Velório de mulher trans com gravata e cavanhaque em Sergipe gera revolta
Caso foi denunciado pela vereadora trans Linda Brasil, moradora de Aracaju e que conhecia a mulher trans, chamada de Alana Azevedo
17:11 | Out. 15, 2021
Com gravata e cavanhaque, uma mulher trans de Aracaju (SE) foi enterrada pela família na última segunda-feira, 11, vestida como homem, gerando revolta em pessoas da região. Os amigos de Alana Azevedo, como era chamada, publicaram fotos da mulher, capturadas durante o velório, dando visibilidade ao caso.
De acordo com o portal da Uol, o velório ocorreu na manhã de segunda-feira, 11, na casa da tia de Alana, em Aracaju. O corpo foi levado no período da tarde do mesmo dia para o cemitério de Japaratuba, localizado a 58 km da capital sergipana.
O caso foi denunciado pela vereadora trans Linda Brasil, que conhecia Alana e também mora em Aracaju. Por meio de uma publicação feita no Instagram na terça-feira, 12, ela expôs a situação e considerou a atitude tomada pela família como crime de transfobia.
"Basta de romantização de relações familiares que desrespeitam e negligenciam nossas vidas, identidades e existências. É por conta de casos assim que existem tantos crimes contra crianças, adolescentes, mulheres e pessoas LGBTQIA+ de maneira geral", escreveu a vereadora em trecho da publicação.
Ela também cita na publicação o artigo 3º da Constituição do Estado de Sergipe, que garante "total proteção contra discriminação por motivo de raça, cor, sexo, idade, classe social, orientação sexual, deficiência física, mental ou sensorial, convicção político-ideológica, crença em manifestação religiosa, sendo os infratores passíveis de punição por lei".
Alana morava sozinha em Santos Dumond, bairro periférico de Aracaju. Ela residia em uma casa simples e passava por necessidades, pegando todo mês uma das cestas básicas distribuídas pela Casa Janaína Dutra, instituição de ajuda e amparo a pessoas com HIV.
De acordo com Jéssica Taylor, diretora da organização Transunides, Alana não compareceu para retirar as cestas nos últimos dois meses, levantando a suspeita de que algo poderia ter acontecido com ela. A mulher trans tinha HIV e, segundo relatos, sofria de depressão.
A travesti Dani de Aracaju, outra amiga de Alana, informou que as duas eram profissionais do sexo e trabalhavam à noite nas ruas da capital. Ela relatou que o quadro da amiga piorou muito nas últimas semanas em decorrência do HIV.
A mulher trans já não reconhecia mais as pessoas e, por estar acamada, a barba acabou crescendo, e os familiares não tiraram. De acordo com Dani, a família de Alana é evangélica, com um pai muito rigoroso e o irmão religioso. A mãe morreu, sendo esse o motivo de ela ter desenvolvido depressão, segundo relatos.
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