Como homenagem, filha de agricultores leva abacaxi para a colação de grau
A venda da fruta, realizada pelos pais de Emylla de Sousa, ajudou a custear despesas da graduação de Enfermagem, em Teresina. Estudante levou fruta em homenagem aos parentesA maranhense Emylla de Sousa, de 23 anos, se formou em Enfermagem e decidiu homenagear seus pais durante a cerimônia de colação de grau do curso. Ao subir no palco para receber o diploma de conclusão do ensino superior, a jovem levou consigo um abacaxi simbolizando sua gratidão aos pais agricultores, Erislandia Alves de Sousa, de 42 anos, e José Airton Alves Silva, de 48 anos, que vendiam a fruta para custear despesas da graduação. Caso aconteceu na última sexta-feira, 26 de novembro.
Natural de São Domingos do Maranhão, Emylla sonhava desde criança em estudar em Teresina, município localizado a 243 km de distância. Visando apoiar e incentivar os estudos da filha, seus pais começaram a plantar abacaxi e vender na Ceasa de Teresina. Mesmo sem condições de ter uma plantação grande, o pouco que cultivavam e vendiam era o que trazia sustento a família, que possuía recursos financeiros limitados e baixos.
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"Desde pequena ela sonhava em estudar e, pra nossa comunidade, de dentro da roça, era um sonho quase impossível. E foi plantando abacaxi, mesmo em pequena quantidade, começamos a vender, fomos aumentando a plantação e passamos a vender em Teresina. Ela ia com a gente, via aquele movimento todo e foi então que esse sonho ficou mais intenso ainda, de morar em Teresina e fazer uma faculdade", relatou a mãe da enfermeira em entrevista ao G1.
Segundo Emylla, a escolha do curso de Enfermagem foi feita durante o ensino médio, após a realização de um teste vocacional e pesquisas sobre a carreira. Devido as limitações financeiras, a jovem vestibulanda sabia que deveria se dedicar para conseguir uma bolsa que custeasse seus estudos. Todo o esforço gerou frutos e ela conseguiu uma vaga pelo Fies no Centro Universitário Santo Agostinho. Em seguida, conseguiu uma bolsa de 70% pelo Prouni.
“A mensalidade não foi paga integralmente com a venda do abacaxi porque tinha a bolsa, mas minhas xerox do curso e todo o resto era da venda dos abacaxis. Eu mesma vendi muito abacaxi na faculdade, pros meus colegas. Meu pai compra, planta e vende na Ceasa. Quando não tem na cidade, ele compra até no Pará pra vender. Já aconteceu de ele vir, o carro quebrar na estrada e perder toda a carga, porque é muito perecível”, lembrou.
Dificuldades enfrentadas pela estudante
Mesmo com toda a ajuda de seus pais para mantê-la na capital custeando todas as despesas de moradia e alimentação, Emylla relata ter enfrentado diversas dificuldades. Por vezes, ela pensou em desistir, chegou a buscar a coordenação do curso, os professores e colegas, mas sempre foi incentivada a continuar perseguindo o sonho. De acordo com a professora doutora Karla Joelma Bezerra, coordenadora do curso de enfermagem da faculdade, a estudante sempre se destacou pela dedicação.
“Ela sempre foi muito comprometida, preocupada e muito interessada e curiosa em toda a graduação. Certamente vai ter muitas oportunidades para crescer profissionalmente na enfermagem e conquistar o espaço que merece, com a dedicação que demonstrou na graduação, a Emylla tem características fundamentais para a área que ela escolheu”, disse.
A mudança de cidade também exigiu que Emylla superasse um trauma. Vítima de abuso sexual aos 9 anos de idade, a jovem teve de enfrentar o desafio de morar sozinha em uma cidade desconhecida. "Eu era muito medrosa e tinha muito medo de sair de casa. Qualquer pessoa que olhasse para mim, principalmente homens, eu já ficava com medo do que ele estava pensando. Eu era muito insegura e me sentia culpada. Em 2015 teve o estupro coletivo em Castelo do Piauí e passava um filme na minha cabeça, eu sentia dor daquelas meninas", lembrou.
Com o passar do tempo e com o apoio de seu noivo, dos pais e com acompanhamento psicológico, Emylla tenta ajudar outras garotas que enfrentaram a mesma situação. Devido a isso, a jovem enfermeira se especializou na área de estomaterapia dentro da enfermagem - que cuida do tratamento de feridas e fístulas. “Com muita luta estou conseguindo e hoje é uma das minhas metas, superar essa fase e ajudar outras meninas na mesma situação. Fazer enfermagem pra mim é ter esse objetivo de futuramente poder ajudar outras meninas a se curarem de abusos sexuais na infância ou adolescência”, disse.