Moïse, congolês espancado e morto no Rio: o que se sabe sobre caso até hoje
Moïse, imigrante congolês no Brasil, após cobrar salário atrasado foi amarrado e espancado até a morte no Rio de Janeiro. Confira o que se sabe sobre caso até hoje
23:48 | Fev. 01, 2022
Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos de idade, nasceu na República Democrática do Congo, ex-colônia belga. Ainda criança, acompanhado dos irmãos, veio ao Brasil na condição de refugiado político. O jovem, em vida, era diarista em um quiosque na praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e de acordo com testemunhas, em uma segunda-feira, dia 24/1 último, ele cobrou o pagamento de três diárias, pelas quais ele não havia recebido nada.
À ocasião da cobrança, Moïse, que atuava como ajudante de cozinha, foi espancado por pelo menos dois homens e veio a óbito no país que lhe havia acolhido. Conforme contou Yannick Kamanda, primo do jovem assassinado, Moise foi agredido às costas com taco de beisebol e, em seguida, teve as mãos e pernas amarradas para trás com uma corda e, assim, não pôde se defender. A mesma corda foi passada pelo pescoço do jovem, que, imóvel, teve suas costelas punhaladas com taco de beisebol e pedaços de madeira.
Os parentes do jovem só souberam de sua morte na manhã do dia 25 de janeiro, uma terça-feira, quase 12 horas após o assassinato brutal. A vítima foi enterrada nesse domingo, 30, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. O sepultamento foi marcado por protestos. Confira abaixo o que se sabe sobre o caso até hoje:
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A Perícia realizada sugere que a causa da morte foi traumatismo torácico com contusão pulmonar gerada por ação contundente. Conforme laudo do IML, os pulmões do jovem tinham áreas hemorrágicas de contusão, além de vestígios de broncoaspiração de sangue devido às pauladas frequentes que lhe mataram.
Ao ver o vídeo do crime, Yannick disse que Moïse, ao ser ameaçado de agressão por um homem, correu para se defender com uma cadeira. O tal homem desaparece, mas logo volta acompanhado de outras pessoas. Em seguida, um rapaz dá-lhe um mata-leão e os outros se revezam nas agressões que chegaram a durar 15 minutos e que foram continuadas mesmo após o rapaz já estar desacordado.
"Muita covardia. Para ser bem sincero, foi muita maldade. Aquele sangue-frio que tiveram, de revezar a tortura, passando o taco de baiseball um para o outro, tem a ver com xenofobia", afirmou Yannick Kamanda, primo da vítima, em entrevista à Record TV Rio.
A comunidade congolesa no Brasil divulgou carta aberta de repúdio em cujo texto clama por justiça. No documento, é denunciado que o jovem Moise Mugenyi Kabagambe foi vítima de um crime hediondo que evidencia o racismo estrutural e a xenofobia no Brasil. Na carta, há ainda acusação de que cinco pessoas estavam envolvidas no ato de crueldade contra o jovem, entre as quais estava o próprio gerente do quiosque onde o rapaz trabalhava.
"Esse ato brutal não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas contra os estrangeiros. Por isso exigimos a justiça para Moise e que os autores do crime junto ao dono do estabelecimento respondam na justiça! Combater com firmeza e vencer o racismo, a xenofobia, é uma condição para que o Brasil se torne uma nação justa e democrática", dizia a carta.
A Polícia Militar afirmou que não foi acionada para conter o crime e que, no dia do ocorrido, agentes do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) viram uma ambulância e, por isso, foram verificar o que havia se passado no local. Quando chegaram, a vítima já estava sem vida.
Aos prantos, Ivana Lay, a mãe do jovem, falou à TV Globo sobre o assassinato do filho. “Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é uma vergonha. Mataram ele. Quero só justiça. Amarraram ele junto com as pernas e mãos. A polícia chegou depois de 20 ou 40 minutos”.
Moïse, congolês espancado e morto no Rio: repercussão política e diplomática
Em face do acontecimento, a embaixada da República Democrática do Congo no Brasil disse que está em contato com familiares de Moïse e cobra pronunciamento do Itamaraty, exigindo, também, respostas sobre outros casos de imigrantes congoleses mortos aqui, neste país.
Em nota, o Itamaraty lamentou o falecimento de Moïse e expressou indignação com o ato do crime hediondo e disse ainda que espera que “o culpado ou os culpados sejam levados à Justiça no menor prazo possível”.
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Equipes da ACNUR e da OIM, agências da ONU para Refugiados e imigrantes, respectivamente, e do Pares Cáritas RJ informaram que estão acompanhando a investigação do caso realizada pela Polícia Civil. As organizações enviaram por meio de nota as “sinceras condolências e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa residente no Brasil”.
À CNN, a assistente social Aline Thuler afirmou que muitos que vêm do Congo e de Angola sofrem racismo no Brasil e somente reconhecem o significado da palavra quando chegam aqui. “Eles não conhecem esse tratamento diferente. Primeiro perguntam se é porque não são brasileiros. Depois, relatam xingamentos e entendem que é porque são negros”, afirmou.
Moïse, congolês espancado e morto no Rio: Investigação da Polícia
A Polícia Civil do Rio de Janeiro já recebeu imagens de câmeras de segurança que vão ajudar a esclarecer o assassinato do congolês Moïse Kabamgabe. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da capital fluminense. Segundo a última nota divulgada, após a análise das imagens de câmeras de segurança, os agentes afirmaram que irão prender os autores do crime e, embora saibam de apelidos de possíveis envolvidos, ainda não identificaram os responsáveis pelas agressões.
Até agora, a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) já ouviu oito testemunhas, entre parentes do rapaz e frequentadores do quiosque. Conforme o delegado Leandro Costa, à frente da investigação do caso, "as imagens são nítidas". No entanto, ninguém foi preso até agora.
Familiares de Moïse realizaram uma manifestação pacífica no último sábado, 29 de janeiro, em frente ao quiosque. Eles requerem investigações rígidas sobre o caso.
A DHC enviou um ofício à embaixada da República Democrática do Congo em que afirma estar investigando a morte do rapaz com rigor e a Polícia Civil disse que está prestes a resolver o caso.