Perto de lançar Marighella, Wagner Moura critica Bolsonaro: "Veio do esgoto da história brasileira"

"(...) Bolsonaro não é um alien, não veio de Marte. Ele é um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira...", disparou o ator e diretor Wagner Moura durante entrevista.

O ator Wagner Moura fez duras críticas a Jair Bolsonaro (sem partido) e à política cultural do governo, em entrevista para divulgar seu filme de estreia como diretor, o longa “Marighella”. Moura falou à Folha de S. Paulo a respeito dos desentendimentos com a Ancine (Agência Nacional do Cinema) que dificultaram o lançamento do filme e afirmou acreditar que Bolsonaro “está conectado ao esgoto da história brasileira”.

“Marighella” é uma produção de 2017, mas só deverá estrear no começo do mês de novembro deste ano nos cinemas brasileiros. O atraso, de acordo com o diretor, teve como principal causa os entraves impostos pela Ancine, com o objetivo de censurar o longa. Para Moura, o filme foi censurado pelo órgão por ser uma biografia de Carlos Marighella, guerrilheiro comunista que lutou contra a ditadura militar.

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“Eu tenho uma visão muito clara sobre isso e não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado. As negativas da Ancine para o lançamento e, depois, o arquivamento dos nossos pedidos não têm explicação. E isso veio numa época em que o Bolsonaro falava publicamente sobre filtragem na agência”, afirmou.

O longa foi exibido no Festival de Berlim, em 2019, onde foi ovacionado pelo público. O filme traz Seu Jorge na pele do guerrilheiro e escritor, e conta com nomes como Bruno Gagliasso, Adriana Esteves e Humberto Carrão no elenco. Sobre as expectativas para a estreia no Brasil, Moura acredita que pode haver certa resistência ao filme por parte do público, por conta do atual cenário que o país enfrenta, sendo governado por um gestor que com frequência ataca a cultura.

“A polêmica de "Marighella" é muito menos sobre o Carlos Marighella e a luta armada do que sobre o governo Bolsonaro. É um filme sobre um personagem histórico, de seu tempo; Bolsonaro é que é um personagem anacrônico”, disse durante a entrevista.

Em contrapartida, Moura também explica que atualmente, o público brasileiro já tem uma visão mais clara dos rumos negativos que a gestão de Jair Bolsonaro tomou. “Já está muito mais claro para os brasileiros a tragédia que é o governo Bolsonaro do que talvez em 2019, quando tentamos lançar "Marighella" pela primeira vez. Talvez, hoje, haja uma maior compreensão de que isso é um produto cultural brasileiro, que o fato de ser proibido, censurado, atacado pelo governo é um absurdo”, argumentou.

Quando questionado a respeito do cenário político que se aproxima do ano eleitoral, o ator afirmou que se eleição fosse hoje, “votaria em Lula”, e frisou a necessidade de defesa do sistema democrático. “Eu acho que o que está em jogo, hoje, é a democracia em si. O retrocesso foi tão grande que nós temos que olhar para a saúde da democracia, independentemente de quem seja o próximo presidente do Brasil. A gente tem que derrotar esse atraso. (...) Se a eleição fosse hoje, eu votaria no Lula. Eu reconheço ele, talvez, como o presidente mais importante da história do Brasil”.

Ao avaliar o governo de Bolsonaro, Moura continuou a disparar críticas, dando destaque a visão que o Brasil tem hoje no exterior. “O Brasil é um país que nem é mais uma piada internacional. Quando os estrangeiros vêm falar com a gente, eles falam com pena”, disse. Para o ator, Bolsonaro é um produto “conectado ao esgoto da história” do país.

“Eu costumo dizer que a vitória do Bolsonaro nas eleições foi trágica, mas pedagógica. Esse cortejo de mediocridade que vem atrás dele mostra que o Bolsonaro não é um alien, não veio de Marte. Ele é um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira, que nos mostra que o Brasil não é só um país de originalidade, de beleza, de potência, de diversidade, de biodiversidade. O favor que o Bolsonaro nos fez foi revelar esse outro Brasil, que estava camuflado; foi nos mostrar que nós também somos um país autoritário, violento, racista, de uma elite escrota”, concluiu.

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