Assassinato de congolês: PM apontado como patrão é intimado pela Polícia Civil

Alauir Mattos de Faria foi apontado por dois dos agressores de Moïse Kabagambe como dono do quiosque onde o congolês trabalhava. Rapaz de 24 anos foi morto após cobrar seu salário no último dia 24 de janeiro

00:07 | Fev. 03, 2022

Por: Marília Freitas
Moïse, imigrante congolês no Brasil, foi amarrado e espancado até a morte no Rio de Janeiro (foto: Reprodução/Redes Sociais )

O policial militar Alauir Mattos de Faria foi intimado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro em inquérito que apura a morte do congolês Moïse Kabagambe. O PM é apontado por dois dos agressores do homem de 24 anos como dono do quiosque Biruta onde Moïse trabalhava e de outro estabelecimento vizinho, a Barraca do Juninho, ambos vizinhos ao quiosque Tropicália, onde o rapaz foi morto a pauladas após cobrar seu salário no último dia 24 de janeiro. As informações são do UOL.

Dois dos três agressores trabalhavam nos quiosques de Alauir, vizinhos ao Tropicália. Os funcionários não mencionam participação do PM durante o crime ou a presença dele no local na noite do dia 24. A previsão era de que o depoimento do policial fosse colhido nesta quinta-feira, 3. Mas a irmã de Alauir, Viviane Faria, informou, em entrevista ao UOL, que o policial já prestou depoimento nesta quarta-feira, 2. Inquérito continua em sigilo pela Polícia Civil.

Viviane ainda refuta que o irmão seja dono dos estabelecimentos. Segundo ela, o Biruta está no nome de um tio idoso, Alauir apareceria pouco no local e é ela quem cuida dos atendimentos. "Meu irmão nunca respondeu por nada, é uma pessoa íntegra, nunca respondeu por nada nem em briga", disse ao portal.

Segundo Viviane, um dos homens apontados como agressores de Moise, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, prestava serviço como garçom freelancer no quiosque há cerca de um mês. Conforme informações repassadas por ela, os funcionários ganham por comissão, por meio da prática do "cardapear", que consiste em oferecer o cardápio aos clientes ali presentes. "Muitos deles acabam dormindo na praia, pois moram muito longe e não querem gastar com passagem e combustível", detalhou.

A Polícia Civil colheu o depoimento de Carlos Fábio da Silva Muzi, dono do Tropicália, na última terça. A polícia disse que não há indícios de seu envolvimento no crime e que Muzi colaborou com as investigações. Segundo ele, conhecia os agressores do congolês apenas de vista. O homem afirmou que Moïse também trabalhava no esquema de freelancer para a Biruta havia três semanas, logo quando deixou de ser funcionário do Tropicália. Viviane negou que Moïse fosse seu funcionário, mas disse que mantinham um bom relacionamento.

Prisões decretadas

A Justiça do Rio de Janeiro decretou a prisão temporária de três acusados de participarem do assassinato do congolês Moïse Kabagambe. Os três homens foram presos na terça-feira, 1º. Os nomes deles ainda não foram divulgados oficialmente, e o caso tramita em sigilo.

A autorização da prisão foi concedida pela juíza Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz, do Plantão Judiciário. O trio foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, por impossibilitar a defesa da vítima e por uso de meio cruel.

Um dos presos é Alisson Cristiano Alves de Oliveira, de 27 anos, que se apresentou à polícia na tarde de terça-feira. Antes, ele gravou um vídeo admitindo a participação nas agressões que resultaram na morte de Moïse. Negou, porém, a intenção de matá-lo.

"Eu sou um dos envolvidos na morte do congolês. Quero deixar bem claro que ninguém queria tirar a vida dele, ninguém quis fazer injustiça, porque ele era negro ou alguém devia a ele. Ele teve um problema com um senhor do quiosque do lado, a gente foi defender o senhor, e infelizmente aconteceu a fatalidade dele perder a vida", afirmou Alisson no vídeo.

Outros dois homens, conhecidos pelos apelidos Tota e Belo, também foram identificados como participantes do espancamento e assassinato do congolês. Ele levou pauladas e golpes de taco de beisebol e chegou a ser amarrado enquanto era agredido.