Pastor processa pessoas que questionaram cor da pele do filho recém-nascido

Em entrevista exclusiva ao O POVO, Marcos Davis, pai do pequeno Noah, deu detalhes do atual andamento do processo. Próximo passo agora é a identificação dos perfis que fizeram comentários racistas para intimação

22:25 | Set. 22, 2021

Por: Mirla Nobre
Marcos Davis e Débora Davis sofreram uma série de ataques racistas de pessoas questionando a cor da pele do filho, o pequeno Noah (foto: Divulgação/Marcos Davis)

Após o nascimento do filho do casal Marcos Davis, 30, e Débora Davis, 25, no dia 19 de agosto, a família vem sofrendo uma série de ataques racistas nas redes sociais de pessoas questionando o filho deles, o pequeno Noah, por ele ter um tom de pele mais claro do que os pais. O caso ganhou repercussão nacional após Marcos publicar uma nota de repúdio sobre o caso. Com a visibilidade da situação, a família pensou que os ataques iam cessar, no entanto, após a publicação do primeiro ensaio fotográfico com o filho, uma segunda onda de ataques ocorreu. Agora, eles decidiram processar os perfis que fizeram comentários racistas.

Em entrevista ao O POVO, o pastor Marcos Davis deu detalhes do atual andamento do processo judicial e disse o que o fez mudar de ideia para denunciar o caso. “O que mudou meu pensamento e a minha decisão de correr atrás, de me integrar a essas vozes que já lutam por esse tipo de situação, por esses crimes, foi porque continuaram os ataques de forma muito ofensiva, muito injusta e repugnante”, disse.

Dentre os comentários feitos nas publicações, estão frases como: “Estranho a cor do garoto em relação aos pais”, "Não tem cabimento pais negros gerarem filho branco”. Eles deram entrada no processo no início de setembro, logo após a publicação das fotos do ensaio do casal com o pequeno Noah, no dia 8 de setembro.

Segundo Marcos, que mora em Goiânia com a esposa, Débora, um processo está em andamento e também foi instaurado um inquérito junto ao Grupo Especializado no Atendimento à Vítima de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância de Goiás (Geacri). A família chegou a reunir os prints dos comentários racistas e os entregou à Polícia Civil, por meio da Geacri, para auxiliar na identificação dos criminosos.

Ao O POVO, Marcos deu detalhes dos novos andamentos do processo. “O inquérito está instaurado pela Polícia Civil, e o próximo passo agora é a identificação dos perfis para intimação. A Polícia Civil está em contato com o Facebook, que é responsável pelo o Instagram também, e eles vão passar todas as informações desses perfis, dos reais e dos fakes, onde eles têm acesso através de um ID para localizar o endereço, aparelho e todas as informações necessárias para localizar essas pessoas”, disse.

Marcos foi informado que mesmo que as pessoas que realizaram os ataques sejam de outras cidades, isso não impede a possibilidade de elas serem indiciadas por crime de injúria racial e difamação.

“Agora é identificar os perfis, as pessoas que estão por trás dos perfis para intimar essas pessoas, independente de elas estarem em Goiânia, a cidade onde eu moro, ou em outros estados do Sul, Sudeste, Norte ou Nordeste, essas pessoas serão indiciadas pelo crime”, informou o pastor, que também revelou que a expectativa é que as buscas iniciem nesta quinta-feira, 23, ou na próxima segunda-feira, 27.

Rede de apoio

As redes sociais também foram caminho para que a família recebesse uma rede de apoio de amigos, órgãos públicos e pessoas de diversas regiões. “A gente recebeu muito apoio nas redes sociais. Recebemos muito contato de órgãos do estado de Goiás, e foi por intermédio deles que a gente conseguiu entender toda essa situação”, disse Marcos.

Uma ajuda psicológica também foi reforçada à família por meio de amigos da igreja que a família frequenta. O pastor revela que ele e a esposa passaram muita dificuldade antes e depois de se casarem, e com isso ambos adquiriram um amadurecimento, que os ajudou a enfrentar a situação de forma mais tranquila.

De acordo com Marcos, ele não poderia deixar de ser mais uma voz silenciada por criminosos que usam um perfil falso para destilar ódio na internet. “Eu penso que todas as pessoas que sofrem esse tipo de ataque têm que expor a situação, seja com repercussão ou não, com Boletim de Ocorrência ou inquérito. Toda vez que alguém se cala diante de uma situação como essa, essas pessoas ganham mais força para atacar, e elas não podem ganhar força, pelo contrário, a força delas têm que ser diminuída através da lei, através da justiça", pontua.

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