Número de alunos afastados da escola na pandemia chega ao patamar dos anos 2000
Crianças com idade entre 6 e 10 anos, que já tinham a educação quase universalizada, foram as mais afetadas
11:13 | Abr. 29, 2021
As consequências da pandemia da Covid-19 abrem feridas quase saradas no Brasil: cerca de 5,1 milhões de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos terminaram 2020 afastadas da escola. O quantitativo representa cerca de 13,9% dessa população em todo o Brasil. O valor absoluto é próximo ao registrado no início dos anos 2000. O maior impacto está na faixa etária de 6 a 10 anos, onde o acesso à educação era quase universalizado e tinha o menor percentual de exclusão em 2019 entre as faixas etárias.
Os números constam em relatório divulgado na manhã desta quinta-feira, 29, fruto da parceria entre Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Para chegar ao número, os técnicos utilizaram a Pnad Covid-19 de novembro passado, quando cerca de 1,5 milhão de crianças e adolescentes (entre 6 e 17 anos) afirmaram não frequentar a escola. Somado a isso, 3,7 milhões responderam que, na semana anterior ao questionário, a escola não havia disponibilizado atividades para realizar em casa. Desse total, ainda foram suprimidos 124 mil respondentes que já concluíram o ensino médio ou equivalente.
Aqueles com 6 a 10 anos representavam 41% dos que estavam fora da escola, sendo este o maior percentual entre as idades, seguido dos adolescentes de 15 a 17, com 31,2%. Por fim, os juvenis entre 11 e 14 anos. Entre as regiões, o problema é mais incidente no Norte e no Nordeste, com 28,4% e 18,3% da população em idade escolar obrigatória afastada das redes de ensino, respectivamente.
Para Romualdo Portela, diretor de pesquisa e avaliação do Cepenc, a regressão é assustadora. "Esse grupo (6 a 10 anos) era minoritário entre os excluídos da escola antes da pandemia. Fomos bem sucedidos no passado recente. Reaparecer esse problema dá dimensão do desafio que temos pela frente. Voltaremos a encarar um problemas que já tínhamos equacionados ou ao menos reduzido".
Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil, diz que o Brasil pode perder uma geração. "É uma faixa que nos preocupa muito porque é a faixa da alfabetização, quando cria o vínculo com a escola e pode impactar a vida inteira desses adolescentes no futuro, podemos perder uma geração", avalia.