura, passando o taco de baiseball um para o outro, tem a ver com xenofobia", afirmou Yannick Kamanda, primo da vítima, em entrevista à Record TV Rio.
A comunidade congolesa no Brasil divulgou carta aberta de repúdio em cujo texto clama por justiça. No documento, é denunciado que o jovem Moise Mugenyi Kabagambe foi vítima de um crime hediondo que evidencia o racismo estrutural e a xenofobia no Brasil. Na carta, há ainda acusação de que cinco pessoas estavam envolvidas no ato de crueldade contra o jovem, entre as quais estava o próprio gerente do quiosque onde o rapaz trabalhava.
"Esse ato brutal não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas contra os estrangeiros. Por isso exigimos a justiça para Moise e que os autores do crime junto ao dono do estabelecimento respondam na justiça! Combater com firmeza e vencer o racismo, a xenofobia, é uma condição para que o Brasil se torne uma nação justa e democrática", dizia a carta.
A Polícia Militar afirmou que não foi acionada para conter o crime e que, no dia do ocorrido, agentes do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) viram uma ambulância e, por isso, foram verificar o que havia se passado no local. Quando chegaram, a vítima já estava sem vida.
Aos prantos, Ivana Lay, a mãe do jovem, falou à TV Globo sobre o assassinato do filho. “Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é uma vergonha. Mataram ele. Quero só justiça. Amarraram ele junto com as pernas e mãos. A polícia chegou depois de 20 ou 40 minutos”.
Caso Moïse: repercussão política e diplomática
Em face do acontecimento, a embaixada da República Democrática do Congo no Brasil disse que está em contato com familiares de Moïse e cobra pronunciamento do Itamaraty, exigindo, também, respostas sobre outros casos de imigrantes congoleses mortos aqui, neste país.
Em nota, o Itamaraty lamentou o falecimento de Moïse e expressou indignação com o ato do crime hediondo e disse ainda que espera que “o culpado ou os culpados sejam levados à Justiça no menor prazo possível”.
Equipes da ACNUR e da OIM, agências da ONU para Refugiados e imigrantes, respectivamente, e do Pares Cáritas RJ informaram que estão acompanhando a investigação do caso realizada pela Polícia Civil. As organizações enviaram por meio de nota as “sinceras condolências e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa residente no Brasil”.
À CNN, a assistente social Aline Thuler afirmou que muitos que vêm do Congo e de Angola sofrem racismo no Brasil e somente reconhecem o significado da palavra quando chegam aqui. “Eles não conhecem esse tratamento diferente. Primeiro perguntam se é porque não são brasileiros. Depois, relatam xingamentos e entendem que é porque são negros”, afirmou.
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