Enem 2020: média geral das áreas de conhecimento aumenta, mas não significa melhora real

Com exceção de Matemática e da prova de Redação, as outras áreas tiveram acréscimos em comparação com o Enem 2019. Contudo, especialista explica que isso se manifesta como reflexo da alta abstenção

14:35 | Abr. 01, 2021

Por: Lais Oliveira
Candidatos ao Enem podem verificar isenção de taxa (foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil)

Depois de registrar recordes de abstenções em 2020, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrou evolução nas médias gerais das áreas de conhecimento, com exceção de Matemática e da prova de Redação. No entanto, os acréscimos não significam melhorias reais; na verdade, reflete a alta taxa de faltosos.

Os resultados foram divulgados nessa segunda-feira, 29, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). De acordo com os dados, a área de Ciências da Natureza apresentou aumento de 12,59 pontos em 2020 em relação ao ano anterior. A proficiência média dos participantes cresceu de 477,8 para 490,39.

Nas Ciências Humanas, o incremento da média foi 3,64 pontos na comparação entre os dois anos. A média saiu de 508,0 para 511,64. A situação se repetiu no caso de Linguagens, códigos e suas tecnologias: a média passou de 520,9 para 523,98 entre os dois anos.

A área de Matemática e suas tecnologias apresentou queda na média geral, recuando de 523,1 em 2019 para 520,73 no ano seguinte — queda de 2,37 pontos. A prova de redação, corrigida de forma diferente das demais, também apresentou decréscimo em sua média geral: de 592,9 para 588,74.

Um olhar equivocado sobre os resultados poderia interpretar que houve uma melhora nos indicadores da maior parte das áreas de conhecimento. No entanto, é preciso lembrar que o Enem se baseia no sistema de correção chamado de Teoria de Resposta ao Item (TRI), que avalia o candidato dentro de um contexto geral, e não isoladamente.

Isto é, a TRI compara o desempenho dos participantes em comparação com o desempenho de todos os outros candidatos que também fizeram a mesma edição do Enem. Além disso, é necessário levar em conta que mais da metade dos inscritos na prova não compareceram em 2020.

O Exame teve 5.523.036 inscritos para a versão impressa, mas 51,6% faltaram. O número foi ainda maior para os 93.079 inscritos na primeira edição do Enem digital, com 68,5% de não comparecimento. Já no exame para adultos e jovens privados de liberdade, no Enem PPL, dos 41.864 inscritos a participação foi de 74,1%.

De 322.583 inscritos no Ceará, 154.545 (47,9%) faltaram ao primeiro dia de prova no ano passado, ocupando a quarta maior abstenção entre os estados nordestinos. 

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Relação entre abstenção e aumento de médias

 

Nesse cenário, o professor Wagner Andriola, professor da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Ceará (UFC) acredita que há algumas hipóteses para justificar o aumento nas médias do Enem 2020.

Ele supõe que os candidatos faltosos “são oriundos de grupos sociais mais fragilizados economicamente e, portanto, mais propensos à abstenção.” Nesse sentido, esses candidatos mais vulneráveis do ponto de vista social e econômico teriam “maior probabilidade de desempenhos inferiores aos candidatos de melhor situação social, econômica e escolar.”

“Com a elevada abstenção de candidatos oriundos de grupos sociais mais fragilizados economicamente, que têm majoritariamente desempenhos inferiores aos candidatos de melhor situação social, econômica e escolar, os valores médios das notas do Enem foram incrementados”, avalia Andriola, que também é pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com experiência em avaliação educacional.

Dessa forma, o professor ressalta que a pandemia causada pelo coronavírus acirrou quadro de injustiça social, econômica e educacional do Brasil. “A educação não melhorou, o sistema educacional não deu um salto de qualidade. Nada disso. Mesmo porque esses alunos estão recebendo aulas remotas com sérias lacunas”, conclui.

com informações da Agência Estado