"Caribe amazônico": águas turvas geram preocupação em meio a alta no garimpo no Pará

O fenômeno tem preocupado moradores e agências de turismo, uma vez que a região é um dos destinos turísticos mais procurados da Amazônia

14:35 | Jan. 19, 2022

Por: Danrley Pascoal
'Caribe amazônico': águas turvas dos rios da região gera preocupação aos moradores em meio a alta no garimpo no Pará (foto: Erik Jennings Simões)

Nos últimos meses, quem visita o distrito de Alter do Chão, em Santarém (PA) tem se surpreendido negativamente com as águas turvas e barrentas das praias de areia clara que banham o Rio Tapajós. O local costumava ser uma ambiente de águas límpidas e azuladas, característica essa que rendeu o apelido carinhoso de "Caribe amazônico" ao local.

O fenômeno tem preocupado moradores e agências de turismo, uma vez que a região é um dos destinos turísticos mais procurados da Amazônia. A população teme os prejuízos econômicos que possam vir a ser causados pela falta de viajantes no distrito, além de problemas à saúde dos residentes de Alter do Chão.

"O Tapajós está morrendo! Águas barrentas, cheias de resíduos nocivos à saúde, estão sendo despejadas sem piedade alguma, em sua maioria pela mineração irregular de inúmeros garimpos ao longo do rio", disse a agência local de turismo Poraquê, em post no Instagram. Ao longo do rio Tapajós, existe o maior polo de mineração ilegal do Brasil.

Problemas causados pelo garimpo

Coordenadores da ONG Projeto Saúde e Alegria, os médicos Erik Jennings Simões e Caetano Scannavino, moradores de Santarém, fizeram fotos aéreas da região do Alter do Chão no mês de dezembro. Eles compartilharam as imagens e acenderam um alerta sobre as águas turvas do Tapajós.

Geralmente, as águas do Tapajós em Alter do Chão apresentam problemas entre dezembro e janeiro, mas é algo associado ao período de chuvas mais intensas. Quando o a precipitação diminui suas forças, as águas voltam a ficar azuladas. O fenômeno chama atenção por ter se iniciado já no último mês do ano. Scannavino acredita que o garimpo está reduzindo o período de tempo onde as águas ficam claras.

O garimpo no Tapajós ocorre desde 1980 e se intensificou pela falta de fiscalização do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mesmo ilegal, a atividade utiliza atualmente grandes máquinas para perfurar a terra às margens do rio. De acordo com o jornal Folha de São de Paulo, levantamento realizado de 2016 até o momento mostrou que o garimpo ilegal destruiu 632 quilômetros de rios dentro desses territórios.

Mercúrio contamina os peixes

Se não há certeza sobre o garimpo ser a causa das águas turvas do Alter do Chão, uma pesquisa da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará) identificou que a população ribeirinha de Santarém apresentou altos níveis de mercúrio no sangue, na região é tomada pela atividade de mineração. O mercúrio é utilizado para facilitar a aglutinação do ouro.

Nos rios, a substância contamina as águas e os peixes, principal proteína da alimentação dos moradores do local. Os animais contaminados numa região de garimpo às vezes se deslocam por vários quilômetros até o local da pesca e consumo.

O estudo analisou amostras de sangue de quase 500 pessoas, com idade entre 18 e 80 anos. São 80% dos moradores da cidade têm nível de mercúrio no organismo acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde.