Insegurança alimentar: entenda o que é e qual a situação do Brasil
O termo é utilizado para especificar quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para sua sobrevivência saudável. Entenda o que é insegurança alimentar e qual a situação do Brasil
12:29 | Out. 23, 2021
Em crise política e econômica, agravada pela condução da pandemia de Covid-19, o Brasil registra a cada dia cenas dolorosas de milhares de pessoas em dificuldades quanto ao que comer e ao que prover para a família. Difundida na década de 1970 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a segurança alimentar e nutricional (ou a ausência dela) é pauta urgente no País.
O POVO explica o que é a insegurança alimentar e traz um retrato de como estão se alimentando os brasileiros:
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O que é insegurança alimentar?
O termo é utilizado para especificar quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para sua sobrevivência saudável. Ou seja, quando, por qualquer razão, não há condições de se manter ao menos três refeições diárias saudáveis e em quantidade suficiente para suprir as necessidades do corpo.
Não é só a falta de comida, mas também a substituição de alimentos ricos em nutrientes e vitaminas por alimentos mais baratos na tentativa de compensar o preço. Tais alimentos têm alto teor de farinhas e açúcares. Isso traz impactos para a saúde, como enfraquecimento do corpo, prejuízos no desenvolvimento físico e mental e aumento da probabilidade de doenças.
Tipos de insegurança alimentar
Para fins de estudos, a insegurança alimentar é classificada em três tipos:
- Leve: quando há preocupação ou incerteza se haverá alimentos em casa no dia ou na semana seguinte ou quando a qualidade dos alimentos é comprometida para manter a quantidade necessária para a família
- Moderada: quando os adultos passam a comer menos ou pulam refeições para garantir a alimentação dos mais novos
- Grave: quando falta alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio
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A situação da insegurança alimentar no Brasil
Mais de metade dos brasileiros (55,2%) convivem com a insegurança alimentar. Em números absolutos pelo menos 116,8 milhões de brasileiros não têm acesso pleno e permanente a alimentos. Os dados são de estudo realizado em dezembro de 2020 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan) e avaliam o cenário nos três meses anteriores à coleta dos dados.
Segundo a pesquisa, não só a insegurança alimentar cresceu em todo País nos últimos anos como as desigualdades regionais seguem acentuadas. Em 2020, o índice de insegurança alimentar esteve acima dos 60% no Norte e dos 70% no Nordeste.
O resultado é semelhante ao encontrado pela pesquisa "Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil", realizada por um grupo de pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de Brasília. O grupo se debruçou também na situação do último trimestre de 2020.
O estudo indica que 59,4% dos lares brasileiros passam por algum nível de insegurança alimentar. A porcentagem representa 125,6 milhões de brasileiros. Os pesquisadores também indicam as desigualdades regionais. O Nordeste e o Norte têm os maiores níveis de insegurança alimentar: 73,1% e 67,7%, respectivamente.
Pesquisa: menos alimentos saudáveis
A pesquisa da Universidade Livre de Berlim mostra ainda que os brasileiros têm consumido menos alimentos saudáveis. No período analisado, houve uma redução de 44% no consumo de carnes, de 40,8% no consumo de frutas, 40,4% no de queijos e 36,8% no de hortaliças e legumes.
No geral, a variação no consumo de alimentos saudáveis oscilou entre 7% e 15%. Para as pessoas que já estavam em insegurança alimentar a redução foi significativamente maior: 85%.
Insegurança alimentar: o que está acontecendo no Brasil?
"A produção de comida de verdade, como alimentos frescos (frutas, verduras, legumes e cereais), vem tendo cada vez mais um custo elevado por escolhas governamentais; especialmente nos últimos cinco anos, pelo desestímulo contínuo às políticas de crédito à agricultura familiar", explica a nutricionista Melissa de Araújo, coordenadora da Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais. "É esse tipo de agricultura que, de fato, é responsável pela produção de alimentos para suprir às necessidades da população."
Ela aponta ainda que o acesso aos alimentos, sobretudo nas áreas urbanas, depende do acesso à renda. "Não podemos e não devemos ter uma visão simplista sobre a situação, acreditando que somente políticas assistencialistas de doação de cestas básicas serão capazes de resolver o problema", enfatiza.
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Paulo Petersen, membro do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia, explica ainda que a maior parte da produção na agricultura brasileira está destinada à produção de ração, combustíveis e exportação. "Hoje o governo deixou de regular as políticas de segurança alimentar e há uma inflação muito alta junto de níveis de desemprego cada vez mais altos", adiciona.
"Alimento não pode ser uma mercadoria como outra qualquer", defende. "É necessário incentivar a agricultura familiar, que segue sendo a principal fonte dos alimentos consumidos, e políticas que favoreçam a distribuição local", afirma, citando o Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, que estão sendo desmantelados.